Honra e Gloria aos que tão novos lá deixaram a vida. Foram pela C.C. S.-Manuel Domingos Silva!C.Caç. -1558- - Antonio Almeida Fernandes- Alberto Freitas - Higino Vieira Cunha-José Vieira Martins - Manuel António Segundo Leão-C.Caç-1559-Antonio Conceição Alves (Cartaxo) -C.Caç-1560-Manuel A. Oliveira Marques- Fernando Silva Fernandes-José Paiva Simões-Carlos Alberto Silva Morais- Luis Antonio A. Ambar!~

O BATALHÃO CAÇ.1891 CUMPRIMENTA EFUZISAMENTE TODOS OS QUE NOS VISITAM ..DESEJANDO A TODOS UM BOM ANO DE 2021!


José do Rosário...

domingo, 2 de julho de 2017

MOÇAMBIQUE: GUERRA COLONIAL


                           Samora Machel na liderança

Em Moçambique, quadros político-militares formados no estrangeiro foram encarregados, a partir de 1963, de preparar o início de acções armadas no interior. As primeiras traduziram-se nos ataques aos postos de CHAI, em Cabo Delgado, e de CÓBUÉ, no Niassa, em 25 de Setembro de 1964.
A guerrilha tinha realizado um trabalho de propaganda política na zona ocupada pela etnia MACONDE, estendendo rapidamente a sua acção a toda a região norte até ao rio Messalo, em especial nas áreas ocupadas por este povo de religião, que se manteria. em toda a guerra com um dos esteios principais da acção da FRELIMO.
A guerrilha em Moçambique debateu-se com muitas dificuldades. Uma foi a falta de quaddro profissinais, uma vez que, quando se iniciou a luta armada, eram muito poucos os moçambicanos com formação universirária, e outra prendeu-se com a divisão étnica e o tribalisno.
Este aspecto, mais até que os problemas sociais, condicionou muitas vezes a actividade da FRELIMO, nunca deixando de se manifestar durante o período da luta armada. De facto, as componentes étnicas dos grupos que se haviam reunido na FRELIMO continuaram a manifestar-se no seu seio, ressurgindo a UDENAMO, a UNAMI e o MANU, para além de serem criados novos grupos de base tribal.
Outro problema foi a dificuldade de avanço rápido no terreno, o que, juntamente com as duras condições da guerra a que as populações apoiantes estavam sujeitas, provocou momentos de impasse e mesmo de retrocesso, destacando-se, em especial, a crise de 1967 a 1970.
Tantos nos círculos governamentais tanzanianos, onde se situava a rectaguarda da FRELIMO, como no seio do próprio movimnto se começou a falar abertamente da substituição de EDUARDO MONDLANE, por ser demasiado moderado.
Assim, para solucionar a crise política e dar um maior impulso à guerra, foi convocado o II Congresso da FRELIMO, que se realizou no NIASSA, em Julho de 1968, o qual se caracterizou politicamente  por ter definido a luta contra Portugal como uma guerra popular prolongada, cujo objectivo último era a independência nacional. Apesar das fortes divergências, a direcção continuou, na essência, a mesma que antes, o que terá levado à deserção de LÁZARO KAVANDAME, um dos chefes MACONDES, em Abril de 1969.
Coincidindo com estes agudos problemas internos, ocorreu o assassínio do presidente do partido, 



EDUARDO MONDLANE, em 3 de Fevereiro de 1969, através de uma encomenda bomba, em DAR-ES-SALAM. A morte de MONDLANE, nunca devidamente esclarecida, tem evidentes semelhanças com AMÍLCAR CABRAL, tanto nos contornos da situação interna em ambos os movimentos, como nas leituras de situação dos respectivos serviços portugueses em cada território.
A FRELIMO ultrapassou o vazio deixado por MONDLANE com a criação de um Conselho da Presidência, encabeçado por URIA SIMANGO e integrando SAMORA MACHEL e MARCELINO DOS SANTOS. Esta fórmula de comprom isso rompeu-se, a partir de Outubro de 1969, com algumas importantes dissidências, como a de URIA SIMANGO e acabou, em Maio de 1970, com a nomeação de SAMORA MACHEL como presidente do movimento.



