Honra e Gloria aos que tão novos lá deixaram a vida. Foram pela C.C. S.-Manuel Domingos Silva!C.Caç. -1558- - Antonio Almeida Fernandes- Alberto Freitas - Higino Vieira Cunha-José Vieira Martins - Manuel António Segundo Leão-C.Caç-1559-Antonio Conceição Alves (Cartaxo) -C.Caç-1560-Manuel A. Oliveira Marques- Fernando Silva Fernandes-José Paiva Simões-Carlos Alberto Silva Morais- Luis Antonio A. Ambar!~

O BATALHÃO CAÇ.1891 CUMPRIMENTA EFUZISAMENTE TODOS OS QUE NOS VISITAM ..DESEJANDO A TODOS UM BOM ANO DE 2021!


José do Rosário...

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

AQUARTELAMENTOS DE MOÇAMBIQUE. DISTRITO DO NIASSA 1964 - 1974

América

Companhias Residentes:

Companhia de Caçadores 1669

Companhia de Artilharia 2388
Companhia de Caçadores 1714
Companhia de Engenharia 2349
Companhia de Artilharia    2327

No NIASSA a FRELIMO, a partir de determinada altura, passou a conduzir a guerrilha com duas finalidades bem distintas: Criar zonas libertadas e abrir corredores de passagem para se dirigir rumo ao Sul. A fim de travar essas linhas de infiltração foram criados alguns estacionamentos em pontos achados estratégicos, onde se aquartelavam companhias de intervenção. "AMÉRICA" foi um desses casos, pelo que em Julho de 1967 aqui acampou a Companhia de Caçadores 1669 que, a exemplo de muitos outros casos, teve de construir as suas próprias instalações, recorrendo, para isso, ao improviso. Este local foi abandonado definitivamente no início de 1969.


Bandece

Companhias Residentes:

Companhia de Artilharia 2328

Companhia de Caçadores 1798

O BANDECE, localizado no caminho que ligava MANIAMBA a VILA CABRAL, era um ponto estratégico de paragem, quer para as colunas que transitavam naquela picada, quer para os efectivos que dali partiam para diversas operações. A força estacionada no BANDECE, ao nível de Grupo de Combate, prestava segurança e controlava, ainda, a população aldeada, por sinal bastante numerosa. Contudo, de Janeiro a Junho de 1969, estacionaram no local duas Companhias em períodos diferentes e contínuos. As instalações, eram muito deficientes.

Belém

Companhias Residentes:

2ª/Batalhão de Caçadores 19


De Agosto de 1965 a Agosto de 1971, estacionou nesta localidade a 2ª Companhia do Batalhão de Caçadores 19, da guarnição normal da Província. A partir desta data, BELÉM passou a receber efectivos a nível de pelotão da Companhia sedeada em NOVA FREIXO.

Candulo

Companhias Residentes:

Companhia de Caçadores 1655

Companhia de Caçadores 2320
Companhia de Caçadores 2319
Companhia de Caçadores 2318
Companhia de Caçadores 2551
Companhia de Caçadores 2706
3ª/Batalhão de Caçadores 2706
Companhia de Caçadores 3557
Grupo Especial 104

<< E assim, pela manhã de 19 de Março de1967, uma grande coluna de viaturas,  constituída pela CCAÇ 1655 com as milícias do Roxo, larga para o desconhecido CANDULO iniciando a operação "PASSA A BOLA".Demorou-se mais de um dia  para percorrer os 110 Kms em que foi necessário parar 14 vezes para desastacar viaturas. E o que se vê? Capim! Palhotas queimadas! Uma serra e um rio!
Voltou-se a MECULA com os "trofeus". Passados dias começou então o verdadeiro êxodo da CCAÇ 1655 para o CANDULO, onde nada havia e era preciso fazer o quartel. Construiu-se um bom quartel, beneficiou-se a picada e reconstruíu-se a ponte sobre o rio CHIULÉZI, além de muitos pontõs>> (1)

(1) Extaído do livro da História do Batalãho de Caçadores 1906


Cantina Dias

Companhias Residentes:

