Honra e Gloria aos que tão novos lá deixaram a vida. Foram pela C.C. S.-Manuel Domingos Silva!C.Caç. -1558- - Antonio Almeida Fernandes- Alberto Freitas - Higino Vieira Cunha-José Vieira Martins - Manuel António Segundo Leão-C.Caç-1559-Antonio Conceição Alves (Cartaxo) -C.Caç-1560-Manuel A. Oliveira Marques- Fernando Silva Fernandes-José Paiva Simões-Carlos Alberto Silva Morais- Luis Antonio A. Ambar!~

O BATALHÃO CAÇ.1891 CUMPRIMENTA EFUZISAMENTE TODOS OS QUE NOS VISITAM ..DESEJANDO A TODOS UM BOM ANO DE 2021!


José do Rosário...

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O INÍCIO DA GUERRA EM MOÇAMBIQUE.

         


                                                                                                                                                                                                                               A guerra iniciou-se quase simultaneamente, em 1964, nos extremos nordeste (Niassa) e noroeste (Mueda) de Moçambique, e envolveu os povos que iriam ter o papel mais importante nos dez anos que ela durou: os Nianjas e os Macondes. 
Nesse ano ocorrem as primeiras acções da luta armada nos distritos do Niassa, de Cabo Delgado e de Tete. Em 21 de Agosto de 1964, ocorreu a primeira acção violenta na região de Cabo Delgado: «Pelas 18 e 15 horas do dia 21, na rampa de Esposende (Sagal) e na primeira ponte, no sentido Mueda-Mocímboa da Praia, foi atacada com dois tiros de canhangulo uma viatura civil conduzida por um europeu. Não foi atingido qualquer ocupante da viatura» (relatório do Batalhão de Caçadores 558). 
Em 24 de Agosto, morreu o padre Daniel, da Missão de Nangololo: «Pelas 20 horas do dia 24, um grupo inimigo feriu mortalmente um padre da Missão de Nangololo, tendo o autóctone Ernesto Dinagomo, que acompanhava o padre, sido ferido por um projéctil de canhangulo», como se refere no mesmo relatório. 
Contudo, a Frelimo considera que foram as acções de 24 e 25 de Setembro de 1964, que marcaram o início da luta armada. Estas acções foram determinadas pelo seu Comité Central, enquanto as anteriores foram atribuídas a grupos de guerrilheiros da MANU e da Undenamo. 

Acções da Frelimo em Cabo Delgado, em 24 e 25 de Setembro de 1964 :
- Colocação de abatises e abertura de pequenas valas nos itinerários Miteda - Nangololo - Muatide - Muidumbe -estrada das Oliveiras; 
- Destruição das pontes de Ouinhevo (junto a Mocímboa da Praia), Esposende (Sagal), rio Mueda, Nangade e Machoma; 
- Corte da linha telefónica nas imediações das pontes do Ouinhevo e de Esposende; 
- Ataque ao posto do Chai, na noite de 24 para 25 de Setembro, situado entre Macomia e o rio Messalo, acção considerada pela Frelimo como o primeiro acta da luta armada da guerra de libertação nacional de Moçambique. 

O armamento dos guerrilheiros era, no início, muito antigo: espingardas de repetição 7,7 mm Mauser, Lienfíeld, armas de caça, Remíngton, Wínchester, pistolas Parabellum, e incluía armas gentílicas, como canhangulos, catanas e arcos e flechas. 
Os guerrilheiros optavam preferencialmente pela colocação de abatises e abertura de valas nas estradas, de modo a dificultar o movimento das tropas portuguesas a partir de Mueda pelos vários itinerários de ligação à costa e a outras localidades. 
No mês de Outubro, as acções violentas continuaram: em 11 foram queimadas duas cantinas próximo da estrada para o rio Messalo, em 13 foi roubada e queimada uma cantina na estrada Mueda-Nacatar e, na noite de 17 para 18, foi arrombada e assaltada a loja de Ibarimo Ucuba, na povoação de Namulumba. 
Em 16 de Novembro de 1964, as tropas portuguesas sofreram as primeiras baixas no Norte de Moçambique, na região de Xilama, e à meia-noite de 8 de Dezembro um grupo atacou o posto de Muidumbe durante cerca de 20 minutos, já com armas automáticas e lança-granadas-foguete. 
A organização e o armamento dos guerrilheiros evoluíram rapidamente. A primeira acção violenta no Niassa ocorreu também em 24 de Setembro de 1964, com o ataque à secretaria do posto administrativo do Cobué, sendo a lancha Castor, da Marinha de Guerra, atacada logo no dia seguinte. 
Em Dezembro, foi assaltado o posto de Olivença. Todos estes ataques ocorreram no extremo noroeste da região, aproveitando a proximidade da fronteira com a Tanzânia. 
Tal como em Cabo Delgado, as dificuldades de comunicações, o acidentado do terreno, a baixa densidade das forças portuguesas e a fraca presença de colonos facilitaram a acção da Frelimo, que alargou a sua acção para sul na direcção de Meponda e Mandimba, para atingir o Malawi, com a intenção de descer para Mecanhelas de modo a alcançar a Zambézia e ligar-se a Tete. Por outro lado, estendeu ao mesmo tempo a sua acção para leste, em direcção a Marrupa, para chegar a Cabo Delgado. 
O Niassa foi, nos primeiros anos da guerra, a zona prioritária das acções da Frelimo, não só porque isso permitia alargar a base de apoio à guerrilha aos povos Ajauas e Nianjas, como constituía o corredor natural para sul, a caminho da Zambézia e daqui para Tete. 
A Frelimo beneficiou ainda, nos primeiros anos, do apoio do Malawi para o trânsito e refúgio de guerrilheiros. Esta situação veio depois a alterar-se, em boa parte por acção de Jorge Jardim, que apoiou, por métodos expeditos e pouco ortodoxos, o reforço de um aparelho mínimo de força naquele país, governado pelo autocrata pró-ocidental, Hastings Banda, formando unidades especiais comandadas por militares e ex-militares portugueses, como o ex-tenente Cristina, morto mais tarde em circunstâncias não esclarecidas na Rodésia (actual Zimbabwe), e uma pequena força naval malawiana do lago Niassa, comandada por um oficial da reserva naval da Marinha portuguesa. 
A intensidade da guerra no Niassa, cujo ponto alto ocorreu em 1967, não impediu a Frelimo de aumentar simultaneamente a sua capacidade de combate em Cabo Delgado. Neste distrito, o Planalto dos Macondes/ Mueda e a serra do Mapé/ Macomia constituíram duas zonas de combates intensos durante toda a guerra, especialmente até 1970/71. 
As principais bases da Frelimo em território moçambicano encontravam-se nesta zona, e a principal linha de infiltração dirigia-se da sua mais importante base no exterior, a de Naschingwea, para o núcleo central do Planalto dos Macondes. 
Em Tete, a Frelimo desencadeou, nos finais de 1964, algumas acções a partir do Malawi, sobre a região sueste do distrito, como em Mutarara, em Novembro, e no Charre, em Dezembro.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