Foi a partir de então, em especial através da determinação de SAMORA MACHEL, que a FRELIMO reforçou a sua actividade diplomática e militar, estando, a nível político, presente nas cimeiras dos países não-alinhados e da OUA realizada em LUSACA e ADDIS ABEBA, em Setembro de 1970.
Em Outubro de 1972, o Secretariado Executivo do Comité de Libertação da OUA visitou o interior de Moçambique a convite da FRELIMO, concluindo a guerrilha exercia a soberania integral em várias zonas das províncias fronteiriças com a TANZÂNIA, numa profundidade média de 300 Kms, onde funcionavam escolas e hospitais. Esta informação foi decisiva para que a ONU, no mês seguinte, concedesse à FRELIMO o estatuto de observador.
A nível militar, o movimento concentrou o seu potencial na frente de TETE, actuando a partir de bases na ZÂMBIA ou atravessando o território do MALAWI. Em finais de 1973, os guerrilheiros chegaram ao norte do rio BUZI e começaram a penetrar nos subúrbios das cidades, de forma geral, as populações preferiram esperar o resultado da guerra, ainda que cada vez mais manifestassem o seu incómodo pela presença portuguesa.

Contínuo agravamento da situação

A situação em Cabo Delgado, em finais de 1969, era de acentuada pressão sobre os aquartelamentos militares portugueses, com a minagem dos itenerários e ataques às colunas tácticas e logísticas, tentando a FRELIMO expandir as suas acções para sul do rio MESSALO.
Espalhava-se a ideia de que o Planalto Central era zona inacessível às tropas portuguesas depois de, no final desse ano, unidades de pára-quedistas e comandos não terem conseguido alcançar as grandes bases da guerrilha - GUNGUNHANA e MOÇAMBIQUE.
Em Dezembro, dois terços das acões da FRELIMO estavam concentrados em Cabo Delgado, servindo o triangulo SERRA do MAPÉ - MACOMIA - CHAI como apoio dos guerrilheiros, no seu avanço para Sul. No primeiro trimestre de 1970 verificou-se a intensificação da guerra, com a FRELIMO a ultrapassar o rio MESSALO, em direcção ao rio LÚRIO, e a confirmação de acções em TETE/CAHORA BASSA. A actividade da guerrilha aumentou mais de 40%, continuando a caber a maior percentagem ao emprego de minas.


Samora Machel
A FRELIMO demonstrava um maior interesse pelo sector de TETE, onde se instalavam os grandes    empreendimentos económicos de CAHORA BASSA. O contínuo agravamento da situação militar e a impossibilidade de aumentar o esforços de guerra, quer em efectivos metropolitanos, quer em material de combate, levaram o general KAÚLZA de ARRIAGA, ainda como comandante do Exército, a intensificar a formação de unidades de recrutamento local, que utilizaria intensamente como comandante-chefe. Nos finais de 1969, foi criado o Batalhão de Comandos e formada a 1ª CCMDS de Moçambique. Logo em Janeiro de 1970, a Região Militar a formação dos primeiros GRUPOS ESPECIAIS de milícias, com um total de 550 homens.
Em Abril de 1970, foi referenciada a presença de SAMORA MACHEL em Cabo Delgado, para apresentar os planos de uma grande ofensiva a executar em Junho e Julho. Esta visita fez aumentar a actividade militar da FRELIMO a nível nunca igualado. De facto, enquanto no segundo trimestre de 1969 o movimento realizou 154 acções, das quais 98 foram minas, no primeiro trimestre de 1970 essas acções subiram para 685 (646 eram minas) e no segundo para 759 (652 minas).

                           Exército, Marinha e Força Aérea

Com o cenário descrito no episódio anterior, o general KAÚLZA de ARRIAGA, já como comandante-chefe, decide lançar a Operação Nó Górdio, atribuindo a sua execção ao Comando Operacional das Forças de Intervenção (COFI), criado em Novembro de 1969 para o emprego conjunto de forças do Exército, Marinha e Força Aérea em missões de grande envergadura, em situações de emergência e em operações especiais.

A preparação pode dizer-se que foi iniciada com a primeira experiência do COFI, em Maio de 1970, na condução de uma operação ao longo da estrada MUEDA - MOCÍMBOA da PRAIA, envolvendo unidades de comandos, pára-quedistas e fuzileiros, apoiados por artilharia e aviação, a qual serviu de treino ao estado-maior do COFI e permitiu aliviar a pressão sobre um itenerário fundamental para o apoio logístico à grande operação que se preparava.