Companhia de Caçadores 1470

Companhia de Artilharia  1542
Companhia de Caçadores 1749
Companhia de Caçadores 2409
Companhia de Caçadores 1793
Companhia de Caçadores 2390
3ª/Batalhão de Artilharia  2733
Companhia de Artilharia  3572


segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

ENGENHARIA NO NIASSA (NOVA COIMBRA ..LUNHO

Companhia de Engenharia 1531

Texto escrito por
José Artur Faria
Furriel Milº da CENGª 1531




Comandados pelo Capitão António Manuel Vilares Cepeda, a Companhia de Engenharia 1531, embarcou em Lisboa no "Vera Cruz" em 12 de Janeiro de 1966.após diversas escalas, chegou a NACALA no dia 1 de Fevereiro. nesse mesmo dia seguiu em comboio até ao CATUR onde chegou no dia 2. No dia 3 em viaturas militares e civis seguiu para  VILA CABRAL onde chegou cerca das 13h Nesse mesmo dia foi dividida em pequenos agrupamentos e enviados para MESENGUECE, LUGENDA, OLIVENÇA, TENENTE VALADIM e NOVA COIMBRA, ficando a sua sede em VILA CABRAL.
Para NOVA COIMBRA foi enviado um Grupo de Combate comandado pelo Alferes Mesquita Ramos, auxiliado pelo 1º Sargento Bastos e pelos Furrieis Milicianos Albergaria, Carvalho e Matos, com a missão de construir a Picada (24 Kms) entre NOVA COIMBRA e LUNHO, que incluía a construção de vários pontões.
A construção das picadas era vital para o Exército Português para poder progredir até MIANDICA e daqui para OLIVENÇA, onde se encontrava o Furriel Miliciano Tavares Pereira nos trabalhos de ampliação da pista para aviões Dakota, com aumento de 400x25m de faixa ensaibrada e compactada, abertura da picada OLIVENÇA/ proximidades LUGULUZIA (100 Kms) e ampliação da pista de aviação de PAULÍA com aumento de 10 M largura em toda o comprimento, acrescentando num dos topos 200M, ficando com 900x40M.
A Frelimo tudo fazia para impedir a realização da obra, daí a colocação no percurso de muitas minas anti-carro e anti-pessoal, as quais provocaram às nossa tropas 2 mortos, um da CEngª 1531 e outro da CCAV 1506 que era a Companhia residente em NOVA COIMBRA e fazia a segurança dos trabalhos. Os estragos de materiais também foram elevadas visto que ficou totalmente destruída uma Bulldozer e estragos noutras máquinas de Engenharia.
Mais um Pontão destruído
Certa noite, em NOVA COIMBRA, foi ouvido um grande estrondo. Pela manhã do dia seguinte, lá fomos apeados com um pelotão da 1506, analisar o que tinha acontecido, deparámos com a destruição dos pontões que tinhamos acabado de construír.
No terreno junto ao pontão a Frelimo colocou minas anti-pessoal que felizmente foram descobertas a tempo, porque connosco seguia um prisioneiro que conheia bem as técnicas da Frelimo e que neste pontão destruído "ver" e desmantelar uma armadilha pronta a rebentar quando nós chegássemos para reparar aquele pontão.

Em Outubro de 1966 e devido ao estragos e atraso na obra, foi ordenado que todos os elementos da CEngª 1531, se deslocassem para NOVA COIMBRA inclusive a sede da Companhia.
Assim foi feito e no meu caso pessoal, partimos de MESSENGUECE via MARRUPA, VILA CABRAL, MEPONDA onde embarcámos numa lancha directos a METANGULA. Daqui seguimos para NOVA COIMBRA.
NOVA COIMBRA era um local abandonado por Deus, instalações sem qualidade e sem população civil. A água  que usávamos era-nos facultada por um auto-tanque que percorria cerca de 10 Kms até ao LAGO NIASSA
Em NOVA COIMBRA re-iniciámos os trabalhos na picada e pontões.
Devido ao excessivo rebentamento de minas, que davam cabo dos materiais, foram-nos entrgues pela PIDE, um grupo de cerca de 20 prisioneiros que acorrentados pelos pés e unidos uns aos outros, e, com bocados de verguinha iam picando a  picada na tentativa de descobrirem e levantarem as minas detectadas. Para os abrigar, foi construída uma prisão com manilhas cheias de terra compactada, cuja porta era tapada com uma velha ambulância inutilizada, cuja traseira tapava a entrada.
Passado pouco tempo as minas na picada quase desapareceram, mas os estragos nos pontões continuaram. Nós construíamos eles destruíam. 
Pouco depois dos prisioneiros chegarem, começaram a aparecer nas redondezas do aquartelamento mulheres com crianças, que acabámos por saber que eram as esposas e filhos dos prisioneiros.
Em Maio/ Junho de 1967 parte da Companhia montou o acampamento (X) sensivelmente a meio caminho entre NOVA COIMBRA e o LUNHO. Neste acampamento estavam a CEngª 1531, a 1ª do BCAÇ16 (Viet-Beira) a fazerem a escolta aos trabalhos e a alguns elementos da 2ª CEngª. Algum pessoal desta Companhia já estava no futuro Quartel do LUNHO.
À esqª a fumar Amadeu da CCAÇ 1558, a seguir o Seixas da
1ªBCAÇ16 os 3º; 4º e 6º são da CEngª 1531, o 5ºé o Botas
da 2ª CEngª. Neste acampamento foi feito em Julho de 1967 o
Hino do Lunho pelo Alf. Carvalho "100" da 1ª do BCAÇ 16
O Alferes Carvalho "100" era uma pessoa de uma grande simplicidade e agradabilidade, com ele fabriquei cartuchos de caça utilizando as balas da G3, utilizadas da seguinte maneira:Sacávamos o projéctil , tirávamos umpouco de pólvora, tampávamos com papel higiénico húmido, espalmando o projéctil cortávamos o chumbo em bocados o mais pequeno possível, voltávamos a meter no cartucho e  tampávamos com papel higiénico húmido.
Após muita morosidade nos trabalhos, acabámos por concluir os oito pontõese a picada para o LUNHO. 
Em Setembro de 1967 a 2ª CEngª tomou posse do aquartelamento do LUNHO. Esta Companhia além de melhorar o quartel ficou com a Missão de reconstruir a Ponte sobre o RIO LUNHO
Seguimos para MARRUPA onde iniciámos a construção do quartel de Inverno da Engenharia.
Regressámos à Metrópole no final de Janeiro, embarcando em NACALA no N.M "Niassa", chegando a  LISBOA a 2 de Março de 1968.