ESQUECIDOS PELA PÁTRIA



Quarenta anos depois do fim da guerra do Ultramar, ainda existem ex-militares africanos a viver em quartéis portugueses. Alguns estão ilegais, outros perderam a nacionalidade e todos esperam o momento de poder regressar aos seus países. Numa situação de pobreza extrema aguardam pela resolução do moroso processo para obter uma pensão como deficiente das Forças Armadas.

Aquele abraço, camarada( de armas!!!) e amigo.
As pessoas não entendem como, passados estes anos, continuamos a não renegar o tempo que passamos no Ultramar!!!
Aquele abraço Amigo.
Um dia destes temos de bater umas bolas para desafiar a memória e…desabafar.



Para ver o vídeo completo clic aqui 






segunda-feira, 13 de junho de 2011

A descolonização Portuguesa!

      





General Duarte Silva: Julgo dever dizer-vos porque é que aqui estou: a minha relação com África não é tão pequena como isso.

No que julgo que interessa estive primeiro, em Dezembro de 1973, em comandante  do  CODCB (Comando operacional de Defesa de Cahora Bassa)  sobre o que posso responder a todas ou quase todas as perguntas.Depois pouco antes do 7 de Setembro ou mesmo no 7 de Setembro, quando houve aquelas sensaborias em Lourenço Marques , em que andaram aos tiros aos pretos por causa do Radio Clube de Moçambique e não sei que mais, o então coronel Egídio que estava em Tete, teve de ir para Lourenço Marques e eu avancei para Tete. A missão não foi alterada, isto é continuámos em guerra, mas já a meio vapor até Setembro. No dia 7 de Setembro , recebemos ordem para deixar entrar a Frelimo. A partir daí vivemos (eu vivi) até Fevereiro de 1975 em companhia da Frelimo, companhia respeitável e respeitada.Devo dizer que o meu contacto começou pelo meu comandante José Moyane, que a seguir foi governador de Vila Perry e , mais tarde de Lourenço Marques. Depois houve um pequeno pormenor: matou a mulher e desapareceu da circulação.  Mas o comandante José Moyane, logo no primeiro dia , começou por me tratar por camarada, e eu julgo que não há nada como explicar as coisas desde o primeiro dia. Eu expliquei-lhe que não era camarada dele de parte nenhuma, nunca tinhamos comido juntos, se ele que eu era do 25 de Abril, não era se julgava que eu era do M F A, também, portanto que nos respeitássemos um ao outro. Eu era senhor comandante, e ele era o senhor comandante  e vivemos como Deus com os anjos até Fevereiro de 1975-.........

Mas a realidade é que estávamos ainda em guerra..........
Numa guerra daquelas  é muito difícil o  cessar fogo. É tão difícil que  sucederam  vários casos e que a maldade das pessoas ainda não permitiu que se esclarecessem e que convinha esclarecer, porque está a honra de muita gente em jogo. um deles por exemplo é o caso de um alferes que recebe ordem para acabar com as acções de fogo. Esse alferes cai com o seu grupo de combate numa emboscada . Tiros para lá , tiros para cá . Além dos tiros, havia sempre um folclore de palavrões, dirigido a cada um . Mas no meio daquilo  o alferes conseguiu-se fazer ouvir e dizer aos do outro lado : " olha lá , já acabou a guerra ,e nós estamos aqui estupidamente aos tiros,". Ao que os outros responderam :" Está bem vai enganar outro"..." disse  mais o alferes: ...então vai informar-te junto dos teus chefes   e no dia tal encontramo-nos aqui. E no dia tal  encontraram-se.......É claro que o (fazem)  ainda com todas as seguranças e não houve desconfianças . Não entraram em contacto com os vossos: não:.. ainda não tenho contactos nenhuns, os nossos não fizeram fogo.....À terceira ou quarta vez, estava tudo aos abraços.
É dos nossos soldados, isto é assim mesmo. Simplesmente nessa altura foram desarmados, porque os nossos estavam de boa fé e os outros não. Isto depois aparece depois, como um grupo de combate que foi desarmado , que entregou  as G-3 ao inimigo. Mais importante do que isto(talvez o coronel Pinto Ferreira esteja em melhores condições de explicar), foi o que se passou com uma companhia no norte. Entram em conversações, muita confiança muitos abraços e a certa altura foram desarmados.Um dos argumentos nas conversações em Lusaca usados por Samora Machel, com o dr. Mário Soares era que as nossas tropas já não se batiam. Com certeza que a nossa tropa no dia 7 de Setembro não era a mesma, que no dia 26 de Abril. Aqui fez-se tudo a seguir ao 25 de Abril,  para dar cabo da nossa tropa. Na descolonização entrou o factor político e nem mais um soldado para o Ultramar. Nestas condições ninguém podia negociar, discutir e preparar uma descolonização inteligente.
Aquilo estava muito efervescente as pessoas andavam com armas na mão e a disciplina não era grande coisa, especialmente dentro da Frelimo. Eles tinham a disciplina do guerrilheiro.....matou morre.

José Pedro Castanheira: Quando é que foi esse primeiro encontro com o comando da Frelimo ?

General Duarte Silva: Foi no dia 7 ou 8 de Setembro de 1974. Só quando houve paz oficialmente, claro. Se não não havia conversa.

Fátima Patriarca: Retomando a pergunta do Manuel  de Lucena, seria possível explicar porque é que os colonos brancos reagem contra no fundo a quem está ali para os defender? O que sentiu que estava por de trás dessa hostilidade?
Tenente- Coronel Aniceto Afonso:  Isso pode ter várias explicações. 