Operação Nó Górdio.
Coronel Videira e General Kaúlza de Arriaga.
Entretanto, desde a tomada de posse do general KAÚLZA de ARRIAGA que o seu QG em Nampula trabalhava nos preparativos que iriam concretizar o seu conceito de manobra em acções de contra guerrilha: executar operações de grande envergadura sobre objectivos materializados no terreno, com o máximo de forças.
Para tal, processou-se intensa acção de reparação e reunião de materiais, sobretudo artilharia e auto-metralhadoras; transferiram-se depósitos de munições, combustíveis e víveres para o Norte; prolongou-se a pista de MUEDA, de modo a nela poderem operar aviões FIAT G-91, e a de NANGOLOLO, para receber NORD-ATLAS de transporte; deslocaram-se efectivos do Sul para Norte, incluindo algumas unidades em fim de comissão; receberam-se novos materiais, especialmente alguns detectores de minas e rádios; e preparou-se , finalmente, um plano de acção psicológica destinado às populações e forças portuguesas. A maioria destes meios foi reunida em MUEDA, que se transformou em enorme base de operações.

                                                A Operação

O início sa Operação Nó Górdio foi marcada para 1 de Julho de 1970, com a presença do general comandanre-chefe e do seu Estado-Maior em MUEDA, prolongando-se até 6 de Agosto. Nela participaram mais de oito mil homens, que representavam cerca de 40% dos efectivos das tropas de combate no território ( 22 mil), uma concentração que esgotou as reservas disponíveis.
O conceito da operação assentava num cerco e batida com grandes meios, prevendo o isolamento da área do núcleo central do Planalto dos Macondes, onde se encontravam as gtandes bases, através de um cerco ao longo dos itenerários MUEDA - SAGAL - MUIDUMBE - NANGOLOLO - MITEDA -- MUEDA, com a extensão de 140 Kms e, após conseguido o isolamento da área, o assalto e destruição dos principais objectivos do núcleo central: objectivo "A", base de artilharia GUNGUNHANA; objectivo "B" base provincial MOÇAMBIQUE; objectivo "C", base NAMPULA.
Clik aqui para ler a crónica: Operação Nó Górdio: A versão de quem lá esteve    Em 16-03-2015

A manobra seria apoiada no terreno com fogos de artilharia e de aviação, em acções de flagelação e de concentração sobre os objectivos. Para criar condições de aproximação a estes e actuar sobre eles, seriam organizados agrupamentos de forças para procederem à abertura simultânea de picadas em direcção aos objectivos "A" e "B", o mesmo sucedendo, posteriormente, para atingir o objectivo "C", e, por fim, previa-se manter o cerco e continuar a bater e eliminar todas as organizações referenciadas ou a referenciar. As acções militares deveriam ser conjugadas com intensa campanha de acção psicológica, para provocar a rendição e a desmoralização do inimigo.
Os agrupamentos de cerco seriam constituídos por unidades de caçadores e por unidades de reconhecimento, realizando as primeiras emboscadas em permanência, enquanto as segundas patrulhariam. Os agrupamentos de assalto disporiam de uma composição inter-armas, do tipo "task force", incluindo unidades de forças especiais, forças regulares, de apoio de fogos (artilharia e morteiros) e de engenharia. A esta cabia papel de grande sacrifício e risco na abertura das picadas tácticas, desde as estradas MUEDA - MITEDA e MITEDA - NANGOLOLO até à proximidade dos objectivos, onde seriam criadas as bases de ataque para as forças de assalto.
A operação era concebida como manobra do tipo convencional, em que se pretendia alcançar com um ataque em força o que do antecedente não fora conseguido, empregando aa surpresa.



         A FRELIMO prepara-se para guerra prolongada

A primeira tarefa militar da FRELIMO foi treinar o núcleo do seu futuro exército. Em 1963, os primeiros 50 quadros moçambicanos iniciaram o treino na ARGÉLIA, país onde se encontravam já grupos de angolanos e guineenses. A estes 50 seguiram-se mais 60.

A segunda tarefa foi encontrar um país vizinho que servisse de base à guerrilha. A TANZÂNIA foi esse país, tendo a FRELIMO instalado o seu primeiro acampamento perto da aldeia de BAGAMOYO. Em Maio de 1964, começaram a entrar armas e munições em Moçambique, destinadas à luta armada.
Os primeiros guerrilheiros entraram em 15 de Agosto de 1964 em Moçambique, vindos da base de MTWARA, para se integrarem nas matas de Cabo Delgado. Estavam organizados em três grupos, um comandado por ALBERTO CHIPANDE, para actuar nas regiões de MACOMIA e na direcção de PORTO AMÉLIA, outro por RAIMUNDO, para a região de MUEDA, e o terceiro, sob o comando de ANTÓNIO SAIDE, destinado à região algodoeira de MONTEPUEZ.
Estes grupos encontraram situação difícil no terreno, pois a morte do padre DANIEL, da missão de NANGOLOLO, que a FRELIMO atribuiu a guerrilheiros da MANU e da UNDENAMO, provocou a reacção das forças portuguesas, e os assaltos que esses guerrilheiros fizeram a cantinas de indianos levaram a que a presença desses três grupos fosse denunciada. Face a essa situação, apenas o grupo de RAIMUNDO PACHI obteve sucesso na região de MUEDA.