Companhia de Engenharia 1531

Em Miandica

Texto escrito por
Eduardo Carvalho
Furriel Milº da CENGª 153


Enquanto decorriam os trabalhos na Picada NOVA COIMBRA-LUNHO a "minha" secção recebeu ordem para se deslocar para MIANDICA, onde iria ser construído um Aerodrómo e melhorar a segurança do acampamento ali existente, cujo residentes era um Pelotão da CCAV 1507. Os trabalhos de aterro demorou pouco tempo, visto que havia muita profissionalização entre nós a manobrar as máquinas. De repente e quando passávamos para o outro lado dum riacho, cujo leito estava seco e, onde já estavam as máquinas, apareceu o Serafim a gritar que não via os camaradas que manobravam as máquinas. De imediato corri para junto das máquinas e qual não foi o meu espanto quando me vi envolvido por um enxame de abelhas. De tal forma fui "atacado" que tive de ser evacuado para NOVA COIMBRA. Passados poucos dias regressei a MIANDICA
MIANDICA destroços duma DO 

Foi um pesadelo, para nós, a construção do aerodrómo era contrária aos interesses da Frelimo e, esta tudo fez para neutralizar a obra. . Recordo a voluntariedade do Serafim, quando na pista estávamos a ser atacados e as munições da bazuca estavam a acabar. O Serafim com coragem  correu para o acampamento, voltando com um saco cheio de munições. Com ele vieram 2 soldados da CCAV 1507 que foram rendidos em Março de 1967 por um Pelotão da CCAÇ 1559. Durante este tempo só fomos reabastecidos 2 vezes por helicóptero, visto que por terra era impossível. Podemos dizer que passámos fome durante vários dias.

AGRUPAMENTO DE ENGENHARIA DE MOÇAMBIQUE
Texto de. José Machado Dray, Coronel de Engenharia


Quando no início de 1967, então Tenentes, chegaram a Lourenço Marques, os Oficiais, Sá Viana  Rebelo e Machado Dray. Existia uma 1ª Companhia já levantada e com pessoal e uma 2ª Companhia também levantada, porém unicamente com algumas praças e poucos quadros. O tenente Sá Viana Rebelo assumiu o comando da 1ª CENGª, iniciando quase de imediato deslocações por Moçambique, em missões individuais diversas. Também um dos seus Pelotões rumou a TETE.                                    A 2ª CENGª por mim comandada, começou a agregar Oficiais, Sargentos e Cabos Milicianos. Se os Alferes eram da Metrópole, o restante pessoal era de Moçambique. Os soldados, com o 1º Ciclo  tirado em Boane, foram colocados na 2ªCENGª, que se transformou  em Companhia de Instrução.      
O 2º Pelotão da 2ªCENGª no LUNHO