General Duarte Silva:Eu tinha lá família e diria que os coca-colas sempre pensaram que a guerra era nossa, não era deles, o problema era este.

Tenente-Coronel Aniceto Afonso: Sim , sim . Talvez também nunca lhes tenha sido explicado, também nunca participaram.

General Duarte Silva :O instinto de conservação não precisa de explicações. Nó íamos daqui para lá , eles estavam sossegadinhos nas cidades , porque +e que deviam de arriscar.

Coronel Pinto Ferreira : Eu estava na Beira, quando foi o ataque à messe da Beira e vi o acontecimentos todos, do principio ao fim.
Quando eu cheguei à Beira em 1973 , a população não tinha qualquer noção da guerra que se estava a passar. sabia que existia, mas não vivia no meio da guerra.

Tenente- Coronel  Aniceto Afonso:Mas já havia batalhões de Janeiro.
General Duarte Silva: Pois. mas isso revela o estado de indisciplina que houve. Temos de o reconhecer! E depois quando chega Lusaca, o Samora Machel diz: Ah os senhores já não têm ninguém capaz de dar um tiro ."...não era completamente verdade, especialmente em Angola de maneira nenhuma. E é claro que as pagámos.

Coronel Pinto de Ferreira: Há uma questão de que o sr .tenente -coronel falou que eu ainda reforço. Nós em Moçambique, tínhamos chegado a este ponto: quando embarcávamos, os meus capitães operacionais  eram do mesmo curso dos alferes comandantes de pelotão. No meu batalhão foi assim. Eles estavam em Mafra , terminavam o curso como cadetes e eram promovidos promovidos a aspirantes , todos. Uns eram escolhidos para ser capitães, nem espúrios nem púrios. Não havia nada.

General Duarte Silva : mas isso eram milicianos! 

Coronel Pinto  Ferreira: Pois, mas isso não interessa. Era quem fazia a guerra.


General Duarte Silva: não era a mesma coisa.

Coronel Pinto Ferreira: eram oficiais , faziam a guerra e estavam a defender a  Pátria. Mas continuando.

General Duarte Silva: mais devagar.

Coronel Pinto Ferreira: Não é nada mais devagar- temos de ser objectivos. Portanto sucedia que esses homens saíam da Escola Prática de Infantaria e eram promovidos a alferes. Iam para as unidades, para o seu batalhão fazer instrução e embarcavam como alferes . Um deles era promovido a tenente , era comandante de companhia , mas eram todos do mesmo curso de alferes, tratavam-se por tu. Oh pá não me chateies! Então  dás essa ordem? e na hora do embarque eram promovidos a capitães. Saíam todos da  Escola Prática de Infantaria  como aspirantes e, de repente , um aparecia como capitão e os outros eram alferes.
E era com isto que se tinha que fazer a guerra . Eu tinha quatro companhias na minha zona de acção , e os quatro capitães eram deste género. E quando davam uma ordem que alferes não gostavam, os alferes diziam: Eh pá não me chateies com essa! Eu não vou ! E na tropa não se pode trabalhar assim, não se pode actuar assim . mas era com isto que tinha de se fazer a guerra. isto é uma coisa que as pessoas aqui não sabiam! Quando chegámos à altura da descolonização e foi preciso contar espingardas onde é que se contavam, quem é que pegava nelas? Estavam todas no armeiro. Os problemas eram estes , e eram mais que muitos. em toda a província Moçambicana .

General Duarte Silva : estás a dar-me a razão.

Coronel   Pinto Ferreira : Não lhe estou  dar razão nenhuma.

General Duarte Silva: durante 13 anos fizemos a guerra sem problemas, de repente passou a haver problemas.

Extracto de entrevistas dadas por estes e outros militares sobre a situação em Moçambique  e nas outras Províncias Ultramarinas a seguir ao 25 de Abril de 1974.

Falta referir a situação dos Africanos que lutaram ao nosso lado e o que é feito deles, já que parece o Estado português se esqueceu da maior parte deles.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

ANTÓNIO NOBRE, UM HEROI DE PORTUGAL!

Por: António Campinas

CCAÇ.1560


Quem, dentro da CCAÇ 1560, não se lembrará do António 
Maria Nobre, da “BAZOOKA”?
Alentejano, de gema, integrado num grupo de combate constituído quase exclusivamente por alentejanos, era bem o protótipo do calmo e pachorrento dito “compadre”, a quem nada nem ninguém faz perder a fleuma a menos que…
Finda a comissão, o Nobre era apenas um herói. Modesto, apagado, humilde – mas um HERÓI !... Gravemente ferido em combate, por 3 vezes (!!!) foi condecorado, na mesma comissão por imposição, com duas CRUZ DE GUERRA (1ª e 3ª classes ), caso único nas Forças Armadas, nas campanhas do Ultramar pós 1961!
Ora acabou por ser precisamente o Nobre o protagonista do único incidente registado, em toda a comissão, entre pessoal da 1560 e elementos estranhos à mesma.
Estamos em Nampula, na noite de 10 AGO 68. O comboio que transporta o Batalhão 1891 a caminho de Nacala, onde embarcará no paquete Vera Cruz, de regresso à Metrópole, fez uma paragem de algumas horas naquela cidade.
O pessoal foi autorizado a ir dar uma última volta pela cidade, com recomendações e ordens taxativas quanto ao comportamento a ter, em todos os aspectos, e com hora de regresso à estação bem definida.


Ao aproxima-se essa hora limite, e com grande parte do pessoal da Companhia já na estação dos Caminhos de Ferro, chegou a notícia de que o NOBRE teria sido preso pela Polícia Militar, e levado para o quartel da mesma. Imediatamente e em bloco, todo o pessoal dos “Leopardos” já presente se dispôs a marchar para o Quartel da P.M. (ainda a uns bons 3/4Kms da estação) a fim de libertar o seu camarada.

