Honra e Gloria aos que tão novos lá deixaram a vida. Foram pela C.C. S.-Manuel Domingos Silva!C.Caç. -1558- - Antonio Almeida Fernandes- Alberto Freitas - Higino Vieira Cunha-José Vieira Martins - Manuel António Segundo Leão-C.Caç-1559-Antonio Conceição Alves (Cartaxo) -C.Caç-1560-Manuel A. Oliveira Marques- Fernando Silva Fernandes-José Paiva Simões-Carlos Alberto Silva Morais- Luis Antonio A. Ambar!~

O BATALHÃO CAÇ.1891 CUMPRIMENTA EFUZISAMENTE TODOS OS QUE NOS VISITAM ..DESEJANDO A TODOS UM BOM ANO DE 2021!


José do Rosário...

segunda-feira, 14 de abril de 2014

RUI VERGUEIRO,ALFERES MILICIANO: NO PÓS 25 DE ABRIL DE 1974 NO NIASSA


 TEXTO E FOTOS DE:,
 RUI VERGUEIRO, 



Eu, Rui Vergueiro era estudante de medicina quando o serviço militar obrigatório o foi resgatar à Faculdade de Medicina do Porto.


O alferes Rui Vergueiro, chefe das transmissões do Agrupamento 2000/72 no seu gabinete em Vila Cabral
Depois de cumprida a respectiva instrução na metrópole, seguiu para o norte de Moçambique como alferes miliciano de transmissões.
A minha unidade Com. AGRUP  2000/72 foi formada em Lisboa no RALI-1 e dela faziam parte:
Tenente Coronel Eduardo Jorge Gomes Coelho Picciocchi, comandante do Agrupamento, Majores Simões de Faria (operações), Abrunhosa (logística) Helder (acção psicológica), ficou instalada no quartel no Batalhão de Caçadores 20, em instalações separadas do Comando de Sector, comandado pelo então Brigadeiro Coito Graça, que estava em final de Comissão. O cargo seria ocupado pelo Brigadeiro Stadlin Baptista que foi saneado após o 25 de Abril.
 O seu destino foi a província do Niassa, no extremo norte de Moçambique, e numa época em que a guerra estava longe do seu epílogo.


Em 1º plano  da esqª para a dirª, os Alferes Médicos Sá Couto,Celso Barbosa e Lourenco.
Em 2 º plano o Capitão Médico Requeijo e sua esposa
Estava colocado no hospital militar de Vila Cabral, o cirurgião Capitão Miliciano , Drº Requeijo, que em Portugal era chefe de cirurgia do hospital de Santo António, para onde Rui Vergueiro ia voluntariamente aprender as práticas de urgência. 
Foi a primeira pessoa a  reconhecer o Drº Requeijo logo no primeiro dia da sua chegada. 
  Quando havia muitas evacuações, o Cap.Requeijo telefonava para o quartel a pedir uma ajuda. Foi ajudante de cirurgião ocasional e dador de sangue.
Segundo me lembro em finais de Setembro de 1974, recebi,como comandante das Transmissões,do Quartel General em Nampula para o Comando Militar do Sector "A" em Vila Cabral, o Tenente-Coronel Picciochi , ordem para ocupar o Posto de Rádio,da PIDE, e as estações dos CTT e da CHERET e para deter o  chefe local da PIDE.
Estas ocupações aconteceram na sequência de informações chegadas de que iriam ser utilizadas para comunicações contra revolucionárias provavelmente na esfera do que se passou a 7 de Setembro no Rádio Clube de Moçambique.  


