Honra e Gloria aos que tão novos lá deixaram a vida. Foram pela C.C. S.-Manuel Domingos Silva!C.Caç. -1558- - Antonio Almeida Fernandes- Alberto Freitas - Higino Vieira Cunha-José Vieira Martins - Manuel António Segundo Leão-C.Caç-1559-Antonio Conceição Alves (Cartaxo) -C.Caç-1560-Manuel A. Oliveira Marques- Fernando Silva Fernandes-José Paiva Simões-Carlos Alberto Silva Morais- Luis Antonio A. Ambar!~

O BATALHÃO CAÇ.1891 CUMPRIMENTA EFUZISAMENTE TODOS OS QUE NOS VISITAM ..DESEJANDO A TODOS UM BOM ANO DE 2021!


José do Rosário...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

“ EIS PRECISAMENTE COMO SE ESCREVE A HISTÓRIA”

Por: Fernando Marques Oliveira
CCAÇ 1560

Assim se iniciou a alocução proferida a 21 de Janeiro de 1968, aquando da inauguração do monumento alusivo à passagem por Maniamba da CCAÇ 1560.
Naquele tempo, fomos cimentando a ideia de que algum marco deveria ficar no quartel para que, desta forma, se perpetuasse a passagem da 1560 por terras de MANIAMBA.
Foi então que nos ocorreu a construção dum singelo, mas significativo, monumento que marcasse não só “os momentos de alegrias, onde éramos assaltados pelas saudades dos ente queridos”, mas também “ os de muita amargura e tristeza, aqueles em que vimos cair em combate alguns dos nossos camaradas”.
Rebuscando no nosso baú de recordações, conseguimos encontrar duas significativas fotografias que nos ajudarão a explicar, mais claramente, a sua simbologia.
Assim o monumento (1º Foto), para cuja concepção muito contribuíram o médico da companhia, Dr. Licínio Poças e o Alferes Pedro Salazar, assenta numa Cruz de Cristo feita em capim e pedra tendo a cercá-la uma vedação de pilares de madeira com corrente de ferro. O pedestal, é constituído por um tronco de pirâmide, tendo numa face a inscrição BCAÇ 1891, noutra CCAÇ 1560, noutra, ainda, a expressão com que se inicia a alocução, finalmente, na quarta face o nome de todos os camaradas caídos em combate (2ª Foto). Sobre o pedestal, assentam as mãos em oração tendo-lhe sido cravado entre o polegar e os restantes dedos unidos, um espigão encimado com a Cruz de Cristo.
Na inauguração, presidida pelo Comandante do Batalhão Tenente-Coronel José Rodrigues Maria da Matta, formaram as tropas em parada.
Lembrámo-nos de narrar este facto, ocorrido em 1967, por entender-mos que ele é, seguramente UM POUCO DE HISTÓRIA DA GRANDE HISTÓRIA “ escrita” pela Companhia 1560 por terras de Moçambique.
Gostaríamos, muito sinceramente, de um dia voltar a Maniamba para recordar os tempos que lá passámos.


NOTA: Em itálico excertos da alocução proferida na inauguração do Monumento

Texto transcrito da Revista nº5 “O Batalhão” de 1999



“ EIS PRECISAMENTE COMO SE ESCREVEU A HISTÓRIA”


Em Setembro de 2004, um grupo de companheiros foi em romagem de saudade a Moçambique. E o sonho do Fernando Oliveira e de outros companheiros foi concretizado.

Naquele dia a alvorada em Lichinga (Vila Cabral), aconteceu bem cedo, pois a jornada antevia-se activa às muitas visitas agendadas aos antigos aquartelamentos, localizados o corredor de Metangula.
Previam-se tabém várias emoções por parte de alguns companheiros, aquando da passagem por certos lugares.
A primeira de uma delas, foi quando parámos junto ao RIO LUALECI para prestar uma simbólica, mas sentida homenagem a três camaradas da CCAÇ 1560 que faleceram a 28 de Fevereiro de 1967 ( Ver no Blog a crónica de Germano Rio Tinto “TODOS FOMOS PORTUGAL”, em consequência do accionamento de duas minas anti-carro quando ali se deslocaram para verificar a segurança da ponte.
O Fernando Oliveira, na foto de camisa branca, foi um dos, então, se deslocou ao local para prestar auxílio aos camaradas sinistrados.

Nas Fotos obtidas em Maniamba em 2004, pode-se ver o Fernando Oliveira a conversar com o “Mainato” do Alf. Âmbar, morto em combate em 1967 naquela região. Na outra foto, o Manuel Pedro Dias junto ao Monumento de homenagem aos falecidos da CCAÇ 1560.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Todo Fomos Portugal


P o r : G e r m a no Rio Tinto
C . C a ç. 1 5 6 0

M a s a alma acesa não aceita
E s s a m o rte absoluta, o nada
D e q u e m foi Pátria, e fé eleita
E u n g i d a espada

A i n d a de longe nos anima,
I n da na alma nos conduz.
G l á d i o de fé erguido acima
Da nossa cruz !

Nada sabemos do que oculta
O véu igual de noite e dia.
Mesmo ante a morte a Fé exulta:
Chora e confia.

F e r n a n d o P e s s o a
M e n s a g e m


Naquele 28 de Fevereiro de 1967 cumpriu-se Portugal. Estar presente, meramente presente, foi ser fogo e vida,

ainda que mediante o horror dos corpos tisnados dos nossos queridos amigos.

Deus não escreve a História por acaso. Ele, o grande autor da História de Portugal no Além - Mar, quis e a gesta cumpriu-se. Quem ficou e quem partiu? Quem na verdade vive e quem está morto

Portugal revive nos seus heróis, aqueles que construíram a sua amizade debaixo de fogo, unidos no laço indissolúvel
que o perigo gera e edifica. Assim foi naquela manhã baça
do 28 de Fevereiro, quando partimos ao encontro do LUALECE e ELES não voltaram...

Quem ficou e quem voltou, quem está ausente e quem está presente? Hoje, no nosso coração fervente de saudades, vós estais, amigos de sempre: Simões,Fernandes e Morais!

O sol deverá pôr-se vezes sem conta no Indico, fazendo refulgir no arrebol as tintas de Sangue de Vasco da Gama.
Perto de Vila Luiza, na planície de Macontene, o busto de Mouzinho há-de ainda soerguer-se e apontar a gesta lusitana.
No Limpopo os hipopótamos levantar-se-ão carregados
de nenúfares. Mas no planalto de Lichinga (Vila Cabral)
saudade será maior, e os nossos olhos terão ali ficado vertendo lágrimas, que em torrentes, irão descer até ás moradas dos Macuas e subirão, transformadas em orvalho , pelas espigas da machamba verdejante.

Só como poetas (e em cada homem há um poeta ,mais ou menos evidente) poderemos algum dia entender que aqueles Amigos estão vivos. Ainda que a aparência nos diga o contrário, havemos de que a morte é epílogo da vida, a salvação triunfante que contém o néctar do nosso esforço, a passagem suave para os braços do Criador, o convívio com o Senhor dos Tempos. Como diz o poeta brasileiro, a minha morte nasceu quando eu nasci, porquê tantas lágrimas afinal?

Manhã nebulosa aquela...Só os anjos vislumbraram, por entre as nuvens, a cor do destino. E quando o fumo cinzento se elevou ao céu, exalando o cheiro nauseabundo da gasolina embebida nas areias e, prostradas por terra, gritávamos o nosso desespero. Deus sorria.

Que tontos os homens, afinal.

Todos fomos Portugal.....




********************************




Como fazê-lo apenas amando e servindo até ao dia em que nos encontraremos de

novo e Viajaremos juntos


nessa picada
desminada, raiada de luz, onde o sol brilha

mais forte que.
A própria alma..

Germano de Jesus Rio Tinto
Alferes da C.Caç 1560

Texto transcrito da Revista: O Batalhão n.º3 de 1997








segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Dois Depoimentos do desastre de 22/05/1967 em NOVA COIMBRA