Tendo o Comt da CCaç 1560, conseguido acalmar momentaneamente os ânimos, pois nada se sabia de concreto, foi decidido que ele, com alguns Oficiais e Sargentos da Companhia. Iriam à P.M., averiguar o sucedido e resolver o problema.
Tendo o grupo de graduados da 1560 chegado ao quartel da P.M., e após uma entrada mais ou menos intempestiva, por várias razões, foram descobrir o Nobre a ser duramente interrogado por um Tenente da P.M. e mais alguns elementos – tendo inclusive levado já alguns “caldos”.
Foi então dito pelo Tenente que o Nobre, interpelado por uma patrulha da P.M., havia resistido à detenção(?), tendo inclusivamente partido o nariz ao Cabo comandante da mesma e deslocado o braço a outro soldado. Tendo sido ouvido o depoimento do Nobre e também dum outro soldado da referida patrulha, ficaram os presentes com sensação nítida de que teria havido precipitação e até abuso, de autoridade por parte dos elementos da P.M., aos recém - chegados da Metrópole…Depois de muita troca de argumentos e de ter sido explicado Quem era o Nobre, conseguiu-se a sua libertação, tendo sido entusiasticamente recebido quando finalmente,  chegaram à  estação  dos Caminhos de Ferro.      Agora para terminar, só falta, de facto, contar-se a versão dos acontecimentos, pela boca do Nobre.


 Na sua castiça calma voz alentejana,(esta versão apenas deferia da P.M, ,num pequeno pormenor.
Em frente do Hotel Portugal, em plena baixa de Nampula, passeavam alguns militares da 1560. Tendo passado um Jeep da Polícia Militar, alguém do grupo teria gritado:- “Adeus, ó Chekas,”( nome dado aos militares recém chegados a Moçambique). O Jeep parou de imediato e os elementos da P.M. correram para eles.
Com receio de complicações sobretudo devido à proximidade do embarque, os militares da 1560 debandaram ( pela 1ª e única vez em toda a comissão!), com excepção do Nobre que, além de ter a consciência tranquila, não podia correr, por coxear devido ao seu último ferimento em combate.
“ Então, meu Capitão”, dizia o Nobre, eu que nada tinha feito, vejo vir o nosso Cabo, todo exaltado, direito a mim… Agarrou-me pelo colarinho e puxou-me para a frente com toda a força… Ora eu, que não tenho força nenhuma nas pernas, desequilibrei-me…e fui bater, sem querer com a minha testa no nariz do nosso Cabo!...
Escusado será dizer o esforço que, na altura, foi necessário aos graduados da CCAÇ 1560 presentes para não desatarem à gargalhada, numa situação tão melindrosa como aquela.




sábado, 7 de maio de 2011

A Morte do capitão Valente da 4.ª C.ª Comandos, na estrada Nova Coimbra Metangula!

    

                                                                                                                                                          Operação Marte - 4.ª Companhia de Comandos

A 4.ª Companhia de Comandos executou, em Agosto de 1968, na região do Niassa, um golpe de mão à Base Provincial Gungunhana, aproveitando informações recolhidas durante a Operação Corvo III.

Nesta acção, tinha sido feito prisioneiro o chefe distrital de reconhecimento (Sereco) e abatido o comandante da Base do Unango, que transportava uma pasta com documentos.
As declarações do prisioneiro permitiram referenciar a localização da Base Gungunhana e o estudo dos documentos revelou estar marcada pelo chefe provincial, Sebastião Mabote, uma reunião dos chefes militares da Frelimo no Niassa, na base, para discutir as acções a realizar nas regiões de Cantina Dias e Vila Cabral.
Devido ao valor excepcional da informação, à possibilidade de surpreender uma reunião de líderes da Frelimo e ainda de se dispor de um prisioneiro importante, foi decidido realizar uma operação no maior segredo, empenhando efectivos reduzidos, mas escolhidos.
A 4.ª Companhia de Comandos recebeu essa missão, apesar de quatro dos seus cinco oficiais estarem feridos ou convalescentes, incluindo o seu comandante, que, no entanto, se apresentou para comandar a operação. Esta companhia recebeu ainda a colaboração do grupo de milícias do Niassa, do chefe Roxo.
A força ficou constituída por três grupos de comandos de dezanove homens e um grupo de milícias com vinte e seis homens. O planeamento da operação envolveu um restrito conjunto de oficiais, o reconhecimento aéreo feito sobre a zona do objectivo aproveitou um voo de reabastecimento, para não levantar suspeitas, e os pormenores da cooperação aero- terrestre foram acordados com o comandante do Aeródromo 61 (Vila Cabral).
Depois do transporte de Vila Cabral para Metangula e de um acidente com uma Berliet, que causou vários feridos, a companhia de Comandos atingiu, em 27 de Março, a localidade de Nova Coimbra, onde se encontrava aquartelada uma unidade de caçadores e que seria a base de partida para a operação.
No dia 28, de manhã, a 4.ª Companhia saiu de Nova Coimbra, a pé, para o Lunho, e daqui para Miandica, a corta-mato. Em 31 de Março, iniciou-se a fase de aproximação à Base Gungunhana, sendo percorrido durante sete horas um itinerário muito acidentado nos montes Chissindo. A zona onde as populações de camponeses trabalhavam as suas machambas e apoiavam os guerrilheiros, demorou quatro horas a ser atravessada, para evitar que eles detectassem a presença dos militares, que pernoitaram a cerca de três horas da base e reiniciaram a marcha às cinco horas, de 1 de Abril.
Entretanto, às sete da manhã descolaram do aeródromo de Vila Cabral dois aviões, um DO-27 e um T-6, este último armado com bombas e rockets, para executarem o bombardeamento do objectivo.
Os Comandos, posicionados a cerca de mil metros da base, em dispositivo de assalto em meia-lua, avançaram após o lançamento das primeiras bombas, atacando os guerrilheiros que procuravam escapar ao bombardeamento.
Deu-se depois início à busca no interior da base, tendo sido encontrado muito material.
Como resultado desta operação, foram mortos vinte e dois guerrilheiros e capturadas três metralhadoras antiaéreas, dois RPG-2 e trinta espingardas de vários tipos, o que revela o grande desenvolvimento que a organização militar da Frelimo já havia alcançado no Niassa.
Na continuação da Operação Marte, após o assalto à Base Gungunhana, a força de comandos regressou a pé do Lunho, para Nova Coimbra, em 10 de Agosto. Neste quartel encontrava-se a coluna de viaturas que devia trazer a companhia de regresso a Vila Cabral. Dado o cansaço do pessoal e as más condições de alojamento, o capitão Valente decidiu fazer uma paragem em Metangula, para pernoitar, e tomou o seu lugar na primeira Berliet.