O Cabo Cripto Eduardo Silva a receber do Ten.Cor, Picciochi, um prémio pelo seu trabalho literário 
O Tenente-coronel Picciochi, manteve-se à margem,tendo chegado a afirmar que, assim, não sabia ser militar. foi ele que recebeu  ordem para "deter" o Chefe local da PIDE/DGS. 
Os Majores Simões de Faria e Abrunhosa aderiram claramente ao espírito do 25 de Abril e já tinham conhecimento prévio do golpe militar.
Entre 27 e 29 de Abril estive em Nampula, onde participei numa reunião onde se exigiu uma clarificação da tomada de posição por parte das novas autoridades em Lisboa. Entre os participantes estava o meu amigo e companheiro das lutas académicas, Jorge Strech, julgo que pertencia como alferes à justiça militar.
Perante o impasse no pós revolução em que se encontrava Moçambique e a falta de directrizes da Metrópole, na reunião, onde esteve presente o major Mário Tomé, alguns mais inflamados sugeriram um golpe militar prendendo as chefias para quebrar a inércia e dinamizarem um processo revolucionário em Moçambique.
 Depois de muito tempo de espera por directrizes por parte de Nampula, o pessoal resolveu fazer uma "eleição" para representante local do MFA, na qual fui eleito. Esta eleição deveu-se à estratégia de criar ligações que garantissem uma nova dinâmica, de acordo com o espírito de ABRIL. 
Foi já nesta última qualidade,que por imperativo categórico, encetei as tentativas de contactar elementos da Frelimo, pois o Niassa foi o último Sector a fazer o cessar-fogo e Samora Machel havia determinado  que fosse feito um recrudescimento das acções militares.Com os acordos políticos assinados  entendi que não fazia sentido continuar a morrer gente e jovens a ficar estropiados.
Para chegar à Frelimo, contacte um Engº. agrónomo que se dizia sobrinho de Marcelino dos  Santos. Com ele só houve a 1ª saída e fizemo-lo no seu Volkswagen Carocha. Nessa viagem partiu-se e a viatura ficou imobilizada em pleno mato. Ao longe avistámos uma viatura que, mercê dos nossos sinais veio ao nosso encontro. Era um manchambeiro a que pedimos ajuda para avisar a guarnição militar de Unango, a nós e à viatura e se encarregaram de nos transportar até Vila Cabral.
Participei,amiudadas vezes à civil, e quase sempre desarmado e só, em vários encontros com responsáveis locais da Frelimo em locais como Cantina Dias, Unango, Nova Coimbra, Metangula, etc. Os nomes de alguns desses elementos dos guerrilheiros ficaram para sempre no limbo da memória que a passagem do tempo sempre acarreta, mas os encontros , as emoções vividas pela esperança da paz, essas não desapareceram.





Rui Vergueiro com os padres Camilo e Menegon, que pertenciam à Missão de Vila Cabral. 


O encontro foi no Bandece/Maniamba.Os dois civis, um era professor o outro foi o elo de 

ligação e intérprete que nos levou ao encontro com os guerrilheiros
A dada altura cheguei a entrar na base de Bandece/ Maniamba, onde me apontaram a mítica Kalashnikov à cabeça. Esta visita foi precedida da recepção duma missiva que me foi entregue na sequência de cartas que fiz seguir solicitando contactos e que foram veiculados pela Missão de Vila Cabral. Daí estarem os padres Camilo e Menegon, ambos Colombianos. Estava também presente um Professor (Mazuda ?) que serviu de contacto local.
Fomos no Land Rover da Missão até um ponto onde apanhámos um outro guia. Depois de cerca de meia hora a subir pelo monte, ouvimos o "enculatrar" de armas e fomos rodeados por guerrilheiros apontando-nos as Kalashnikov.
Houve um outro diálogo com o novo guia e ficámos à espera de ordem para avançar, com escolta até à presença das chefias. As minhas diligências foram cruciais para o abrandamento das actividades dos guerrilheiros, quer ao nível das emboscadas de itinerários, quer na colocação de minas nestes. Isto aconteceu por os responsáveis da Frelimo acreditarem na minha boa vontade, e na razoabilidade do MFA, que eu representava, querer uma negociação autentica.
Depois de tudo terminar assisti incrédulo ao comportamento dos políticos que na minha opinião não souberam salvaguardar os interesses de todos os residentes em Moçambique, das populações propriamente ditas e sobretudo daqueles que haviam combatido no exército português. Não tenho dúvidas que terão existido alguns fuzilamentos após a retirada completa do dispositivo militar português.
Quando preparava uma deslocação até à povoação de Cantina Dias a fim de ali tomar parte numa reunião preparatória com a Frelimo sobre a forma de materializar o cessar-fogo, recordo-me que ainda no comando em Vila Cabral cruzei-me ocasionalmente com o então capitão miliciano Cordeiro, comandante da 3ª do BCcaç 5011, que tratava naquele dia da burocracia para poder ir de férias.. O comandante da zona "A" ao ver o capitão ali, ordenou-lhe que me acompanhasse a Cantina Dias, que aliás ficava na jurisdição militar da sua companhia. Não muito satisfeito com a tarefa, o capitão lá partiu à civil comigo para o encontro aprazado. O encontro foi com o comandante Braga da Frelimo, que me pareceu um homem muito próximo do comandante provincial da época, Pedro Juma. Depois, e porque o jantar era pouco para os presentes, sentámos-nos à mesa com os guerrilheiros em sinal de amizade e franco convívio, mas optámos por não comer ali. Não foi ali que delineámos os traços gerais para um futuro cessar-fogo . Eles só queriam saber o que pensávamos e o que pretendíamos.Foi isso que escreveram exaustivamente.
 Para ajudar nas diligências pedi ao Bispo da igreja Anglicana,  Pina Cabral quer natural do Porto e na época estava em Lourenço Marques ou em Nampula. Contactei-o pela influencia que poderia ter para o meu objectivo.
 Mais tarde esteve aprazada nova reunião,esta a um nível já superior, em que estariam presentes altos dignatários da Frelimo em Nova Coimbra. Tudo foi combinado para os primeiros dias do mês de Setembro de 1974, altura em que delegações do governo provisório nacional e da direcção da Frelimo se encontravam em Lusaka a discutir os termos da passagem do poder.
Pela parte portuguesa deveriam estar presentes o major Simões Faria, responsável pelas operações militares no Sector"A", em representação do exército, o major Mesquita em representação da Força Aérea e o comandante da base naval de Metangula pela Marinha. A minha memória esbate-se neste ponto, mas julgo que terão sido estes os oficiais escolhidos para o encontro. Presente estaria igualmente o Tenente-Coronel Cyrne do Batalhão de Macaloge. Este oficial superior ofereceu-me, ainda na messe de oficiais de Vila Cabral, o seu pigalim que era símbolo de poder. Digamos que fui "condecorado" com o símbolo de poder de Comandante de Batalhão.