NUNCA HOUVE UMA GUERRA SEM MORTANDATE.
O MAL É DA GUERRA E DE MAIS NINGUÉM

Jaime Neves
General Comando

Estávamos em 21 de Maio de 1967, quando ao cair da noite fomos informados que no dia seguinte bem cedo partíamos para uma operação na zona do Lunho.
Durante o serão e como sempre, esgotámos tudo o que era bebível... cerveja, laranjada e até a popular DOLKA ( leite com chocolate). Sim, porque a ideia dominante que sempre nos acompanhou, é que havia ir, mas voltar era uma incógnita.
Os Cipaios que geralmente nos acompanhavam, armazenavam no cantil todo o vinho que podiam receber. Pelo contrário, nós tentávamos levar o máximo possível de água nos cantis.
Quando chamei a atenção aos Africanos que eram os carregadores do material Rádio, responderam-me que íamos encontrar muita água. E foi a água a causa maior da nossa desgraça.
Depois de palmilharmos alguns Kilómetros encontrámos uma fonte, onde tudo o que era Africano e depois de terem bebido toda o vinho "água de Lisboa" preparavam-se para se abastecer de água. E aí começaram a rebentar as armadilhas. Mais de uma dezena de feridos, entre eles o Alf.Sancho (hoje já falecido) que viria a ser evacuado para a Metrópole.
De imediato enviei um ZULU para o Comando do Sector a pedir evacuações.
Quando já dois hélios piravam no sobre nós, eu com o rádio HC dava indicações aos pilotos onde deviam poisar. Caminhava por uma vereda, ouvi uma voz atrás de mim: deixa-me passar "Alvalade", era o Cabo Leão, deu dois ou três passos e pisou uma mina anti-pessoal. Ficou todo queimado da cintura para baixo. Só nos pedia que acabássemos com ele. A sua missão era que com a sua secção fazêr a segurança aos helicópeteros. Se não fosse o Leão a pisá-la pela certa teria sido eu.
Depois da evacuação até Nova Coimbra, local onde os feridos esperaram pelas DO que os transportaram até ao hospital de Vila Cabral, o Cabo Leão morreu.
Quando retirámos e já no quartel, verificámos que com a azáfama do tratamento e evacuação dos feridos, deixámos duas G3 no terreno.
No dia seguinte, aparece no nosso barracão, o Alf.Monteiro (hoje falecido) a pedir voluntários para irem ao local do onde deixámos as armas. Voluntários a regressar ao local onde tínhamos tiso 17 feridos e um morto, tudo por causa de minas e armailhas? Missão quase impossível a do Alf.Monteiro.Depois de muita retórica e algumas piadas a incentivarem-nos lá fomos buscar as armas. Já no local, de cada vez que se dava um passoesperava-se rebentar outra mina. Felizmente que nada aconteceu.
Depois da evacuação dos feridos, de permeio, tivemos no Quartel de Nova Coimbra, a visita do Comandante do Batalhão Ten Coronel José Rodrigues Maria da Matta, (hoje já falecido) e a do nosso Capelão.
Deste episódio ficou-me na memória uma frase dita na homília pelo sr.Capelão que passo a citar: DEUS ESTÁ CONNOSCO. Como alguns dias depois retomámos a mesma operação, vim a confirmar que Deus também estava com os guerrilheiros da Frelimo.
Mas isso fica para contar mais tarde...

José Rosário
CCAÇ 1558

OUTRA VERSÃO DO DESASTRE DE 22 DE MAIO DE 1967

Eu, como Cabo Enfermeiro, fiz do grupo que foi socorrer os acidentados. Vinha eu com a ajuda do Furriel Júlio com um ferido na maca, não me lembro quem era, para o levar para uma clareira onde os helicópeteros íriam poisar. O Cabo Leão ía à minha frente com o seu Morteiro e com a
minha G3 e a do Júlio. No percurso o Leão rebentou uma mina anti-pessoal.
Assisti o Leão, como enfermeiro,e as únicas palavras que ouvi da boca dele foram " Carvalho, a minha mãe bem disse que não me voltava a ver" respondi-lhe para o acalmar: tem calma Leão que isto não é nada de grave. Claro que não era assim pois ele tinha perdido uma perna até um pouco acima do joelho, parte da carne das nádegas desapareceu e tinha os testículos pendurad
Dei-lhe duas injecções de morfina i vitamina K, já que estancar as hemorrogias era impossível.
Para embarcar o Leão no helicópetero pedia ajuda a quem estava ao meu lado. Disse-lhe com brosquidão: car...ajuda aqui. Respondeu-me uma voz meiga e terna, estou aqui para o ajudar. Ao ouvir aquela voz que só poderia ser de mulher, caíram-me os "tomates ao chã".
Era uma Enfermeira Paraquedista.


António Carvlho
CCAÇ 1558


NOTA DO BLOG
Estas versões, que ambos os autores foram testemunhas, sobre o mesmo acontecimento parecem contraditórias entre si . No meu entender que não estive no local mas sim em Nova Coimbra, são verdadeiras. Quando o Carvalho diz que transportava juntamente com o Júlio um ferido numa maca,o Leão ía à sua frente e atrás do Zé Rosário. Daí este ter ouvido o pedido do Leão para deixá-lo passar. O ferido que o Carvalho diz não se lembrar era segundo relato da época o Furriel Moutinho que chegou a ser dado como morto em Nova Coimbra mas que felizmente sobreviveu.


Amadeu Silva
CCAÇ 1558
































terça-feira, 10 de novembro de 2009

EM 2004,EX: MILITARES REALIZARAM UMA VIAGEM DE SAUDADE A MOÇAMBIQUE

Cerca de quatro décadas depois, encontrámo-nos, de novo, num outro cais de embarque para rumarmos a Moçambique e com destino aos mesmos locais que então nos foram atribuídos. Na bagagem levávamos um enorme espólio de expectativas e um desejo ilimitado de voltar a pisar solo, o que outrora não queríamos de forma alguma fazer.
No aeroporto da Portela,contrariamente ao sucedido na Rocha Conde de Óbidos, aquando do primeiro embarque, era notória a alegria estampada no rosto do "contigente ex-militar",prestes a embarcar para esta segunda "Comissão de Serviço".
Durante a permanência em Maputo o grupo foi recebido por representantes da Associação dos Combatentes da Liga da Luta Nacional, chefiados pelo seu presidente, Dr.Gideon Ndobe.
O encontro teve lugar na sede do Partido Frelimo, uma vez que esta Associação ainda não possui instalações próprias. Usaram da palavra o José Arruda, organizador da viagem, um representante da Frelimo, o presidente da ACLLN e dois companheiros de viagem, um deles, o Fernando Oliveira, que fez a oferta de alguns porta-chaves com o emblema gravado do B.CAÇ 1891.Presentes alguns elementos da Frelimo entre eles uma senhora.
De Lourenço Marques o autor pouco se recorda, a não ser da Praça Mousinho de Albuquerque e da sua área envolvente, nomeadamente o café Continental, ponto obrigatório de passagem de todos os desfiles. Por ser ponto estratégico para os fotógrafos, que por acorriam, aparecia quase sempre em todas as fotos da época.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

VILA CABRAL-LICHINGA




















A região de LICHINGA, face à grande diversidade de climas, relevos e solos, dispõe de excelentes condições para incrementar um promissor e desejado progresso, que já se nota existir em determinados sectores.
Foi já ao cair da tarde de 6 de Outubro de 2004 que entrámos em Lichinga.
Entretanto e com alguma panoramica da cidade observada, chegámos ao "Hotel" Chiwindi, onde iríamos ficar instalados durante dois dias.
O grupo de visitantes convidou para o jantar do segundo dia o presidente do Município de Lichinga que, após a refeição, proferiu um breve discurso onde salientou,com fluentes palavras, a amizade que une Portugal a Moçambique, tendo agradecido a nossa presença na sua cidade.
Após a simpática recepção, visitámos, acompanhados por um antigo Oficial da Frelimo, actualmente com a patente de Brigadeiro, Sr.Bernardo Moisés, as antigas instalaçoes militares que estão a ser devidamente recuperadas para serem transformadas no Instituto de Formação de Administração Pública e Autárquica e que irá ter capacidade para 300 alunos.
Seguidamente e ainda acompanhados pelo referido oficial, dirigimo-nos ao cemitério, já desesactivado, em romagem ao talhão onde se encontram sepultados antigos camaradas combatentes.
Sem procuração para tal, mas com a certeza de que nos seria passada por todos, queremos expressar, em nome de PORTUGAL, o nosso sentido agradecimento pelo modo digno como preservam a memória dos nossos compatriotas falecidos e que outrora eram designados por vós, legítamamente, a guerra é assim mesmo, de inimigos. BEM HAJAM














NOVA COIMBRA





Os escassos 18 Kuilómetros que distam de Metangula ate ao antigo quartel de Nova Coimbra foram percorridos por caminhos
conhecidos: as Missões de Messumba e de Nova Coimbra, esta por razões evidentes , já com outro nome- MEVCHUMA- e o aldeamento, este densamente povoado. Um pouco mais à frente
encontrámos um marco de estrada que nos provocou, ao lermos o nome nele inscrito, o impulso, dentro da viatura, de "bater uma chapa". Referimo-nos à povoação do LUNHO, "capital do Estado de Minas Gerais".
Minutos depois chegámos ao local do antigo aquartelamento de Nova Coimbra , praticamente em ruínas. Apurámos que a sua destruição ficou a dever-se, em parte, a violentas batalhas ali travadas entre a Renamo e a Frelimo.
.









domingo, 8 de novembro de 2009

METANGULA


Quando de Maniamba iniciámos o percurso até Metangula, através de picada pouco conservada, levávamos a imagem, noutros tempos fixada na retina, do começo da grande encosta, onde forçosamente nos detínhamos, para abraçar o espectáculo grandioso da baía de Metangula. Se ali fôssemos colocados colocados incognitamente, diríamos que estávamos perante um grande mar, tal a grandiosidade e a impressão que se colhe daquela enorme massa de água, de que não se vê o fim, chamado LAGO NIASSA.O nome Metangula provém, segundo se diz, de um clã que habitou um lugar chamado METANGONI, o que parece identificar-se com Metangula. Desde 1963 até à independência, passou a chamar-se AUGUSTO CARDOSO, mas este antropónimo não teve grande aceitação por parte da população.
Qual "clic" mágico e aos solavancos da viatura provocados pelo mau estado da picada, reavivámos tudo o que atrás acabámos de descrever. Na nossa frente, imponente e majestoso, o Lago dava-nos as boas-vindas. Ao chegar a Metangula , sentimos uma certa desilusão pois, sinceramente, esperávamos encontr´-la mais "bonitinha", mas o Lago encarrega-se de disfarçar esta ou aquela "mazela". Alé disso a nossa missão era visitar as antigas instalações do aquartelamento, disperso ao longo da vila. Entretanto tentámos rever o antigo quartel da Marinha que actualmente se mantém com as mesmas funções. Apesar de sermos cordialmente bem recebidos pelo Oficial de dia, a nossa visita não foi autorizada.
Na praia de CHUANGA (foto do Lago) era o local onde a CCAÇ 1558 ía recolher a água. Era um tralho hercúlo, vis que eram carregados a balde para cima de Unimogs cerca de 1500 Litros de água.

sábado, 7 de novembro de 2009

MANIAMBA





Rodámos alguns quilómetros "escoltados" pela serra JECI, por caminhos noutro tempo tão perigoso, até nos determos em MANIAMBA.