«Saímos de Metangula às oito e meia do dia 11 de Agosto. Eu seguia na segunda viatura quando, a cerca de oitocentos metros da bifurcação Nova Coimbra/Metangula, ouvi um rebentamento característico de mina, ocorrido no veículo da frente. Acorremos imediatamente à viatura sinistrada, a justo tempo de retirar vivo o alferes António Calvinho. Foi-nos, porém, impossível socorrer o capitão Horácio Valente, que já não apresentava sinais de vida e ardia no fogo que consumia a viatura... »    

                                                                                                                                                                      (do relatório do comandante da escolta).

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Ataque de um leão em Metangula

             
                                                                                                                                                      Domingos Pereira, foi soldado condutor da CCS do Batalhão de Caçadores 1891 e deu-nos o seu testemunho do ocorrido a 10 de Maio de 1967. Encontrava-me de convalescença no quartel em Metangula devido à viatura que conduzia a 1 de Maio daquele ano, perto de Nova Coimbra, ter rebentado uma mina. Um autóctone e o seu filho com 9 anos encontravam-se à pesca, com rede, junto às margens do Lago Niassa e próximos do Postos de sentinelas que haviam à entrada de Metangula de quem vinha de Nova Coimbra e de Maniamba. De repente foram surpreendidos por um ataque dum leão. Alertados pelos gritos os sentinelas foram ver o que se passava e depararam com um homem muito ferido no peito e no pescoço. Do quartel vieram reforços que transportaram o ferido para o hospital da Marinha que havia em Metangula. O ferido relatou então, que tinha lutado com o leão para salvar o filho, mas tal foi impossível depois de levar uma patada do leão que o deixou bastante ferido, ferimentos esses que o levaram à morte. Uma patrulha comandada pelo Alferes Presa na qual eu me incluía foi à procura do jovem e do leão. Não encontrámos quaisquer vestígios e conduzimos os soldados para os seus Postos ,3 em cada Posto.Como era de rotina às 24 horas de cada dia, o pessoal do Exército era rendido pelos Fuzileiros e foi quando estes se dirigiam para os Postos de vigilância, que ouviram tiros e lá chegados viram um soldado muito ferido e transportado aos ombros pelos seus 2 camaradas. O ferido foi conduzido para Metangula, daqui para Vila Cabral de onde foi transportado para a Metrópole. Os camaradas contaram que,lutou com bravura e o leão só fugiu quando foram disparados os tiros. Felizmente, recuperou e ainda hoje faz a sua vida normalmente.Atacadas as sentinelas, o Cmdt. do Batalhão deu ordens ao pessoal sob o comando de um Oficial e com a ajuda de 1 polícia e de vários Cipaios a “passar” a pente fino a serra em busca do jovem autóctone e se possível abater o leão. Depois de muitas buscas o animal foi encontrado debaixo duma árvore. O polícia aproximou-se o mais possível e desferiu-lhe um tiro que o matou de imediato. As buscas para encontrar o jovem foram retomadas e ao cair da noite foram dadas como encerradas e chegando-se à conclusão que tinha sido devorado pela fera. Este ataque era motivo de muita conversa e curiosidade e quando dias depois fomos recolher o animal, chegámos à conclusão que devido ao aspecto esquelético do animal, este devia ser muito velho e por isso abandonado pelo seu bando. A fome levou-o a atacar os humanos.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

sábado, 12 de março de 2011

Muitos daqueles rapazes continuam lá”




























António Lobo Antunes: “Muitos daqueles rapazes continuam lá”


A guerra é uma memória “dorida”, para António Lobo Antunes, mas o escritor afirma que foi em África que ganhou o “respeito” por si próprio.
“Eu só comecei a ganhar o meu respeito em África. Porque tinha vergonha de mim”, afirmou António Lobo Antunes numa entrevista à Agência Lusa, em Paris, onde esteve para promover a tradução francesa do romance O Meu Nome é Legião.
“Lembro-me vagamente de um discurso de Salazar. Julgo que, na altura, tomei por boa a explicação de uma revolta de bandidos e de canalhas que estavam fazendo coisas cruéis e horríveis em África e portanto o governo português mandava para lá uma força pacificadora, quase de polícia, para resolver o problema”, recorda hoje o escritor.
“Acho que me portei bem em África”, afirmou Lobo Antunes, que combateu em Angola como jovem oficial do Exército português em 1971-72.
“Consegui uma coisa que é muito rara e que é um dos meus orgulhos, que é o respeito dos meus soldados. Eram garotos de 20 anos. Eles só amam quem respeitam. Encontramo-nos todos os anos e a maneira como eles me tratam comove-me sempre. Se eu me tivesse portado mal, eles desprezavam-me”, declarou Lobo Antunes.
“Eu só tenho a dizer bem do Exército português. Os nossos oficiais, os que conheci, que eram poucos, portaram-se com imensa dignidade. Por paradoxal que possa parecer, tive orgulho de estar ao lado daqueles homens”, acrescentou o escritor, que ao longo da entrevista recordou a figura de Ernesto Melo Antunes, “um homem superior”.
Dos soldados portugueses em combate, Lobo Antunes diz que “os rapazes eram extraordinários”. Um oficial cubano disse-lhe mais tarde que “éramos grandes soldados. Então compreendi porque é que fomos nós que fomos à Índia”.
Sobre o comportamento dos soldados portugueses, o escritor recorda que “eram como os oficiais: obedeciam a quem respeitavam. Daí haver pelotões muito melhores que outros, porque havia oficiais mais corajosos que outros e com mais capacidade de decisão debaixo de fogo”.
A guerra foi para Lobo Antunes “uma aprendizagem muito lenta, muito difícil e cheia de culpabilidade”. Cada um tinha os seus valores mas “nunca houve uma conversa” sobre isso entre as tropas, sublinha Lobo Antunes, que recorda uma cena do filme “Non, ou a Vã Glória de Mandar”, de Manoel de Oliveira.
“Os soldados vão num Unimog a discutir da justiça e da injustiça da guerra. Fiquei furioso com aquilo. Nós lá estávamos apenas ocupados em chegar ao dia seguinte”, diz Lobo Antunes.
“Lembro-me de uma carta do Ernesto, lá: ‘Cada vez mais isto me parece um erro formidável’”, acrescentou o companheiro de armas e amigo de Melo Antunes, que morreu “com grande dignidade” aos 66 anos, vítima de um cancro.
“Continuamos todos em guerra”, responde Lobo Antunes quando questionado sobre o seu silêncio em torno dos anos na tropa, comum a muitos antigos combatentes.
“Nunca acaba. As outras pessoas não compreendem. Muitos daqueles rapazes continuam lá e o tema constante das conversas deles é aquilo. O sofrimento, a revolta, o horror daquilo tudo. Cada vez que eu como com os oficiais da minha companhia, sei que nessa noite não durmo”, contou Lobo Antunes.
“Um dos meus oficiais, que morreu há relativamente pouco tempo num acidente brutal de automóvel, estava um dia numa bomba de gasolina e um carro passou-lhe à frente e ele foi de imediato ao porta-luvas buscar a pistola. Um homem doce. Mas a primeira reação emocional dele foi imediata. Era muito difícil elaborar estas emoções. Havia como que uma regressão e voltávamos àquele estado”, recordou o escritor.
“É uma pena mas ainda não se fez o grande livro sobre a guerra. Tem que ser muito mais que um romance, tem que ser um documento e não é para mim”, conclui António Lobo Antunes. “Terá que ser feito com olhos mais frios e ser feito falando com aquelas pessoas. Com os soldados, não com os chefes.”