Rui Vergueiro e esposa, o alferes Mendes com bigode. Os dois últimos são o major 


Vieira Monteiro, com um dedo na cara, e um capitão. Ambos pertenciam ao BCAÇ 20 


sediado em Vila Cabral
Saímos de Vila Cabral a bordo de um Cessna, com destino  à base de Metangula, e depois por via rodoviária até Nova Coimbra. Ali foi preparada uma recepção excelente pelo capitão miliciano Salaviza, comandante da CArtª 7260 que estava no Lunho. No entanto os homens da Frelimo não apareceram e às 16h os militares portugueses optaram por almoçar sozinhos. Passados poucos minutos, chegaram emissários da Felimo, empunhando uma bandeira branca, que afirmaram que não tinha sido possível a comparência dos representantes esperados, mas no dia seguinte a reunião se poderia fazer na missão que ficava a meio caminho entre Nova Coimbra e Metangula (Missão Anglicana em Messumba) Assim ficou combinado, e no regresso a Metangula,resolvi pernoitar na missão, enquanto a totalidade dos outros oficiais recolheu à base naval em Metangula.
Era o dia 6 de Setembro de 1974. Na missão estivemos em amena cavaqueira com elementos do Conselho Provincial ali reunido quando por volta das 18h o rádio transístor que até aí transmitia música, interrompeu a emissão, anunciando a tomada do Rádio Clube de Moçambique em Lourenço Marques. Em altos berros o locutor anunciava que várias unidades, Comandos incluindo, tinham aderido ao movimento e que agora é que Moçambique ia ser livre. A Frelimo isto, aquilo etc... O Conselho Provincial retirou-se retirou-se para reunir e eu fiquei a noite só, nada alegre mas sim bastante apreensivo
O Cap. Salavissa da CART. 7260, na Base Gungunhana, em confraternização com elementos da Frelimo
Passou-se a noite toda e foi pela manhã que surgiu na picada um jeep, transportando apenas um oficial. Tratava-se do major Simões de Faria, que saindo da sua posição de conforto, e questionado por mim. do porquê de correr tal risco, afirmou que na qualidade de oficial do quadro não aceitava o abandono à sua sorte de um oficial que lhe era subalterno e ainda por cima miliciano. Ali se estabeleceu para sempre uma amizade sólida entre nós dois.
O major era portador de uma mensagem interceptada, proveniente da Tanzânia, emitida por ordem de Samora Machel, em que eram dadas instruções claras para aprisionarem a Delegação portuguesa que estava presente na reunião.
Às 11 horas do dia 7, chegaram novos emissários da Frelimo que afirmaram estarem convencidos da justeza e autenticidade dos oficiais ali presentes, e portanto estes poderiam partir em paz, assim que desejassem.