Raimundo Pachinuapa
Para contrariar a imagem de banditismo e credibilizar a sua acção, a FRELIMO decidiu lançar a ofensiva, que marcou o início da guerra da Moçambique, para 25 de Setembro. Segundo fontes da própria FRELIMO, nessa data o movimento dispunha apenas de 250 homens armados e equipados.
Em 1965, foram organizados as primeiras companhias que, em 1966. E, em 1967, a FRELIMO reivindicou a existência de oito mil homens treinados e equipados na sua organização militar.
Em 1966, as forças militares da FRELIMO foram reorganizadas, sendo criado um quartel-general sob a designação de Conselho Nacional de Comando, cujo chefe era o secretário do Departamento de Defesa do Comité Central.
As secções do Departamento de Defesa encontravam-se divididas em dois escalões, um em NASHIMGWEA e outro em DAR-ES-SALAM, e existiam ainda as delegações que actuavam como "antenas"em várias localidades. As  estruturas militares e político-administrativas tinham no terreno uma quadrícula de implantação sobreposta havendo domínio da estrutura militar, como demonstra o organograma da estrutura da FRELIMO. Na estrutura provincial do exército, os comandantes acumulavam com as funções de chefes provinciais e provinciais adjuntos, e existiam ainda um comissário político e um chefe operacional. 
A organização militar da FRELIMO abrangia três níveis fundamentais: estado-maior; bases e acampamentos; unidades e grupos. As bases eram constituídas pelas casas dos chefes, onde, por vezes,se guardava o armamento, com uma a três casernas, armazém de alimentos, depósitos de material, cozinha, posto de socorros e prisão.
As bases localizavam-se, normalmente, junto a cursos de água, em locais abrigados das vistas terrestres e aéreas. 
Os efectivos eram muito variáveis dependendo dos grupos e unidades que nelas estivessem instalados.

                            Bases restabelecidas

Após a Operação Nó Górdio, os órgãos políticos, militares e administrativos da FRELIMO que haviam sido destruídos ou transferidos do núcleo central do Planalto durante a operação reinstalaram-se na quase totalidade nas mesmas regiões. Foram restabelicidas as bases de LIMPOPO, Beira e NAMUNDA, as bases MOÇAMBIQUE, GUNGUNHANA e NAMPULA, e o sector da serra do MAPÉ - MACOMIA - CHAI-SUL do rio MESSALO foi reforçado com o Dispositivo de avanço para Sul, constituído pelas bases MANICA e ANTÓNIO ENES, esta com a missão de executar acções sobre a estrada MONTEPUEZ - PORTO AMÉLIA.
No NIASSA, o dispositivo militar da FRELIMO era coordenado pela base provincial GUNGUNHANA e dispunha das seguintes bases operacionais: MEPOTXE, MEPONDA, MANIAMBA (depósito de material) UNANGO; TETE, BEIRA, CATUR e LICONHIR (base de segurança).



Em TETE, a FRELIMO estruturou a sua organização militar em quatro sectores, com o seguinte dispositivo: a norte do rio ZAMBEZE e a oeste do rio CAPOCHE, dispondo de dois destacamentos no ZAMBOÉ e no ZUMBO; a este do rio CAPOCHE e a noroeste da estrada TETE - ZOBUÉ; a sul do rio ZAMBEZE; circunscrições de MOATIZE de MUTARARA.
A FRELIMO organizou ainda a 5ª FRENTE, ou Frente de MANICA e SOFALA, enquanto a organização político - militar não justificou a criação de novo sector.
Nos distritos (províncias, na designação da FRELIMO) da BEIRA e VILA PERY, a organização baseava-ae em "focos", em número de sete, em 1973. No início de 1974, o movimento preparava-se para abrir a frente da ZAMBÉZIA.
O trânsito entre as bases e o exterior do território ptocessava-se através de linhas de infiltração, que  se mantiveram relativamente estáveis ao longo de toda a guerra. As forças portuguesas procuravam impedir o trânsito de guerrilheiros, através de emboscadas e bombardeamentos, e estes tentavam passar por pontos diferentes e de forma dispersa.