Recomendo que se leia atentamente ;


O ministro da Defesa, Augusto Santos Silva, enalteceu hoje “o esforço, a dor e a experiência” de todos os envolvidos na Guerra em África, exortando a que se “mantenha viva a memória e a lembrança” dessas pessoas.
Discursando na inauguração de três exposições da Liga dos Combatentes - Programa Afonso Henriques, As Três Frentes em África e A Guerra do Ultramar – no Museu do Combatente, o governante distinguiu o que disse ser uma “evocação de natureza universalista” da Guerra Colonial.


Santos Silva notou que as iniciativas evocativas dos 50 anos sobre o início da Guerra Colonial louvam “todos os que serviram nas Forças Armadas” de então, mas também “toda a rede” humana e as famílias envolvidas nesse processo, assinalando “o esforço, a dor e a experiência de todos”.


Numa cerimónia onde esteve acompanhado pelo presidente da Liga dos Combatentes, general Chito Rodrigues, e onde estiveram o chefe da Casa Militar do Presidente da República, general Carvalho dos Reis, e o ex-governador de Portugal em Macau general Rocha Vieira, para além de vários oficiais generais e almirantes, o ministro considerou que se deve celebrar também a relação que Portugal mantém com as antigas colónias.


“Hoje, somos amigos e irmãos daqueles novos Estados que surgiram”, afirmou, salientando especialmente as relações com Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe no quadro da cooperação técnico-militar e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).


Na sua intervenção, Santos Silva fez também referência a um tema que já abordou enquanto académico, elogiando “a experiência da integração dos retornados”, processo que considerou ter decorrido “de forma exemplar” e que é estudado “como um caso de sucesso”.


No final, aos jornalistas, Santos Silva disse que a dignificação dos ex-combatentes é “uma das prioridades da política de Defesa Nacional”, dizendo ser “muito bom poder contar, para além do trabalho próprio e das obrigações próprias da administração, com o apoio das organizações dos próprios combatentes”.


O governante rejeitou ainda que os militares que ficaram com sequelas físicas e psicológicas na sequência daquele conflito de 13 anos sejam esquecidos pelo Estado português.


“Não me parece, nem me parece que a sociedade portuguesa se caracterize por essa atitude, antes pelo contrário”, afirmou, assinalando que praticamente todos os portugueses têm familiares que estiveram directamente envolvidos na Guerra Colonial e considerando que “todas essas pessoas” e também as instituições “têm procurado cumprir o seu dever na integração dos antigos combatentes”.


 
Campas e Ossários de Moçambique














A preocupação com a situação em que se encontram as campas e ossários dos militares que serviram, combateram e tombaram por Portugal, inundados no estrangeiro e no território nacional, tem merecido desde sempre uma atenção permanente por parte da Liga dos Combatentes. Razões diversas, muitas vezes de natureza conjuntural, vinham colocando dificuldades à concretização de actividades sustentadas e exequíveis a levar a cabo pelas anteriores direcções. Neste quadro de incapacidades, as maiores implicações incidiram sobre as situações existentes no estrangeiro, já que, no território nacional, por acção dos Núcleos, da Direcção Central, de apoios camarários e de entidades diversas, vinha e vem sendo possível, por vezes com dificuldades, manter com dignidade, talhões, ossários e cripta situados em numerosos cemitérios espalhados pelo país.

As acções no estrangeiro eram cometidas aos Adidos da Defesa e Militares que, na directa dependência do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, alertavam e procuravam resolver algumas situações pontuais. É neste cenário que a anterior Direcção Central propôs, mais uma vez, a constituição de um Grupo de Trabalho para aprofundamento desta problemática, que mereceu a atenção, interesse e resposta pronta do Ministério da Tutela. Assim, por despacho de Sua Excelência o Secretário de Estado da Defesa e Antigos Combatentes, de Fevereiro de 2003, é aprovada a criação de um grupo que integra elementos dos três Ramos das Forças Armadas, do Estado-Maior General das Forças Armadas e do Ministério da Defesa, nomeadamente da Secretaria-Geral, Direcção Geral de Pessoal e Direcção Geral de Política de Defesa Nacional. A Liga dos Combatentes em Moçambique - Operação "Nova Frente"














Terminada a intervenção na República da Guiné-Bissau, a Liga dos Combatentes estabeleceu uma NOVA FRENTE – A REPÚBLICA de MOÇAMBIQUE, para prosseguir a sua actividade de Conservação das Memórias. Na observância dos objectivos desse seu Programa Estruturante, a Liga dos Combatentes partiu, em 4 de Setembro pretérito, para Moçambique e durante 19 dias deslocou-se pelo País, percorrendo a Norte as províncias de NAMPULA, NIASSA, CABO DELGADO e ainda o cemitério de GURUÉ na ZAMBÉZIA. A Sul, percorreu MAPUTO, INHAMBANE e GAZA reconhecendo os cemitérios municipais dessas províncias onde se encontram inumados militares que tombaram na I Guerra Mundial e na Guerra do Ultramar, identificando também alguns locais de inumação que se constituem actualmente em locais abandonados de vida humana e à mercê das alterações que a natureza introduz, tudo registando para posterior tratamento documental e concepção da acção de dignificação, a conduzir oportunamente.