A população aumentou assustadoramente, por toda a parte se viam crianças, adolescentes e adultos sem ocupação alguma. As crianças cercaram as viaturas de mãos esticadas para obterem sem saber o quê. Uma vez mais o complicado processo de distribuição de lembranças, canetas, camisolas, rebuçados e até algum pão que trouxemos do pequeno almoço redundou numa tremenda confusão.
Encontrámos também lavrado numa pedra , enctavada entre duas rochas, o nome de uma Companhia que por ali passou em 1965, a de Caçadores 1478.
Seguidamente, iniciàmos a visita às antigas instalações militares, que se encontravam praticamente todas em ruínas, excepção feita aos monumentos deixados por antigas Companhias em homenagem aos seus mortos. Consideramos este o facto mais significativo da nossa visita, pois não imaginávamos que estes símbolos conseguissem perdurar ao longo de tantos anos. Eram visíveis, ainda, os nomes, inscritos na pedra, de alguns camaradas falecidos.
Quando nos detínhamos junto ao monumento erigido pela CCAÇ 1560, o Fernando Oliveira foi abordado por um residente que lhe disse estar a conhecê-lo, adiantando que (apontando para um nome inscrito no pedestal) tinha sido MAINATO (criado) deste Alferes, O Alferes Ambar. Acrescentou ainda que, de quando em quando, vai colher uma ou outra erva daninha que cresce em redor do monumento.
Efectuámos, de igual modo, uma breve abordagem pela povoação, verificando que alguns edifícios civis do nosso tempo ainda se mantêm em pé e funcionais, como é o caso do hospital, da casa do Administrador, a capela e outros. Maniamba, face às excelentes vias de comunicação que a ligam à capital da província do NIASSA, Lichinga, tem bases para progredir no futuro, mas pelo que observámos parece-nos que será um futuro muito longo.











quinta-feira, 5 de novembro de 2009

LUALECI




Saímos de Lichinga bem cedo, pois a jornada antevia-se activa face às muitas visitas agendadas aos antigos aquartelamentos , localizados no corredor de Metangula. Previam-se também várias emoções por parte de alguns companheiros, aquando da passagem por certos lugares.
A primeiro de uma delas, foi quando parámos junto ao Rio Lualeci para prestar uma simbólica, mas sentida homenagem a três camaradas da CCAÇ 1560 que faleceram naquele local em 28 de Fevereiro de 1967 ( Lêm no Blog as crónicas "O Inimigi Escondido" e "Todos Fomos Portugal" de Germano Rio Tinto.
O Fernando Oliveira, na gravura de camisa branca, foi um dos que, então, se deslocou ao local para prestar auxílio aos camaradas sinistrados.
Feita a viagem rumámos até Maniamba.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

GILÉ

Deixámos Nampula bem cedo levando na bagagem enorme ansiedade, já que iríamos dar início à verdadeira razão que nos levou até Moçambique - visitar os antigos aquartelamentos por onde andámos, nos anos de 1966 a 1968.
Ficámos surpreendidos com o movimento existente naquela via, especialmente de transeuntes montados nas suas "gingas".
A Zambézia encontrava-se ao nosso alcance, uma vez que se vislumbrava já o serpentear do rio LIGONHA que divide esta província com a de Nampula.
Já perfeitmente integrados na Zambézia , a caminho do nosso primeiro "aquartelamento"- o GILÉ fizemos uma breve na Missão de Nossa Senhora da Anunciação em MOPEIA.
Chegados ao GILÉ, fomos , apresentar as Boas Vindas ao Administrador lcal. Seguidamente guiados por um companheiro de viagem, o Fernando Oliveira, que "habitou" aquele quartel, visitámos as antigas instalações militares as quais, segundo os seus antigos moradores, se encontram muito transformadas algumas mesmo em ruínas.
Antes da partida foram distribuídas algumas lembranças pelas crianças locais. Ete acto foi um pouco conturbado já que a juventude, ao aperceber-se da situação, acorreu em massa no sentidode tentar obter o desejado brinde.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

ALTO MOLÓCUÉ




Vindos do Gilé a caminho do ALTO MOLÓCUÉ, atravessámos terrenos pertencentes à Reserva Nacional do Gilé, projecto financiado pela União Europeia.
Entretanto, dois companheiros de viagem, pertencentes ao BCAÇ 1891, que residiram no Alto Molócué, davam sinais de que o "objectivo" estava à vista dado estarmos a passar junto à Missão católica, um ponto essencial de referência.
Dado as antigas instalações militares se encontrarem dispersas ao longo da vila, dirigimo-nos ao local onde, outrora, se instalavam, normalmente, os comandos das 13 Unidades que por ali passaram, de 1963 a 1970.
Finalmente , encaminhámo-nos para o ponto alto daquela visita, essencialmente para os dois "Alto Molocuenses". Referimo-nos ao local onde se situava o quartel propriamente dito, uma velha e ampla fábrica adaptada para esse efeito. Encontrámos algumas daquelas instalações já sem cobertura, mas todas elas com as paredes laterais de pé, o que lhe conferia a traça inicial.

GURUÈ---VILA JUNQUEIRO




Vindos do Alto Molócué e com cerca de catorze horas de viagem, alcançámos, já as estrelas se tinham acendido no céu, a cidade do GURUÉ. Apesar da pouca luminosidade irradiada, quer por aqueles astros, quer ainda pela ténue iluminação pública, dava, no entanto, para ir identificando os lugaresque nos ficaram gravados na memória, aquando das nossas muitas idas do Molumbo àquela localidade.
O Gurué, primitivamente chamado de NAMULIA , foi mais tarde rebaptizado de VILA JUNQUEIRO , em homenagem ao homem que mais fez pelo cultivo da planta do chá naquela região. Após a independência voltou à anterior designação. Todavia, é bom realçar que há belezas naturais que o homem difícilmente consegue destruir. A paisagem envolvente do Gurué é uma delas.
Será que ainda é de Moçambique grande parte do chá que se bebe no Mundo? Duvidamos! Todavia, os Montes Namuli continuam, como dantes, a dar à região o "prodígio" climatérico para o desenvolvimento daquela cultura. Aproveitem-no,homens de boa vontade. Faz clik nas fotos 1 e 2. Ambas foram tiradas na mesma rua mas em sentido contrário a nº1 em 2004 e a 2 em 1968.

sábado, 31 de outubro de 2009

MOLUMBO

MOLUMBO
Manhã cedo, parte do grupo do qual fazíamos parte deslocou-se ao Molumbopara visitar esta localidade. Realçamos que esta visita foi a razão principal que nos levou a efectuar tão longa viagem a terras moçambicanas.
O percurso, outrora tantas vezes percorrido, foi saboreado quilómetro a quilómetro. A agitação no grupo aumentou de intensidade quando começámos a avistar, já de perto, o enorme morro sobranceiro à povoação do Molumbo


Apresentadas as "credencias" à
Administradora da localidade, que nos recebeu gentilmente, iniciámos a visita aos locais que a memória fielmente guardava. Quer nós quer os outros quatro "molumbianos", identificámo-los todos um por um, sem hesitação. A cantina civil, a loja do monhé,(click nas fotos) o campo de futebol e ainda, com as mesmas funções, o caminho tantas vezes percorridos do quartel à cantina , agora ladeado de imensas palhotas. Todavia foi a velha prisão (clik na foto) da Administração local, cedida ao Exército em 1966 para aquartelamento da primeira unidade militar, a CCAÇ 1559, que mereceu honras de visita mais demorada. Recordámos com alguma emoção os17 meses que ali permanecemos.
Encontrámos ainda duas figuras do nosso tempo, bastante idosas, mas muito lúcidas, com quem travámos diálogo: o Regedor e a Rosa, mulher do Ibraímo, esta sofrendo já de cegueira quase total.Três horas depoi, com o sonho concretizado, voltámos ao Gurué para nos juntarmos ao resto do grupo e prepararmos, após o almoço, a partda para Cuamba (Nova Frexo).



quarta-feira, 19 de agosto de 2009

OS Nossos Encontros

Por: Manuel Pedro Dias


O cenário desenrola-se no alto do Parque Eduardo VII, em Lisboa. Na Rotunda, de costas viradas, talvez por “ciúme” ou “inveja” por não participar do espectáculo, estava o Marquês de Pombal, imponente no seu pedestal, olhando o Tejo, esse rio testemunha de tantas tristezas e alegrias dos portugueses.


Entretanto, no palco, as figuras movimentavam-se excitadas sem que o “contra-regra” conseguisse impor uma ordem lógica à cena. Paradoxos como rir, chorar, abraçar e empurrar eram frequentes, porquanto tinham já decorridos 20 anos até ao reencontro de velhos camaradas que tinha cimentado grandes amizades nas circunstâncias sobejamente conhecidas de todos nós.