domingo, 13 de abril de 2014

8 SETEMBRO DE 1974. A ACÇÃO DA CHERET, EM NAMPULA, EVITOU UMA CATÁSTROFE.

Fazendo a História da CHERET com a descrição da sua última acção ma Guerra do Ultramar, no teatro de operações de Moçambique. Uma análise feita com o necessário distanciamento diz-nos que esta foi a actuação, por parte do SRT, que poupou mais vidas quer às nossas tropas que à população civil, fazendo abortar uma situação que, se não fosse parada a tempo parada em tempo útil, iria redundar num autêntico massacre.
Lembramos que, no verão de 1974, decorrem negociações entre o Estado Português e a Frelimo com vista à realização de um acordo em que Portugal reconheceria o direito de Moçambique à independência e se estabeleceriam regras reguladoras das relações entre as duas entidades durante o período de transição que se seguiria.
Em 7 de Setembro de 1974 reuniram-se em Lusaka as respectivas delegações que aprovaram o texto já preparado em anteriores contactos e que foi assinado pelos seus representantes. Pela Frelimo assinou o seu presidente Samora Machel e, pelo Estado Português, toda a delegação presidida pelo ministro Melo Antunes e de que fazia parte o tenente-coronel Nuno Lousada como representante do MFA de Moçambique. Entre as deliberações tomadas figurava a declaração de cessar-fogo a partir das zero horas do dia 8 de Setembro.
Após a assinatura, a delegação portuguesa dirigiu-se para o aeroporto ao princípio da tarde e embarcou de avião rumo a Lisboa; em Lusaka apenas ficou o tenente-coronel Lousada que, no dia seguinte, deveria seguir de avião para Nampula, acompanhado por responsáveis da Frelimo que teriam os primeiros contactos directos com o Comando operacional português para, em conjunto, coordenarem a progressiva e pacífica integração dos guerrilheiros com a tropa portuguesa. 
Entretanto, em Lourenço Marques, grupos de colonos brancos assaltaram e tomaram posse da estação de rádio e começaram a lançar comunicados afirmando que a descolonização estava suspensa, que os militares apoiavam a sua acção e que as decisões que fossem tomadas em Lusaka não teriam qualquer valor pelo que a guerra continuaria.
Ignorando completamente o que estava a acontecer, o tenente-coronel Lousada preparava-se para passar um calmo fim de tarde quando é chamado para se dirigir de imediato ao edifício onde o governo da Tanzânia tinha instalado a Frelimo. Recebido, à entrada, pelo presidente, à frente de todos os seus comandantes, foi de imediato invectivado por Samora Machel que acusava o governo português de traiçã, que o Acordo tinha sido um embuste e que apenas tinha servido, por parte de Portugal, para ganhar tempo.
Sem elementos concretos e numa situação absolutamente desvantajosa, Lousada lá conseguiu argumentar de modo a acalmar um pouco Samora Machel, que lhe afirmara que já dera ordem para que a Frelimo atacasse , de imediato, todas as posições portuguesas.
O tenente-coronel Lousada sugeriu que se telefonasse para o nosso presidente da República mas a conversa com o general Spínola não correu muito bem; ligaram de seguida para o general Costa Gomes que terá conseguido "lançar água na fervura".
A reunião acabou em ambiente de uma certa indefinição tendo o coronel Lousada ficado convencido de, pelo menos, tinha lançado algumas dúvidas na mente de Machel. Ao despedir-se, em jeito de conselho, pediu-lhe que actuasse de modo "que fosse o melhor para Moçambique e para Portugal"
Como veremos,Samora não anulou a ordem de ataque.