Durante 19 dias, percorrendo as províncias referidas, concretizaram-se todos os objectivos definidos para esta acção de intervenção, devendo ser referido o bom estado de conservação geral de muitos cemitérios visitados e a colaboração das autoridades administrativas provinciais para ajudarem a localizar as campas situadas em zonas fora dos cemitérios. Cerca de 7 mil quilómetros percorridos em viaturas todo o terreno e várias horas de deslocação em avião (linhas aéreas de Moçambique) proporcionaram à Equipa de Missão da Liga dos Combatentes efectuar o total levantamento da situação em que se encontravam os Cemitérios e as Campas neles instaladas, ou fora deles, por forma a que o antecipado conhecimento que a Liga possuía dos locais e do quantitativo de Campas a identificar e posteriormente intervencionar, pudesse ser validado no terreno.

A situação real proporcionou ajuizar dos estragos que a natureza, as intempéries e os muitos anos passados sobre as inumações ocorridas têm provocado em Campas e em Cemitérios, partindo placas de cimento e destruindo identificação em muitas das Campas, provocando abatimento de solos e vendo crescer árvores de grande porte cujas raízes desagregam Campas e outras infraestruturas cemiteriais. No quadro anteriormente descrito, regista-se o cuidado das autoridades locais em preservar o que podem, pintando muros e armaduras de campas, evitando a degradação total de infraestruturas e proporcionando-nos a certeza de que têm preservado deliberadamente um espaço de memória física daqueles que tombaram. Há excepções, nalguns locais o abandono era total e elevado o desinteresse pelos Talhões de militares portugueses, mas os contactos com os Administradores do Governo Local proporcionaram criar uma relação que visa a contratualização de serviços de manutenção daqueles espaços.

A Equipa de Missão da Liga dos Combatentes não logrou contactos com Autoridades Governamentais do Governo Central de Moçambique, embora a Embaixada e o Consulado de Portugal naquele País tivessem diligenciado nesse sentido, mas a data da chegada a Moçambique da Equipa da Liga dos Combatentes constituía um momento singularmente delicado da governação do País e não possibilitou a credenciação documental da Missão, embora esta estivesse antecipadamente respaldada na intervenção da Embaixada de Moçambique em Portugal para garantir a boa execução da Missão, o que de facto veio a suceder.

Regressando a Equipa de Missão da Liga dos Combatentes a Portugal, em 22 de Setembro, validando o sentimento de ter cumprido o objectivo da Operação "NOVA FRENTE", a Equipa visitou 24 locais diferentes, todos os que se propunha visitar e "estudar", de Maputo a Tenente Valadim – esta a poucas dezenas de quilómetros da Tanzânia e a 50 quilómetros de Mavago, passando por Chibuto, Inhambane, Nampula, Angoche (António Enes) Malema (Entre Rios), Mirrote, Malapísia, Marrupa, Metangula, Mecaloge (Miranda), Mechuma (Nova Coimbra), Cuambo (Nova Freixo), Unango, Lichinga (Vila Cabral), Macomia, Mocimboa da Praia, Montepuez, Mueda, Palma, Quionga e Pemba. Ficaram bem alicerçados no terreno, para efeitos mediatos, os contactos com Administradores locais que activarão contratualmente melhorias já definidas e, em particular, com a Cônsul Honorária de Portugal em Nampula, neste último caso para se desenvolverem todas as diligências que viabilizem a construção de um Ossário que receberá as Ossadas dos militares a exumar de diversos locais das províncias de Nampula, Niassa e Cabo Delgado, num total estimado em cerca de 20.

A Equipa de Missão da Liga dos Combatentes regista o apoio logístico dos Irmãos Missionários da Consolata, não esquece o apoio institucional da Secretaria de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, da Embaixada e do Consulado de Portugal em Moçambique, destaca o apoio do Cônsul Honorário em Nampula – Dr.ª Maria Luísa e regista a colaboração da Direcção Geral de Política de Defesa Nacional através da Cooperação Técnico Militar Portuguesa – que tutela, em Maputo e Nampula. A Liga dos Combatentes voltará a Moçambique e à Missão de continuar a CONSERVAÇÃO DAS MEMÓRIAS em Junho de 2011, percorrendo, reconhecendo e "estudando o terreno" que a aguarda nas Províncias de Tete, Zambézia, Manica e Sofala, sem deixar de consolidar nas outras Províncias as tarefas já iniciadas.É oportuno deixar um testemunho de respeito e de admiração a todos os Militares portugueses que em Moçambique Serviram Portugal e que para tal enfrentaram o desconforto, o isolamento e a solidão imensa, dando de si o melhor. Pelas terras onde andámos, nós que estivemos também no Ultramar, não conseguimos deixar de progressivamente acumular um sentimento de profundo respeito por todos aqueles que, naqueles locais, fizeram da sua vida renúncia em favor de Portugal. A Equipa de Missão foi constituída pelo Major-general Fernando Aguda, pelo Tenente-coronel Álvaro Diogo, Tenente-coronel Carlos Correia e Sr. Joaquim Gaspar, antigos Combatentes em diferentes teatros de operações no Ultramar e actualmente membros da Liga.






domingo, 6 de fevereiro de 2011

FALAR DE GUERRA, DÓI !!!















Quem o diz é Lobo Antunes e eu concordo. Há algumas pessoas.....poucas, que ás vezes falam da guerra nas antigas colónias, mas nunca dizem tudo o que passaram, e se falassem, os que nunca lá estiveram não iriam compreender .
Um oficial superior dizia há tempo, que a juventude de hoje não estaria preparada para aguentar uma guerra daquelas. Quando os americanos foram para o Vietname, tinham uma juventude naquele tempo muito próxima da nossa actual e tinham os meios militares no (terreno) que nós nunca tivemos , nem hoje temos e eles não tinham quais queres complexos em usa-los. Correram mundo, as imagens de crianças queimadas, com as bombas que os americanos lançavam. Mas isso não impediu que fossem vergonhosamente derrotados.
É um facto que a guerra colonial deixou marcas em todos os que por lá passaram, nuns mais, noutros menos. Transcrevo um pequeno episódio contado por Lobo Antunes e publicado pela Lusa!