Porém, os figurantes de 2º plano, atónitos com tal “espectáculo” Exclamava entre si: Uma “peça como esta nunca vimos…”
Fica aqui uma pequena retrospectiva de todos os nossos encontros:

      domingo, 21 de junho de 2009

      Uma Distribuição de Correio

      Molumbo,1966
      Por: Manuel Pedro Dias

      Dez horas da noite. O Unimog tardava da viagem que fizera a Vila Junqueiro com a missão de trazer o correio. Não estávamos receosos que algo tivesse acontecido, pois sabíamos que quem fazia aquela viagem, sempre muito disputada, se esquecia de regressar, em virtude de, naquela bonita vila, rainha do chá, encontrar atractivos suficientes para compensar o tédio vivido no Molumbo. Estávamos, isso sim, desejosos de ver na nossa frente o saco de correio com o seu precioso conteúdo. O tempo decorria. A rapaziada deambulava em redor do aquartelamento, impaciente. Ninguém se deitava. Se tantas noites se perdiam, obrigatoriamento, em patrulhas e sentinelas, porque não esperar até de manhã, se necessário, para receber a mensagem tão desejada?
      Ao longe avistam-se os faróis do unimog. Quase em uníssono foi ouvida a frase: - Lá vem ele!- com a chegada da viatura a algazarra e a axcitação recrudesciam. Entretanto uma voz se eleva acima de todas:
      - Todos para a cama seus <<>>- gritou o Capitão Veiga – hoje não há correio para ninguém. Estou farto de dizer que não quero barulho
      -Oh meu capitão- disse um- a malta está sossegada. Dê lá aordem para distribuir o correio.
      -Oh meu capitão - disse outro- então eu estou à espera de carta da miúda que já da última vez não mês escreveu. Não nos faça uma coisa dessas.
      As solicitações foram surgindo, embora os que conhecem bem o capitão Veiga soubessem que a distribuição seria efectuada.
      - Lontrão, abra lá o saco e dê o correio a estes <<>>, mas sem barulho estão a ouvir?
      À luz do petromax, os nomes iam surgindo sempre seguidos dos clássicos: <<>> ou <<>>. Finda a tarefa da distribuição, vinha para alguns a desilusão e a tristeza, e que tristeza, pois só quem viveu esses momentos pode avaliar o que é não receber uma carta dos seus entes queridos. Para outros, o mais felizardos, havia que procurar qualquer foco de luminosidade e <<>> num ápice toda a correspondência, porque os pormenores, esses, seriam feitos numa 2ª,3ª ou 4ª leituras. Entretanto, os analfabetos aguardavam, ansiosamente, de carta na mão, que o seu amigo mais íntimo, (pois estas particularidades não se davam a qualquer um) acabasse a leitura da sua missiva para, de seguida, lhes ler as notícias dos seus familiares. Refiro-me a propósito, que no final da comissão, muitos destes homens já saberiam ler e escrever, graças à sua força de vontade, e à disponibilidade de alguns elementos da companhia, que ministravam as aulas de acordo com o seu tempos livres.
      No dia seguinte, havia que pôr toda a <<>> pois, a qualquer momento e por qualquer motivo, uma viatura poder-se-ia deslocar a Vila Junqueiro, aproveitando assim para transportar o correio. Então, por todos os lados se viam homens escrevendo, sentados nas camas, na escadaria do aquartelamento ou em qualquer outro lugar, tendo como mesa os próprios joelhos. As esferográficas corriam céleres sobre o papel, mas de vez em quando, um ou outro parava. Havia que meditar, por vezes, na mentira a pregar aos familiares mais queridos, não lhes contando o modo como vivíamos, mas, pelo contrário, dar-lhes a ideia que não lutávamos com qualquer carência - a nossa vida era um <<>>…
      Uns diziam que trabalhavam na secretaria nunca indo, por isso, para o mato. Assim, havia que montar um sistema bem organizado com o envio de cartas, quando chegava a sua vez de partir efectivamente para o mato. O único processo era deixar aos companheiros, no aquartelamento, as cartas já escritas e numeradas para serem enviadas com a devida ordem. Deste modo, os seus familiares nunca sentiriam a falta do correio.
      Outros, respondendo ao apelo dos pais - come bem meu filho não te deixes emagrecer, vê não adoeças- diziam: Qual quê meus pais aqui, felizmente, não há dificuldades, veja bem que hoje o nosso almoço foi bife com batatas fritas ( este prato durante 11 meses que permanecemos no Norte, nunca nos passou pela frente ). Outros, ainda com a imaginação mais fértil, retirávamos bancos do unimog, colocavam-nos debaixo duma árvore florida, convidavam um ou dois <<>> e <<>> uma fotografia que enviavam e diziam que estavam num bom e aprazível local que até possuía jardim.
      Eram estas e outras mentiras análogas que nos deixavam com uma certa sensação de alívio, ao pensarmos que, com elas, minimizaríamos a angústia vivida pela grande maioria dos nossos familiares.
      Se para nós a chegada duma carta actuava com uma enorme força sobre os nossos espíritos, qual <<>>, o mesmo se poderia dizer em relação aos entes queridos na Metrópole, pois eram elas o único elo de ligação que nos unia.
      Ao encerrarmos este capítulo, ficámos com certeza que o abordámos duma forma muito sucinta, mas, ao mesmo tempo, dum modo muito sentido, por sabermos e vivermos a força que uma carta representava para nós. Esse simples pedaço de papel que tanta saudade, longínqua, encerrava dentro de si, e cuja mensagem final nos dava aquele ânimo para sobrevivermos até ao desejado dia do desembarque na Metrópole.
      ADEUS, ATÉ AO MEU REGRESSO
      (para muitos não houve regresso)

      domingo, 10 de maio de 2009

      Correio

      CORREIO
      Amadeu Neves da Silva
      C:CAÇ 1558
      O dia do correio era sem qualquer dúvida, o mais importante da semana e o que causava mais ansiedade ,alegrias e às vezes tristezas. Quando chegava era, em alvoroço que cada um de nós se refugiava na leitura das cartas e os pensamentos voavam para junto dos entes queridos. Havia ,infelizmente na CCAÇ 1558 muitos analfabetos, e isso reflectia em toda a plenitude o que era o Portugal de então. Esses “coitados” tinham que esperar e partilhar as suas alegrias e confidencias com algum companheiro mais chegado que lhes liam as cartas e escreviam as suas respostas.
      Mas, também chegavam más notícias. Recordo o desespero do “Mirandela ” quando no ILE-ERRÊGO um companheiro e seu amigo lhe leu carta onde era anunciado a morte do seu pai.


      Felizmente eu, recebi e enviei centenas de cartas. Mas entre elas há algumas que não se me apagam da memória e que as recordo com saudades dos tempos idos.

      As primeiras a surpreenderem e a comoverem foram recebidas em NAMARROI. Recebi uma fita gravadora . As mensagens gravadas dos meus pais, irmão , da minha namorada, hoje esposa e de alguns amigos incentivam-me a ter esperança visto que o tempo passaria depressa .Como foram comoventes e de enorme animo as palavras das pessoas que eu amava.


      Ainda em NAMARROI, e vindo ao escurecer duma patrulha, foi-me entregue o correio e debaixo do alpendre que servia de refeitório, entre várias cartas , houve uma que me despertou grande curiosidade . Era a primeira carta da minha jovem prima Luísa. Abri-a de imediato .Li e reli-a, e as lágrima soltaram-se. A Luísa no entusiasmo da sua juventude escreveu palavras de muito carinho e de esperança, mas o que foi mais marcante na sua carta foi o anuncio da conclusão do seu Curso Comercial.

      O aumento dos minha família , nascimento dos meus sobrinhos Jorge e Carla foi-me anunciado quando estava em Nova Coimbra Abril de 1967, e em Nova Viseu Julho de 1968. Esta com a particularidade de ter nascido no mesmo dia que eu ( 14 de Julho ).


      Em Nova Coimbra havia um dia da semana que chegava o avião D O , com abastecimentos e o bem aventurado correio. Quando por qualquer motivo o avião se atrasava era normal subirmos à barreira existente e olhava-mos o horizonte em direcção a Vila Cabral. A visão e ao audição estavam estava bem atentos e quando ao longe se vislumbrava o avião era uma festa.


      Em Miandica , o ócio, as dificuldades e as carência eram totais. Os pensamentos e as saudades vagueavam por aquele local de má memória .O reabastecimento era realizado em péssimas condições e muito irregular. E por isso as faltas de tabaco e do correio eram as que mais se faziam sentir , o que agravava o nosso estado de espírito.


      Mas ,foi lá que recebi e enviei as cartas mais sentidas e profundas e as que mais me marcaram em toda a Comissão.
      A 25 de Novembro de 1967 houve as grandes inundações na região de Lisboa . Eu, soube de madrugada pelo Rádio Clube de Moçambique do desastre. Fiquei deveras preocupado e só sosseguei quando soube que nada tinha acontecido aos meus familiares .
      Ainda em Miandica, minha prima Maria, com grande dor e em desespero , disse-me na sua carta que tinha perdido o filho que trazia no ventre e que o seu casamento não ia bem. Foi um choque .Eu que na aquele malfadado local estava extremamente fragilizado , consegui reunir força e respondi-lhe com enorme emoção e comoção. Recordo que fui capaz de lhe transmitir ânimo e vontade de forma que ela percebesse que apesar do infortúnio e dificuldades a vida continuava.
      No “Mata-Bicho” , de Maio a Julho , três Pelotões da 1558 foram deslocados para Nova Viseu. Aqui ,voltou outro pesadelo da falta de correio acrescido de o “Pré “ não ser pago ,visto que o nosso SPM estava no Alto Molócué a correspondência e o soldo vinha para esta localidade que de seguida era enviada para Vila Cabral onde ficavam retidos , porque não havia ninguém que os reencaminhasse para Nova Viseu. Foi necessário que o Capitão Delgado alugasse às nossas custas um Táxi-Aéreo para se deslocar a Vila Cabral para que a situação se normalizasse.