Chegada da Frelimo a Nova Coimbra (Niassa)
O que se segue nasce da iniciativa dos dois oficiais que chefiavam as secções da CHERETMOÇAMBIQUE que tinham maior influência no produto final desta entidade: foram eles o capitão de Infantaria- criptólogo, António Melo de Carvalho na Secção de Operações e o capitão de Artilharia-criptólogo AED, Aniceto Afonso na Secção de Informações. Face ao teor das mensagens da Frelimo interceptadas na manhã de 08SETEMBRO74 em que Samora Machel ordenava o ataque a todas as instalações portuguesas militares e civis, e prevendo as trágicas consequências que o cumprimento destas ordens causaria, movimentaram-se para eliminar a terrível ameaça. Apressaram-se a comunicar a informação ao Chefe do Estado-Maior do Comando Avançado de Nampula, coronel Menezes que, naturalmente ficou alarmado com a situação que se afigurava extremamente preocupante. Lembra-se que o 
Acordo de Lusaka, assinado na véspera determinava a entrada em vigor do cessar-fogo a partir das 0800H00 e que, por este facto, tinham sido dado ordens para todo o nosso dispositivo para se preparar para contactos amigáveis com os guerrilheiros da Frelimo. Os dois oficiais propuseram o desencadeamento de uma acção que punha a descoberto a situação de secretismo que a missão da CHERET requeria. Dado que a CHERETMOÇAMBIQUE dispunha das frequências e indicativos de chamada de todas as redes da Frelimo, sugeriram o lançamento de mensagens apresentando argumentos que levassem ao cancelamento daquela ordem. A tentativa de ligação foi feita nas instalações do Comando das Transmissões, uma vez que o SRT não dispunha de emissores, sendo operadores os 1ºs Cabos Operador de Informação de TMS Victor Ferreira e Operador de Segurança das TMS Pedro Silva. A conduta da operação foi da responsabilidade do capitão Melo de Carvalho que acompanhou a sua execução junto dos operadores ditando-lhes os argumentos expressos numa linguagem acessível aos operadores da Frelimo. A qualidade técnica dos nossos operadores garantiu previsível êxito na pesquisa em eventuais mudanças de frequência, o mesmo acontecendo com os nossos criptólogos no que concerne à hipótese remota de ainda vir a ser necessário atacar de novo, com êxito, novas chaves dos sistemas criptográficos.
Os Ex. 1º Cabo Pedro Silva, ao centro capitão Melo carvalho o 1º Cabo Victor Ferreira
Assim, teremos de seguida o relato da execução da operação, minuto a minuto, com os sentidos sempre despertos para que os argumentos fossem ajustados e convincentes. Imagine-se a angústia da espera das respostas, ouvindo atentamente e apreensivos a troca de mensagens entre os postos da Frelimo até começar a sentir-se esperança no sucesso da iniciativa. Uma palavra de muito apreço para os 1ºs Cabos Victor Ferreira e Pedro Silva que também sentiram todas as ansiedades de uma acção muito intensa e que pediu ao equilíbrio psicológico de quem as viveu.
Esclarece-se que a ligação era sempre em Morse e que os operadores do SRT embora tivessem formação que abrangia a transmissão e recepção, mercê da especificidade do seu trabalho do seu trabalho diário, só eram excepcionais peritos na recepção. Outro tanto não acontecia na transmissão pelo que o facto foi notado pelos operadores da Frelimo que, ao longo da troca de mensagens, não se coibiram de chamar a atenção para o facto. 
É interessante referir que os dois operadores intervenientes na operação que se prontificaram a dar o contributo das suas memórias ajudando a esclarecer algumas dúvidas e lembrando pormenores que haviam sido esquecidos. De referir que os dois documentos elaborados separadamente passados que foram trinta e seis anos, sejam absolutamente concordantes em dois aspectos que importa realçar:
- O elevado apreço e enorme admiração pela acção do capitão Melo de Carvalho não só na condução da operação como no esclarecimento da situação que se vivia que se vivia e a relação com os novos desígnios nascidos em 25 de Abril de 1974.
-Total consciência e orgulho e orgulho de terem tomado parte activa e decisiva numa acção que evitou situações de generalizado caos com previsível perda de incontáveis vidas dos nossos militares e, também, de elementos civis.
-Acrescentando um pormenor ao relato dos acontecimentos refere-se que, quando os elementos da Frelimo chegaram a Nampula, manifestaram o desejo de conhecer os dois operadores. Durante o encontro que lhes foi proporcionado elogiaram o trabalho sendo-lhes dito, por Joaquim Chissano, que o consideravam excelente e que os seus nomes iriam constar nos "livros da Frelimo".
Como curiosidade refere-se que à data, o responsável máximo das transmissões da Frelimo era Afonso Dhlakama que, mais tarde, assumiu a presidência da Renamo.
Lamentavelmente não ficou registada uma mensagem entre os postos da Frelimo em que o Presidente Samora Machel ordenava o completo cessar-fogo o que, naturalmente, aliviou a pressão sentida intensamente naquelas três ou quatro horas 


Símbolo da CHERET

Atacar de imediato todas as posições das Tropas portuguesas....