Um dos meus oficiais, que morreu há relativamente pouco tempo num acidente brutal de automóvel, estava um dia numa bomba de gasolina e um carro passou-lhe à frente e ele foi de imediato ao porta-luvas buscar a pistola. Um homem doce.
Mas a primeira reacção emocional dele foi imediata. Era muito difícil elaborar estas emoções..Havia como que uma regressão e voltávamos àquele estado!.......
Há reacções que pensamos já esquecidas que facilmente vêm ao cimo da nossa cabeça!


sábado, 29 de janeiro de 2011

Guerra Colonial, 04 de Fevereiro de 1961!


Fez na próxima sexta- feira 50 anos que começou a guerra colonial em Angola.

Um grupo de homens armados atacou algumas esquadras da policia e prisões em Luanda, matando seis policias e um militar do exercito português.
No mês de Março seguinte, no norte de Angola centenas de fazendeiros, mulheres e crianças foram massacrados.Por cá a população colava o ouvido aos rádios para saber noticias de Angola.
As tropas portuguesas só começaram a desembarcar em Luanda no principio de Maio de 1961.
Aqui começou uma guerra que se estendeu depois à Guiné e Moçambique, nas quais foram sacrificados milhares de jovens, durante 13 intermináveis anos.
Da propaganda do então governo de António Oliveira Salazar ficou esta celebre frase: Para Angola ...rapidamente e em força. E este hino tocado milhares de vezes na então Emissora
Nacional!....


Aqui vai o hino : Angola é nossa!




Alvalade-1558

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O ULTIMO ATAQUE A MIANDICA !

O Último Ataque a Miandica

Por:
António Carvalho
1º cabo Enfermeiros da CCAÇ 1558


Fiz parte do último grupo da Companhia Caçadores 1558 que foi destacado para Miandica.
Não vale a pena descrever as más condições, a todos os níveis, que lá passámos nos 3 meses que durava o destacamento, pois isso é do conhecimento de uma grande parte dos ex-militares que compunham o Batalhão de Caçadores 1891. Desde a falta de comida, correio, por vezes munições e tabaco, que foi muitas vezes a nossa única companhia.
Mas vou descrever um episódio, o último naquele lugar longe de tudo.
No dia 25 de Fevereiro de 1968, estava para chegar o novo grupo de combate que nos ia substituir, para podermos regressar a Nova Coimbra já que o nosso tempo de comissão estava a terminar.
Antes da chegada, combinado com todos os elementos, o alferes Quintas, que substituiu o alferes Sancho por ter sido ferido em combate, resolveu pregar uma partida aos “Checas”, trocando todos os postos, tendo ele passado a soldado e cabendo a mim o galão de alferes.



Quando chegaram os novos, depois de termos recebido as instruções para o novo desempenho de funções, dirigi-me ao graduado que comandava os “Checas” e apresentei-me como sendo o alferes Quintas.
Depois de uma curta conversa, comecei a mostrar as instalações, que eram fáceis de visitar, pois quase nada havia.
Andei por cima da barreira que nos protegia, com o já citado novo comandante, explicando-lhe quais as zonas consideradas mais perigosas e de possíveis ataques.
Passado algum tempo e conforme já previamente combinado, separei-me por uns momentos do meu interlocutor e rapidamente voltámos aos respectivos postos, coloquei os meus óculos escuros, graduados, para não ser facilmente reconhecido e então o verdadeiro alferes Quintas tomou o seu posto e foi ter com o seu homologo, contando-lhe a brincadeira a que tinha sido submetido.
Eu fui ter com o meu colega enfermeiro que me ia render e entabulei então a conversa normal de mais velho para mais novo, dizendo-lhe que a zona era perigosa, sujeita a ataques, que ainda não tínhamos tido nenhum por sorte, e que a vida ali era muito dura.
Recebi como resposta “isso é conversa de velhos para nos meterem medo, pois em Nova Coimbra disseram-nos que havia muitas minas pelo caminho e nada nos aconteceu” .
Cerca das 16.50 horas, quase mal tínhamos acabado esta conversa, sofremos sim um ataque, como penso ainda não se tinha registado por ali, a partir do mato junto à pista de aterragem, com morteiros, bazucas e canhão sem recuo.
Com a surpresa e porque os novos, segundo penso que foi essa a informação que eles me transmitiram, tinham chegado directamente da metrópole, não tendo qualquer experiencia de guerra, muitos, tiveram como reacção deitarem-se no chão não crendo no que lhes estava a acontecer.
Coube-nos a nós, velhos, rechaçar o ataque, e não me esqueço daquele acto do nosso colega, que não me lembro o nome mas a alcunha “França” que saltou para cima da barreira de protecção e a descoberto, com raiva descarregou os carregadores da G3 para a zona de onde provinha o ataque.
Mas, infelizmente a primeira granada que é disparada pelo inimigo cai dentro do acampamento e mata o meu grande amigo Fernandes, que era o padeiro e que ao sentir o ataque desloca-se á barraca que nos servia de abrigo, buscar a G3 e quando ia para a barreira foi atingido, ficando com a cabeça quase desfeita, (o Fernandes está na foto anexa a almoçar e com uma caneca na mão.

Mas o pior estava para acontecer, como o ataque tinha sido perto das 17 horas, e o inimigo também sabia, a aviação já não nos podia socorrer, embora tenha sido pedida a evacuação via rádio, ainda a 25 de Fevereiro.
No dia 26 de manhã, apareceu o helicóptero para fazer a evacuação, só que não havia feridos, mas um morto.
O alferes Quintas recebeu como resposta que não evacuavam mortos e que teríamos de o enterrar no mato em Miandica, tendo o mesmo dito que isso não faria, mas o carregaríamos mais de 40 km a corta mato, às costas, até Nova Coimbra, já que íamos regressar no dia seguinte aquele quartel para regressarmos a Portugal.
O comandante da aeronave, penso que tocado no coração, resolveu levar, contra todas as ordens, o corpo para Nova Coimbra.