      Amadeu Silva

      quarta-feira, 29 de abril de 2009

      MIANDICA, O SEGREDO




      MIANDICA, O SEGREDO






      Por: Eduardo Mendonça
      C.Caç 1559




      Depois de termos percorrido a sinuosa serra do Catur chegámos finalmente a
      Nesta localidade assistimos, imediatamente após a nossa chegada ao primeiro
      acto bélico que nos deixou completamente perplexos por antevermos o que iria ser o nosso
      futuro por terras do Niassa.
      Fazendo um barulho ensurcedor, acabava de dar entrada em Vila Cabral uma
      patrulha de milícias, comandada pelo lendário Daniel Roxo, que além de vário material
      apreendido traziam também alguns prisioneiros.
      Passado algum tempo fomos informados, pelo Cap.Veiga, que um pelotão
      (reforçado) da nossa Compª iria render um outro, de Cavalaria,( C.CAV. 1607 ) sediado em
      Miandica.
      O escolhido foi o 1º pelotão comandado pelo Alf.Coelho, os Furriéis
      Milhinhos, Dias, Lacerda e nós próprios.
      Recebida a “ordem de marcha” seguimos, em coluna auto, rumo a Meponda
      povoação que pela sua situação geográfica ( junto ao Lago de Niassa) e a curta distancia de,
      cerca de 20 Kms, que a separa de Vila Cabral, se tornou antes da guerra, numa aprazível
      estância balnear.
      Nesta povoação, zona de intensa acção subversiva, encontrava-se a C.CAV.
      1601, comandada pelo actual Major Mário Tomé mais conhecido, então, por “Capitão Inglês”.
      Pelas 15 Horas do dia seguinte embarcámos em lanchas LDM que foram
      fazendo escalas a fim de deixarem as outra unidades do Batalhão.
      Nós, 1º Pelotão, desembarcámos no N`goo, pequeno aldeamento contituído
      apenas por algumas palhotas.
      Levando como bagagem a inseparável G3, cantil e 2 rações de combate,
      iniciámos, assim, a dura caminhada rumo ao grande segredo que era MIANDICA.
      Dada a nossa qualidade de estreantes no verdadeiro “palco” da guerra, à
      medida que a marcha prosseguia mais os nervos se apoderavam de nós ao ponto de desconfi-
      armos da nossa própria sombra…
      Durante a noite enquanto descansávamos, uma fortíssima trovoada caiu
      sobre nós provocando ainda mais o desânimo entre a rapaziada.
      Pelas 17 horas, avistámos o local que nos iria acolher durante 2 infindáveis
      meses.
      O barulho, de alegria, feito pelo pessoal substituído (CAV 1507) era enorme deixando-nos por isso completamente atónitos : - Como iria ser possível viver em tais condições!
      O destacamento, protegido por barreiras de terra, feitas pela máquina dum
      pelotão CEngª 1531 que ali se encontrava a laborar a construção duma futura pista de aviação,
      era constituído por abrigos escavados no chão e com chapas de zinco a cobri-los. Serviam, ao
      mesmo tempo, para o pessoal dormir. Os mais afortunados tinham como cama uma saca de
      batatas vazia, atada a dois paus evitando-se, assim, o contacto com o solo.
      A comida escasseava, pois, além de latas com chouriço, carne de porco
      Conservada em barricas com sal e pacotes de massa, alguns já com bicho, pouco mais
      Poderíamos encontrar no nosso reduzido stock alimentar.
      A água, elemento essencial para a sobrevivência de qualquer ser humano,
      também era escassa visto o local de abastecimento ser, por um lado, de difícil acesso e perigoso
      uma vez que, “Unimog” e secção de apoio terem de percorrer uma zona de pouca visibilidade,
      por outro, a água ser recolhida num riacho e os bidões de 200 L serem cheios com púcaros o
      que tornava a operação bastante morosa e perigosa.
      Certo dia, já ao cair da tarde, regressava a secção do Milhinhos ao
      destacamento, após ter efectuado a segurança à máquina de engenharia, quando foi surpreendida
      por um intenso tiroteio vindo do interior da mata. Viso que a progressão da secção ser efectuada
      em campo aberto receámos o pior, mas, graças à pronta intervenção dos elementos que se
      encontravam aquartelados, com especial destaque para o soldado mec. de engª o “Alfama”
      e o homem da bazuca de seu nome “Marinheiro”, o inimigo pôs-se em fuga, chegando os nossos amigos são e salvos.
      Recordamos ainda o dia em que tivemos a visita, inesperada, do Comandante
      do sector “A”. Provavelmente, terá sido esta a recepção mais “sui generis” de toda a sua carreira militar.
      Após verificarmos de quem se tratava, foram dadas ordens a todo o pessoal, não
      se descorando a segurança . Devidamente “ataviados” (tronco nu, em cuecas, barba e cabelos
      compridos) assim o fizemos.
      Com olhar indignado, perguntou o Ten.Cor.: Mas que é isto? Será que estou na presença de um bando de marginais?
      Depois de devidamente elucidado da forma como a ida do pelotão para
      Miandica se processou, sem hipótese de levarmos qualquer objecto pessoal, louvou-nos o Com.de Sector pelo espírito de sacrifício patente em todos nós.
      Não seria justo falarmos de Miandica e não recordar uma figura que nos
      Acompanhou desde a estação de Mutuali. Referimo-nos, ao “Leão” nome dado ao cão, de raça
      pastor alemão, que quando embarcámos na estação de comboios de Mutuali, rumo ao Niassa,
      entrou na nossa carruagem nunca mais nos abandonando. Além de excelente sentinela, era ainda
      quem nos avisava que dentro de momentos estaria a chegar a avioneta de reabastecimento.
      Infelizmente, para nós, que este alerta foi dado poucas vezes…
      Já vão longos, estes respigos sobre a nossa viagem e estadia em Miandica.
      Porém, estamos convictos que tudo o que foi escrito não passa duma pálida imagem do que foram os dois meses passados naquela região.
      Por isso, ainda hoje decorridos todos estes anos recordar MIANDICA se torna
      Um verdadeiro pesadelo!!!


      Texto transcrito da Revista nº 2 “O Batalhão” de 1996


      Eduardo Mendonça










      MORTE EM MIANDICA


      Por: António Carvalho
      CCAÇ 1558


      Fiz parte do ultimo grupo da Companhia Caçadores 1558 que foi destacado para Miandica.


      Não vale a pena descrever as más condições, a todos os níveis, que lá passámos nos 3 meses que durava o destacamento, pois isso é do conhecimento de uma grande parte dos ex-militares que compunham o Batalhão de Caçadores 1891. Desde a falta de comida, correio, tabaco que foi muitas vezes a nossa única companhia.


      Mas vou descrever um episódio, o último naquele lugar longe de tudo.


      No dia 25 de Fevereiro de 1968, estava para chegar o novo grupo de combate que nos ia substituir, para podermos regressar a Nova Coimbra já que o nosso tempo de comissão estava a terminar.


      Antes da chegada, combinamos com todos , o Alferes Quintas, que substituiu o alferes Sancho por ter sido ferido em combate, resolveu pregar uma partida aos “Checas”, trocando todos os postos, tendo ele passado a soldado e cabendo a mim o galão de Alferes.


      Quando chegaram os novos, depois de termos recebido as instruções para o novo desempenho de funções, dirigi-me ao Alferes que comandava os “Checas” e apresentei-me como sendo o Alferes Quintas.
      Todos com os Postos trocados
      Depois de uma curta conversa, comecei a mostrar as instalações, que eram fáceis de visitar, pois quase nada havia.


      Andei por cima da barreira que nos protegia, com o já citado novo comandante, explicando-lhe quais as zonas consideradas mais perigosas e de possíveis ataques.


      Passado algum tempo e conforme já previamente combinado, separei-me por uns momentos do meu interlocutor e rapidamente voltámos aos respectivos postos, coloquei os meus óculos escuros, graduados, para não ser facilmente reconhecido e então o verdadeiro alferes Quintas tomou o seu posto e foi ter com o seu homologo, contando-lhe a brincadeira a que tinha sido submetido.


      Eu fui ter com o meu colega enfermeiro que me ia render e entabulei então a conversa normal de mais Kokuana para Cheka, dizendo-lhe que a zona era perigosa, sujeita a ataques, que ainda não tínhamos tido nenhum por sorte, e que a vida ali era dura.


      Recebi como resposta “isso é conversa de Kokuanas para nos meterem medo, pois em Nova Coimbra disseram-nos que havia muitas minas pelo caminho e nada nos aconteceu” .


      Cerca das 16.50 horas, quase mal tínhamos acabado esta conversa, sofremos sim um ataque, como penso ainda não se tinha registado por ali, a partir do mato junto à pista de aterragem, com morteiros, bazucas e canhão sem recuo.


      Com a surpresa e porque os novos, segundo penso que foi essa a informação que eles me transmitiram, tinham chegado directamente da metrópole, não tendo qualquer experiencia de guerra, muitos, tiveram como reacção deitarem-se no chão não crendo no que lhes estava a acontecer.


      Coube-nos a nós, KOKUANAS, rechaçar o ataque, e não me esqueço daquele acto do nosso colega, que não me lembro o nome mas a alcunha “França” que saltou para cima da barreira de protecção e a descoberto, com raiva descarregou os carregadores da G3 para a zona de onde provinha o ataque.

      Mas, infelizmente a primeira granada que é disparada pelo inimigo cai dentro do acampamento e mata o meu grande amigo Fernandes, que era o padeiro e que ao sentir o ataque desloca-se á barraca que nos servia de abrigo, buscar a G3 e quando ia para a barreira foi atingido, ficando com a cabeça quase desfeita, (o Fernandes está na foto ao lado a almoçar e com uma caneca na mão).


      Mas o pior estava para acontecer, como o ataque tinha sido perto das 17 horas, e o inimigo também sabia, a aviação já não nos podia socorrer, embora tenha sido pedida a evacuação via rádio, ainda a 25 de Fevereiro.