Era a ordem de Samora Machel difundida nas redes operacionais da Frelimo, na manhã de 8 de Setembro de 1974. 
Assinale-se que, contrariamente aos costumados procedimentos de segurança da Frelimo que cfrava todo o tráfego operacional, desta vez só usaram linguagem em claro, tal a premência da necessidade em responder, de imediato, ao 7  de Setembro.
O Serviço de Reconhecimento de Transmissões acompanhava, praticamente, a totalidade das comunicações da Frelimo, quer em claro quer em linguagem cifrada. Logo que interceptou esta comunicação, difundida em todas as redes da Frelimo, fê-la chegar de imediato ao Chefe do Estado Maior do QG/RMM
Às 081130BSET74, num dos intervalos das comunicações que estavam a ser interceptadas pelo SRT, foi feita a primeira tentativa de contacto em morse, pelo 1º cabo Silva, com um dos emissores do Comando das Transmissões, na frequência 6.600KHZ

FOI TRANSMITIDA A SEGUINTE MENSAGEM:
De: Movimento das Forças Armadas Portuguesas em Moçambique para: Comandos da Frelimo

Camaradas, 
Nossa posição concordante acordo Lusaka. Pedimos não ataquem Tropas Portuguesas, unidas ideal Frelimo contra grupo reaccionário Lourenço Marques. Pedimos vossa colaboração para eliminação grupos reaccionários. 
Saudações.

A reacção do operador da Frelimo é recebida de imediato:

Por favor repetir tudo

Foi repetida a nossa mensagem pelo operador Silva


Resposta do operador da Frelimo:

Não se compreende é preciso você ficar mais nos treinos para melhor assegurar o trabalho.Não recebi sua nota. Desconheço.
Obrigado
Terminado

Sem perda de tempo, é feita nova insistência da nossa parte
B3Q de Movimento das Forças Armadas serviço muito importante escuto

Resposta do operador da Frelimo
Quem manda 
Escuto
Por favor chamar Focas ou Tito OK
Que você não mandar estar outros visto não ter conhecimento manipulação é vossa
Chame Focas escuto

Portugueses

Amigo é Movimento das Forças Armadas de Nampula, atenda nossa mensagem. Atravessamos momento histórico. queremos manter ligação permanente. Por favor transmitir urgentemente a camarada Presidente e todos os centros internos e externos. Pessoa máxima responsabilidade desloque-se hoje Mueda fim encontro com MFA motivo golpe da reacção.
Do: Chefe Movimento das forças Armadas Portuguesas de Moçambique
Para: 
Camarada Presidente Samora Machel
Transmite 1º cabo Silva
Queremos nova comunicação
Assunto muito importante
Transmita mensagem camarada  Presidente fim de coordenar luta contra golpe reaccionário em Lourenço Marques.

Resposta do operador da Frelimo ( B3Q )

Por favor repetir, até consignatário desconhecemos.
Repetir
Escuto

Entre estações da rede da Frelimo

"CRB de CMS = Atenção estão a trabalhar com estação estranha OK
Tem serviço?
CRB = Não tenho serviço
Por favor chame se puderes escutar...
Fechar por inimigo nossa rede
Escuto
Compreendemos manobras colonialistas imperialistas através reacção tentar travar nossa independência histórica povo moçambicano guiado pela pela Frelimo.
Stop 
Em nome populações quadros combatentes província reafirmamos nossa determinação continuar a combater.
Stop
Viva Frelimo...Liderança independência ou morte 
Venceremos


Para Presidente Samora Machel

Mensagem recebida e compreendida
Stop
Cumpriremos palavra ordem direcção
estamos prontos para qualquer situação
Saudações revolucionárias
Comando Provincial
Escuto