      No dia 26 de manhã, apareceu o helicóptero para a fazer a evacuação, só que não havia feridos, mas um morto.


      O Alferes Quintas recebeu como resposta que não evacuavam mortos e que teríamos de o enterrar no mato em Miandica, tendo o mesmo dito que isso não faria, mas o carregaríamos mais de 40 km a corta mato, às costas, até Nova Coimbra, já que íamos regressar no dia seguinte aquele quartel para regressarmos a Portugal.


      O comandante da aeronave, penso que tocado no coração, resolveu levar, contra todas as ordens, o corpo para Nova Coimbra.




      António Carvalho
      CCAÇ 1558

      quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

      A MINHA VIDA COMO MILITAR , (recordações ,angustias, tristezas e alegrias)! !

      Recordações, Angústias, Tristezas e Alegrias




      Por Amadeu Neves da Silva

      CCAÇ 1558



      Recordo, com muita precisão, que quando estava em ÉVORA no R.I 16 e fui mobilizado para Moçambique, pouco mais era que um adolescente (20anos), alheio ao que se passava no antigo Ultramar. Não tinha noção daquilo que iria encontrar e enfrentar em África. Sendo assim, encarei com naturalidade e despreocupação a mobilização militar para a guerra em Moçambique.

      Foi em Évora que conheci o Pinto e o Garcia, dois bons companheiros. O primeiro, ainda mais novo, era tal como eu, leviano, despreocupado e inconsequente. O Garcia, mais velho, era o nosso oposto.

      Recordo, com saudade (nunca mais o vi) o Ex.alferes Pontes. Tivemos uma relação tumultuosa, respeitadora e disciplinada. Em suma, uma relação que hoje catalogo de amor e ódio. Gostava, francamente, de lhe dar um grande abraço.

      Recordo, SANTA MARGARIDA, onde fizemos o I.A.O. As incursões no velho “carocha” do Júlio a Alferrarede onde devorávamos uns belos frangos no churrasco. Foi neste Campo Militar que estreitei os laços de amizade, em particular com os elementos do Grupo de Combate a que pertenci e em geral com todos os membros da CCAÇ 1558.

      Recordo, muito bem que na véspera do embarque, o Récio que se tinha excedido na bebida e ao vomitar para a sanita perdeu a sua dentadura.

      Recordo, toda a madrugada de 29 de Abril de 1966 e a chegada a Santa Apolónia, onde a deparar com o meu pai fiquei profundamente abalado.

      Recordo, a despedida de familiares e amigos que foram marcados por cenas lancinantes na Rocha Conde de Óbidos, local do embarque.

      Recordo, o desfile e o embarque no paquete “Pátria” e à medida que nos íamos afastando do cais saíam das chaminés uns roncos medonhos que provocavam, na generalidade dos militares. Grande desconforto e tristeza, tendo sido amparado por palavras e pelo ombro amigo do Garcia. Jamais esquecerei!!!.

      Recordo, a chegada a Lourenço Marques, cidade muito bonita. Com Avenidas grandes e largas e muito bem traçadas. Mas a frieza e a indiferencia dos Laurentinos deixaram-me bastante surpreendido.

      Recordo, a chegada a NACALA, destino final da viagem marítima. Aqui encontrámos em contacto pela primeira vez com as populações autóctones. Seguimos por via férrea, que mais parecia da pré-história, até NAMIALO onde ficámos alguns dias. Com grande surpresa nossa, vimos mulheres com a cara totalmente pintada de branco e com um cigarro com a parte acesa dentro da boca. Novamente em comboio, deslocámo-nos até IAPALA para finalmente em camionetas (Machimbombos) seguirmos até ao ILE-ERRÊGO de boa memória onde ficámos até Março de 1967.

      Recordo, que inicialmente ficámos em bivaque numa antiga fábrica de algodão. Passados alguns dias fomos inaugurar um excelente quartel. Aqui no ILE-ERRÊGO houve uma grande empatia entre nós e a população civil em especial com o José Rodrigues e o Fernando Marques dos quais ainda hoje somos amigos.

      Recordo, que pouco tempo depois, duas secções do meu grupo de combate, foram deslocados para NAMARRÓI. Mais tarde, a minha secção juntou-se-lhes e aí recomeçaram os meus problemas com o Alferes Pontes. Os meses aqui passados foram muito bons, designadamente quando frequentávamos a piscina, junto à casa do Adjunto do Administrador , Graciano Nunes. As idas à Missão Católica igualmente eram muito proveitosas. Passado algum tempo retornei ao ILE-ERRÊGO, onde de novo fui muito feliz. Foram momentos de grande amizade e de camaradagem com a população civil. Mais tarde, fui transferido para o pelotão do Alferes Monteiro e fomos destacados para o GILÉ. Aqui a estada foi curta, mas ainda deu para patrulhar NICOADALA e MOMA. Esta última era uma bonita povoação.

      Recordo, que regressámos ao ILE-ERRÊGO nos finais de Fevereiro de 1967 e no início de Março todo o Batalhão foi destacado para o Distrito do NIASSA. Novamente de Machimbombo, até IAPALA e daqui de comboio até ao CATUR e novamente em Machimbombo até VILA CABRAL, com passagem pelo “célebre” caracol do CATUR. Depois, seguimos até MEPONDA, onde fomos transportados no LAGO NIASSA por lanchas da Marinha até METANGULA. De novo em coluna auto chegámos a NOVA COIMBRA.

      Recordo, que fomos encontrar em NOVA COIMBRA, uma realidade bem diferente daquela a que estávamos habituados.

      NOVA COIMBRA era um campo militar sem quaisquer condições sanitárias e de segurança. Coabitavam naquele espaço exíguo a CCAÇ 1558, CENGª 1531, que era comandada pelo Cap.Cepeda. Mais tarde, chegou a 1ª Companhia do BCAÇ 16, que tinha como missão fazer a protecção à Engenharia que estava a construir a estrada NOVA COIMBRA-LUNHO. A esta Companhia pertenciam 2 militares que se tornaram grandes ícones em todo o Niassa. Foram eles o Alferes Carvalho “100” e o na época 2º Sargento Bigone.

      Recordo, que em bivaque entre NOVA COIMBRA e o LUNHO, o Alferes Carvalho “100”, autor dos celebérrimos versos que com música dos “Vampiros” de ZECA AFONSO, tiveram entre os militares um sucesso enorme. Quem não se lembra do: são os reizinhos do Niassa todo/ senhores por escolha/mandadores sem lei/aceitam cunhas, dizem que não/passam as rondas sobre os céus do Lunho/.Quantas Mercedes Sr. Capitão/ até agora, foram fornicadas/e eu bem lhe disse que pusesse os homens/rebentando minas, fazendo emboscadas.

      De notar que estes versos foram “FEITOS” talvez em Julho de 1967, no bivaque anteriormente referido.

      Recordo, a Vivenda Fox de tão boa memória. Era uma palhota debaixo de uma frondosa árvore, nos seus ramos à noite, passeavam-se ratazanas algumas delas bem grandes. Em frente da “Vivenda”, estava o Posto Rádio e a cozinha. Quem lá dormia? Forçosamente eu, o Pinto, o Garcia, o Júlio, o Gonçalves (o que é feito dele) e o Vasco. Em suma a “nata” da 1558.Era a desorganização total, muito por culpa do Pinto e do Júlio.

      Recordo, um dia o Capitão por acaso entrou na “Vivenda”, bem entrar é um exagero, não passou da soleira. De imediato convocou-nos e depois de mais um “raspanete” mandou de imediato fazer a limpeza à palhota. À noite, ao jantar na Messe, o Júlio teve mais uma das suas infelizes ideias, leu de pé e com solenidade que na “Vivenda Fox” tinham sido abatidos ao Exército Português milhares de vários insectos. A leitura do documento tirou o Capitão do sério. De imediato mandou calar o Júlio e este arrependeu-se de tanto atrevimento. Mas, entre nós, serviu durante algum tempo de motivo de galhofa e de gozo. Lembro os esforços que o Gonçalves fazia para que o seu cão, o “Leão”, fosse “pai”. Debalde, o cão era como o dono.

      Recordo, em NOVA COIMBRA com um misto de tristeza e angústia. Vi a 22 de Maio de 1967, após o rebentamento duma armadilha seguida de uma mina anti-pessoal, o Cabo Leão morrer, O Alferes Sancho muito maltratado nas pernas, o Furriel Moutinho gravemente ferido no abdómen lutar contra a morte, que felizmente venceu. Outros 17 camaradas ficaram feridos com mais ou menos gravidade. Foi um pesadelo. Nunca tinha visto tanto sangue, dor, desespero e sofrimento.

      Recordo, um fim de tarde, encontrava-me doente, quando recebo ordens para ir com uma secção +, auxiliar uma coluna auto que tinha rebentado uma mina. Chegados lá, foi fácil concluir que era impossível trazer de volta naquele dia a viatura acidentada. A coluna prosseguiu a viagem e nós montámos a segurança da Berliet acidentada. Como era um trabalho de rotina, não levámos ração de combate. Chovia muito, éramos poucos, por isso estávamos ligeiramente dispersos. Durante a noite, fomos flagelados e ouvimos com clareza ruídos de pessoas. Via rádio, avisámos o quartel do que se estava a passar. Durante a noite tivemos algum medo e muita Angústia. De manhã bem cedo, para nosso alívio chegaram reforços e material para rebocar a Berliet sinistrada. Terminados os trabalhos dirigimo-nos com o Vasco para a viatura da frente onde já se encontrava o “Zequinha”. Pedi-lhe que fosse para a outra viatura, contrariado lá foi.

      Recordo, como fosse hoje, decorridos alguns quilómetros, passávamos uma curva perigosa e voltando-me para trás disse ao Vasco “se a Berliet acidentada passasse íamos comer ao qurtel”. Dito isto oiço um estrondo medonho e vejo a segunda viatura e o “Zéquinha” a irem pelos ares. Corremos de imediato para eles e após uma violenta troca de tiros socorremos os camaradas atingidos pela explosão da mina. O “Zéquinha” tinha a cara totalmente coberta de sangue provocado pelo rebentamento dos sacos de areia que estavam na cabine da viatura. Ao ver-nos limitou-se a dizer em completo desespero: “Ó meu furrielzinho veja como estou”. Hoje esta cena tem uma certa comicidade mas na época foi bem dramática para todos.

      Recordo, Messumba onde estive destacado com uma secção +. Estávamos numa palhota situada numa pequena elevação a poucos metros da estrada que nos levava até às residências do Padre Paul, das freiras, à Igreja Anglicana e nos conduzia até Mondué já no Lago Niassa. A segurança nocturna era feita por quatro militares, ficando um em cada extremo da palhota. Eram 23.45horas do dia 4 de Agosto de 1967. Sei as horas porque o meu relógio parou. De repente um estrondo medonho, e por cima dos que se encontravam no interior da palhota caiu matope e capim do telhado. Devido ao intenso tiroteio e lançamento de várias granadas vindas do inimigo tivemos muitas dificuldades em atingir o exterior.

      Pareceu-nos uma eternidade o tempo que durou o tiroteio. Foi um resto de noite terrível, angustiante e de medos. Ao alvorecer deparámos com a palhota parcialmente destruída e com um inimigo morto a poucos metros de nós e com muito armamento em seu poder, designadamente granadas mão. Após o reconhecimento à zona circundante, capturámos armamento abandonado e observámos muitos vestígios de sangue. O que pressupõe que o inimigo fugiu desordenadamente e com alguns feridos. Penso que se não fosse a atenção do “Manel”, estaríamos todos mortos.

      O Manuel dos Santos, natural do Barreiro era condutor da CCAÇ 1558, foi o autor do disparo que vitimou o inimigo. No nosso 25º Convívio do BCAÇ 189, fiquei a saber o que de facto aconteceu. O “Manel” não estava de serviço, mas jovem como era tinha necessidades fisiológicas e nessa noite, resolveu ir para um canto no exterior da palhota,”fazer” sexo à mão. Quando estava no acto, ouviu ruídos e de imediato disparou, e fê-lo com tanta precisão que o inimigo morreu. Foi a sorte de todos os 13 jovens que lá se encontravam. Desde sempre que estou convicto que aquele assalto estava planeado para morrermos todos ou então os sobreviventes eram aprisionados.

      Curioso, e hoje deixa-me intrigado o facto de dias após o ataque terem lá ido interrogar-nos dois agentes da DGS acompanhados pelo Major Esteves, e mais tarde, a Missão ser visitada por um Bispo Anglicano, que mostrou interesse em falar comigo e para tal convidou-me para um chá na casa do padre Paul que não estava presente. A conversa versou alguns temas, mas o ataque não foi abordado. Eu é que me senti lisonjeado pelo convite do Bispo. Mas, a angústia, essa manteve-se durante muitos dias, principalmente quando se aproximava o anoitecer, cada um de nós refugiava-se nos silêncios e nos receios e a vontade de jantar não era muita. Mais angustiados e tristes ficámos, quando soubemos que em NOVA COIMBRA o Furriel Freitas tinha morrido e o Furriel Cardoso e o 1º cabo “Cheka” António Barata tinham ficado gravemente feridos.



      Recordo, uma operação com dois grupos de combate, comandados pelos Alferes Machado e Monteiro. Operação de rotina igual a tantas outras. Indo eu à frente, de repente apercebi-me dum caminho com utilização recente e vozes de pessoas. Para não se perder o efeito de surpresa, não tivemos tempo para pensar no perigo de minas e armadilhas, corremos e entrámos de chofre no acampamento. Fui o primeiro a entrar, foi tudo muito rápido. Tiros, gritos, pânico e de repente vejo no chão e aos meus pés está uma cena que ainda hoje me atormenta. Uma criança de tenra idade com o corpo esfacelado. A sua carne tinha a coloração roseada. Nunca tinha visto. Uma mulher, presumo mãe da criança, apesar de ferida, fractura exposta numa perna, cobria com o seu aquele pequeno corpo dilacerado. Foi horrível. Alguns soldados, sob o comando do Alferes Monteiro, que tinha sido estudante de Medicina, trataram o melhor que puderam e sabiam os ferimentos da mulher. À criança, essa, a esvair-se em sangue, sabia o que fazer. A restante população estava em pânico com a surpresa e violência da acção. Finalmente, o Alferes Monteiro, num acto de grande coragem e acompanhado pelo Alferes Machado e por um soldado, levou o corpo da criança ao colo para o interior do mato. Ouviu-se um tiro. No seu regresso, passados largos minutos, somente regressaram os três militares. Todos percebemos o que aconteceu e fez-se um silêncio sepulcral. Ainda hoje a incerteza e a angústia me acompanham. Teria sido eu? Se fui, Deus sabe que foi um acidente e quanto já me penitenciei.

      Recordo, a ida para, MIANDICA. O meu grupo de combate, foi o primeiro da CCAÇ 1558 a ir para lá. Foi uma deslocação penosa visto que do Lunho para lá não havia estrada e as Berliets, que transportavam víveres e material de guerra tiveram que se embrenharem no mato até, MIANDICA. Foram muitos e vários os acidentes naqueles malfadados 40 Kms. Se não estou enganado a coluna sofreu 1 morto (cipaio) e 29 feridos.

      Recordo, MIANDICA como um pesadelo, (neste Blog está exaustivamente descrito o que era MIANDICA). Foram desumanos 0s 70 dias lá passados. M as, foi lá que em grandes diálogos com o Alferes Monteiro, percebi o porquê das suas sistemáticas fugas e desculpas em “fazer” operações. Tudo passava pelas lutas estudantis pelo seu irmão Daniel em 1962 e mais tarde as suas. Os problemas que seu irmão teve na Guiné enquanto Militar e os motivos da sua prisão para Boane em Moçambique.

      Recordo, com ternura, a leitura em conjunto de uma carta enviada de LISBOA pelo Daniel em que ele escalpelizava o belo filme (já o vi) de Jacques Tatti “As férias do sr. Hulot”.

      Recordo, que em MIANDICA tudo faltava. Desde comida, tabaco, notícias, actividade, os dias eram monótonos, cerca de 40 homens confinados a um espaço reduzido, água para a higiene diária não existia, a pouca que havia era somente para bebermos. Muito perto do acampamento, num vale profundo e de difícil acesso, corria um pequeno riacho, era aí que recolhíamos a água para bidons de 200litros. A operação era feita com poucos homens, muito demorada e os perigos eram enormes. Daí a opção da água recolhida servir somente para beber

      Recordo, que as carências eram muitas e diversas, mas uma afectou-nos e muito. Foi a falta de tabaco. Até as beatas desaparecera. O Alferes bem enviava mensagens para Nova Coimbra e para Vila Cabral, onde estava o Comando do Sector a reclamar as faltas. Em vão. Um dia poisou uma avioneta de reabastecimento, o piloto foi literalmente “assaltado” pelos seus cigarros. Foi notório o seu espanto. Um dia, e por causa do tabaco o Alferes Monteiro, pediu ao Movimento Nacional Feminino de Vila Cabral uma estátua de Nossa Senhora de Fátima. A este pedido foram rápidos, ao tabaco só o tivemos quando chegou a MIANDICA uma coluna de reabastecimento.

      Recordo, que a coluna descrita anteriormente além de reabastecimento, também trazia matéria de Artilharia pesada. Foi uma grande operação comandada pelo Cap. Delgado à Base Central do Niassa, em que foram utilizados meios aéreos, artilharia e infantaria. Os meus companheiros da 1558, mais uma vez tiveram um comportamento bastante meritório, comprovado com a captura de muito material de guerra e documentação.

      Recordo, o regresso a NOVA COIMBRA em meados de Dezembro de 1967. Foi uma longa caminhada, cerca de 40Kms, para quem estava bastante fragilizado por 70 dias mal alimentados. Fizemos uma curta pausa no quartel do LUNHO recentemente inaugurado. Como já disse, a água era um bem escasso e precioso em MIANDICA e por isso não nos lavávamos e assim quando chegámos tínhamos um aspecto andrajoso.

      Recordo, quando a companhia capturou um inimigo. O Vasco com os seus métodos “persuassivos” aconselhou-o a denunciar a sua base.

      Lá fomos poucos dias antes do Natal. A suposta base era nas proximidades do RIO LUNHO. Foi frustante, o homem andou-nos a enganar vários dias e por isso teve a sua “recompensa”. o

      Recordo, que em meados de Janeiro de 1968, finalmente fui em gozo de merecidas férias. O Capitão concedeu-me uns míseros 20 dias. Em METANGULA, apanhei o NordAtlas. Era um enorme avião de tranporte. Nunca tinha utilizado este meio de transporte. Eu era o único passageiro, no seu bojo transportava Jeeps e muitos caixotes. A sorte foi que a viagem foi curta. Chegado a VILA CABRAL, tive tempo para telefonar para a família em Lisboa. Foi uma conversa emocionante. Daqui segui para a BEIRA, cidade onde só estive 3 dias por manifesta inaptidão. Da BEIRA fui até INHAMBANE, aqui sim. Foram maravilhosos os dias passados nesta bela cidade. A população civil foi inexcedível.