Entretanto uma estação da Frelimo retransmite para outra o texto da nossa mensagem:

Atenção texto para Comandos Frelimo
Do Movimento das Forças Armadas Portuguesas em Moçambique
Camaradas, 
Nossa posição concordante acordo Lusaka. Pedimos não ataquem Tropas Portuguesas, unidas ideal Frelimo contra grupo reaccionário Lourenço Marques. Pedimos vossa colaboração para eliminação grupos reaccionários. 
Saudações.
Por favor transmite urgentemente todos os centros internos e externos e para Presidente da Frelimo
Escuto

..........
Aqui na nossa frequência apareceu esta emissão por muitas vezes a intervir pedindo que recebêssemos esse texto.
Vem de Nampula e Cabo Delgado
Queria perguntar a você se conhece essa estação
........
Por isso eu tinha recebido esse texto aqui
Chimene
.........
Fecha a tua estação 
........
Você deve responder escola está a chamar-te
Ok 
Há desordem
Por favor manter ordem
Repetir tudo com nossos camaradas
Por favor há ordem
Ok

Repetir tudo
Escuto


Portugueses

Temos urgência manter ligação permanente fim de coordenar acção conjunta contra reacção 
Utilize qualquer meio transporte Mueda
Aeroporto aberto
Autorizada aterragem

Frelimo 
Repetir tudo
Manipulação não é correcta
Manter ordem
Repetir tudo

Nós de Nampula continuamos a insistir

Por favor transmitir urgentemente a todos os centros internos e externos
Amigo queremos comunicar nesta frequência
É boa para nós 
Saudações fraternais
Movimento das Forças Armadas Portuguesas em Nampula

Frelimo
Camaradas: não se compreende o que está a emitir 
É bom chamar outra estação
Nem eu compreendo nada
Obrigado
Até amanhã
Terminado

Portugueses

Amigo mensagem muito importante 
Informe se recebeu
Chame seu chefe
Aqui é Nampula Forças Armadas Portuguesas

Frelimo

Não compreendo nada
Forças Armadas de onde
Desconheço
Informe seu nome você que emitir essa nota
Quem e onde sair e vai a quem
Até amanhã
Chamar outro que assegurar bom trabalho
Até amanhã
Obrigado 
Terminado

Portugueses

Amigos informem encontro amanhã
Nosso interesse manter muitos contactos
Ajudem colaborar connosco momento histórico que atravessamos
Estamos a transmitir directamente de Nampula
Saudações fraternais
Movimento das Forças Armadas Portuguesas
Obrigado
Pedimos nova comunicação
Temos nova mensagem
Escuto

De:
Movimento das Forças Armadas Portuguesas em Nampula (Comando Chefe)
Para: Todos os Sectores Forças Armadas Portuguesas e Comando Frelimo
Posição Comando Chefe deste incidente rádio clube Lourenço Marques é manter por todos os meios acordo de Lysaka. Stop
Pormenores serão definidos após chegada delegação conversações Lusaka prevista Nampula 082030horas
Stop
Deverão se possível serem contactados elementos Frelimo área para informação posição Forças Armadas e evitar-se deterioração situação Moçambique. Stop
Saudações 
Movimento das Forças Armadas Portuguesas
(Comando Chefe)

Frelimo
Deve pedir nome do comando que envia mensagem
Escuto

Portugueses

Movimento das Forças Armada Portuguesas em Nampula ( Comando Chefe)
Escuto

Frelimo

Pedimos seu nome quem manda mensagem
Escuto

Portugueses

Quem manda mensagem é Chefe do Estado Maior coronel Menezes
Quem transmite é 1º cabo Silva

Frelimo

Ok

Até amanhã
Terminado 
Obrigado

A partir daqui a comunicação, através desta frequência, estabilizou. Desapareceram de vez as hesitações dos operadores da Frelimo e gerou-se um clima de confiança nesta rede que nasceu em circunstâncias absolutamente excepcionais.

Foi transmitida e recebida vária informação, ao mais alto nível, durante dois dias, relacionada com a preparação da entrada dos comandos da Frelimo no território de Moçambique, e outros movimentos logísticos. Mais tarde apercebemo-nos que a Frelimo ficou espantada com o que conhecíamos das suas comunicações.