      Recordo, que nos últimos dias de Fevereiro de 1968, a Companhia recebeu ordens para regressar à ZAMBÉZIA. Desta feita para o ALTO MOLÓCUÉ. O meu grupo de combate, incumbido da secção de quartéis, foi o primeiro a sair de NOVA COIMBRA, e o trajecto foi o mesmo da vinda um ano antes.

      Recordo, que chegámos na véspera do Carnaval, a população convidou-nos para os tradicionais festejos. Depois de instalados, fui com o Alf. Monteiro ao ILE-ERRÊGO , que dista cerca de 200 Kms visitar os nossos amigos. Que festa. Encontrámos o Fernando Marques já casado e o José Rodrigues sempre disponível para nos ajudar no que necessitássemos. Pernoitei na casa da família Pereira onde esquecemos as nossas missangas e a placa de identificação.

      Recordo, a notícia do soldado Fernandes, quando o seu Grupo de Combate, comandado pelo Alferes Quintas, estava a ser rendido em Miandica. Neste blog a morte está descrita na crónica de António Carvalho, “O ÚLTIMO ATAQUE A MIANDICA”. A sua morte revelou-se muito dramática. Eu conhecia bem o Fernandes e o seu percurso de vida. Era natural do Distrito de VISEU como o Pinto. Bastante jovem partiu a “salto” para terras de França. Na expectativa de poder regularizar a sua situação de clandestino naquele país, apresentou-se em PORTUGAL para fazer o serviço militar. Encontrou a morte e com ela o sonho desfeito de ter uma vida melhor em França. Foi doloroso para o Pinto, eram bastante amigos.

      Recordo, um Domingo, talvez o último de Março de 1968. Íamos jogar futebol com a Missão Católica do ALTO MOLÓCUÉ. Eu era o responsável pelo Desporto na Companhia e um dos jogadores da equipa era o “Zé” Martins. E estava convocado para jogar. De manhã na esplana da da Residencial pediu-me com muita insistência para não ir jogar, visto que partia um hunimog para uma viagem ao ILE-ERRÊGO e queria ir como condutor. A contragosto deixei-o ir. Na viagem também ia o Furriel Higino Cunha. 


                                                                                                    
                                                                          
      A este pedi-lhe que trouxesse as missangas e a placa de identificação que tinha deixado em casa da família Pereira. Morreram os dois num despiste do hunimog. Foi terrível.


      Recordo, O mês de Abril foi passado no GURUÉ, já integrado de novo sob o comando do Alferes Pontes. Foi um tempo muito bem passado. Semana sim, semana não deslocávamo-nos para o LIOMA, localidade muito próxima do Distrito do NIASSA.

      Recordo, que nos primeiros dias de Maio, foi ordenado à Companhia a ida de 3 Grupos de Combate para o NIASSA, desta feita para NOVA VISEU. Foi um choque, já tínhamos terminado a Comissão, esperávamos a todo o momento o regresso à Metrópole e afinal íamos de novo para zona de combate.

      Quem ficou no ALTO MOLÓCUÉ foi o Alferes Monteiro com os dois Furrieis “CHEKAS” que tinham chegado à Companhia em Janeiro. Não achei justo e reagi muito mal. Resignado mas não convencido e revoltado, partimos para NOVA VISEU com uma pequena estada em VILA CABRAL.

      Recordo, que durante o trajecto de IAPALA até ao CATUR, os militares residentes insinuavam que nós íamos de novo para VILA CABRAL, por castigo, devido à morte (assassínio) do Furriel Cunha. Foi um boato que nos magoava mas que tivemos que suportar. Era inédito uma Companhia vinda há 2 meses do Norte e já com a Comissão terminada, regressasse ao Norte. Algo se passou, daí até ao boato foi um pequeno passo.

      Recordo, que quando estávamos em Vila Cabral, ainda realizámos uma operação em redor da Cidade. Entretanto chegaram várias Companhias “CHEKAS” que tal como nós ficaram a aguardar transporte para as suas localidades. Os Furrieis duma dessas Companhias, quiseram afrontar-nos na Messe de Sargentos do quartel de Vila Cabral. Eles queriam comer na “1ª Mesa” nós dizíamos que esse direito era nosso por sermos mais antigos, ou seja KOKUANAS. Eles não levaram a sério os nossos avisos., sós os reconheceram quando virámos a mesa derramando a sopa por cima deles. Foi um grande MILANDO para nós. Felizmente que estávamos de partida.

      Recordo, que a ida para NOVA VISEU foi acidentada, bastante chuvosa que nos atrasou significativamente a marcha, um acidente quando um soldado manuseava uma granada de mão que felizmente não provocou vítimas. Chegados, ouvimos do Capitão da Companhia residente a ordem de “para esses gajos não há nada”. Foi uma decepção. De facto nada houve, vivemos de Maio a finais de Julho em tendas e comíamos em marmita porque nem os pratos nos emprestavam.

      Recordo, que ninguém em VILA CABRAL nos enviava víveros frescos, correio e dinheiro, em suma estávamos esquecidos e abandonados. Para obtê-los tivemos que a nossas expensas alugar um Taxi-Aéreo para que o Capitão fosse a VILA CABRAL adquirir estes bens essenciais. O correio então era fundamental. Foram dois meses de intensa actividade recompensados com a captura de matéria de guerra e recuperação de muita população. Aqui, cabe uma palavra ao exemplo do Capitão Delgado, que além de ser ferido 2 vezes em combate foi aquele em que mais operações participou, nomeadamente as mais perigosas. Ele manteve a 1558 disciplinada e aprumada e se assim não fosse a nossa ida para a INTERVENÇÃO em NOVA VISEU, tinha sido problemática e não tinha sido o sucesso que foi.
      Recordo, quando o Capitão para manter o moral das tropas o mais elevado possível, cantava connosco o”Tombe la Neije” de Adamo era engraçado nós de noite no mato Africano pedirmos que caísse neve.

      Recordo, que em termos militares a Companhia apesar das vicissitudes teve um comportamento bastante meritório com o resultado da captura de vário e diverso armamento e a recuperação de muita população.

      Recordo, o regresso, mais uma vez feito por via férrea, mas desta feita o comboio já chegava perto de VILA CABRAL. Desembarcámos de novo em IAPALA a 29 de Julho de 1968. Chegados aqui, exaustos e exangues por mais de dois meses de intensa actividade física e psicológica e enquanto esperávamos pelos machimbombos para o regresso ao ALTO MOLÓCUÉ, sentei-me despreocupado no chão. Reparo então num jovem civil, branco a olhar-me com desdém. Fiquei revoltado e furioso e só muito a custo me contive, não sem que antes lhe tivesse proferido algumas palavras feias e duras. Chegámos ao ALTO MOLÓCUÉ e dias depois o Alferes Pontes ter oferecido um jantar a todo o seu grupo, só tivemos tempo de embalar os nossos pretenses e de novo em comboio fomos de IAPALA até NACALA, onde nos esperava o “VERA CRUZ” para nos trazer de regresso à Metrópole.

      Recordo, que quando fizemos uma pequena paragem em NAMPULA, a 11 de Agosto, tivemos conhecimento que na estrada NOVA COIMBRA-METANGULA, tinha morrido o Capitão Horácio Valente da 4ª Companhia de Comandos. Ficámos tristes, conhecíamo-los por várias vezes eles terem ido combater à zona de NOVA COIMBRA.

      Recordo, na viagem de regresso a passagem por LOURENÇO MARQUES, onde tínhamos à espera vários amigos, residentes naquela Cidade, que estiveram connosco no LUNHO. Mostraram-nos a Cidade que é muito bela.

      Recordo, a paragem em Luanda, paragem técnica, esperavam-nos vários familiares que depois do almoço em sua casa, mostraram-nos a Cidade da qual além da Baía não gostei.
       Recordo, a madrugada de 4 de Setembro de 1968. Ninguém dormiu, a ansiedade era enorme. Como sou natural de Lisboa, o Capitão Delgado, incumbiu-me para acompanhar a descarga da bagagem de porão e depois enviá-las para ÉVORA.

      Recordo, que o Batalhão 1891 ficou perfilado no lado bombordo do paquete, o que era óptimo visto que esse era o lado de onde se avista LISBOA. Mas, a maré estava a encher e o “VERA CRUZ” foi forçado a atracar na ROCHA CONDE DE ÓBIDOS, com a proa virada voltada para a barra. Todo o pessoal se deslocou para estibordo, ficando no lado contrário eu e um punhado de camaradas. Como não desfilava por causa das bagagens, desloquei-me ao camarote para recolher os meus haveres. Resolvi espreitar pela vigia e a dois metros estava o meu pai (era trabalhador portuário e tinha acesso àquela zona). A surpresa foi de tal monta que caí para trás. Recompus-me e quando fui de novo espreitar já não estava lá.

      Recordo, que fui dos primeiros se não o primeiro a desembarcar e depressa vislumbrei os meus familiares. Foi indiscritível a alegria sentida a alegria sentida. Não encontro palavras para a descrever. Foi um momento único na minha vida. Jamais esquecerei o 4 de Setembro de 1968.

      Recordo, que quando ia a atravessar a Av 24 de Julho, cruzei-me com as viaturasque transportavam os meus camaradas da 1558. Numa delas seguia o meu bom AMIGO, GUSTAVO MONTEIRO. Dissemos adeus um ao outro. Foi a última vez que o vi. Que Deus o tenha em Paz.



      Este texto foi retirado da Revista nº 4 “O BATALHÃO” de 1998 e revisto e actualizado em Maio de 2011