A Meio de 1967, a 2ª CENGª já tinha destacado os 2º Pelotão para a área do Lunho e o 3º Pelotão, para em acção específica da "Operação Roaz" (transporte de lanchas da Marinha até Meponda..
Meses depois  a Companhia reuniu-se no Lunho, para o aquartelamento construído pelo 2º Pelotão.
A 2º CEngª foi sucessivamente comandada pelos Capitães José Machado Dray, Pedro Sá Viana Rebelo, António Correia Leal, António Cecílio Gonçalves Carlos Cardoso Alves , António Miranda dos Santos e João Vasconcelos Piroto.
A base da 2ª CEngª entre 11 de Agosto 1967 e Março de 1968 era no LUNHO, um aquartelamento improvisado onde este era atravessado por uma velha ponte já danificada pela Frelimo.
Trabalhos de recuperação da velha ponte do LUNHO

No entanto já desde Maio do mesmo ano se encontrava no LUNHO o 1º Pelotão da Companhia. 
A Missão da 2ª CEngª era reconstruir a ponte danificada possibilitando a circulação entre METANGULA e o extremo Norte do Distrito do NIASSA, junto ao LAGO.
Os trabalhos preparatóios tiveram início logo com a chegada do 1º Pelotão tendo-se intensificado com a chegada da totalidade da Companhia equipada quer com meios humanos, quer mecânicos, quer materiais, especialistas nas diversas áreas de da engenharia militar, máquinas de movimentação de terras, viaturas e outros meios adequados.
A segurnça da Companhia, quer em aquartelamento, quer em deslocações e trabalhos, era feita por um Pelotão deslocado da 1ª Companhia do BCAÇ 16.
Os reabastecimentos, tanto em materiais como em géneros alimentícios, eram efectuados desde METANGULA, por NOVA COIMBRA e o LUNHO objecto de flagelação constante através de minas com a conseuente destruição e avaria do equipamento que as accionava e ferimentos, alguns de gravidade, nos militares atingidos
A Ponte com mais de duzentos metros de comprimento, necessitava de beneficiação dos inúmeros pilares de suporte do tabuleiro, em alvenaria, algo danificados e da total construção do tabuleiro.
Os materiais escasseavam e não estiveram disponíveis desde o início dos trabalhos, tendo-se dado início à reparação dos pilares aguardando-se a chegada dos elementos estruturantes do tabuleiro
Trabalhos de recuperação da ponte do Lunho

Os materiais escasseavam e não estiveram disponíveis desde o início dos trabalhos, tendo-se dado início à reparação dos pilares aguardando~se a chegada dos elementos estruturantes do tabuleiro e dos elementos que iriam constituir o piso de rolamento.
A par dos trabalhos nos pilares, da edaquação do aquartelamento ao número de militares que o habitavam - uma companhia de engenharia com mais de 200 homens e um pelotão de segurança - foi dado início à construção de uma pista de aviação que se requeia operacional em algumas semanas e á abertura da picada à ponte para norte (MIANDICA).
Eram estas as três frentes de trabalho que decorreram desde Setembro até ao início das chuvas intensas em Dezembro/Janeiro de 1968.
Em Fevereiro teve lugar uma primeira grande movimentação de pessoal e equipamento do LUNHO para VILA CABRAL, onde a companhia passou a estar temporariamente sedeada, tendo permanecido, ainda, no LUNHO, dois pelotões que continuaram os trabalhos na ponte.
Na segunda quinzena de Junho, com a companhia já sob o comando do Capitão Sá Viana Rebelo, efectua-se a última movimentação de equipamento e pessoal tendo a companhia abandonado o LUNHO, para uma nova e diferente missão no LUÂNGUA.
A ponte já estava operacional desde Fevereiro permitindo a sua utilização por viaturas, tendo, embora, as vigas principais umas em madeira e outras em prfis de aço e todo o piso de rolamento em madeira
Mais tarde, já em  final de 1970, agora sob o comando do Capitão Cecílio Gonçalves, a 2ª CEngª regressou ao LUNHO, com a missão de substituir o piso de rolamento em madeira por um em betão. 

A obra apesar de muitas contrariedades provocadas pela Frelimo foi concluída em Julho de 1971
A nova ponte do Rio LUNHO
A 23 de Setembro de 1971 a Ponte foi parcialmente destruída pela Frelimo

Mas depressa se iniciaram os trabalhos da sua reparação






2ª Companhia Engenharia de Moçambique

Texto escrito por
Manuel Jorge
Furriel Milº de Engenharia

Depois de tirar em TANCOS um curso de construções de Engenharia, com mais 28 camaradas, alguns licenciados na área de Engenharia e Arquitectura, pensava eu que a guerra acabaria e que como tinha ficado num lugar razoável da-me a hipótese de não ir para as Províncias Ultramarinas. Chegou até uma colocação em Janeiro de 1973 para TOMAR onde iniciei a construção do ainda hoje Quartel da Polícia Militar. Certa tarde de Julho quando cheguei ao Departamento da DSFOM de TOMAR, tive a "linda notícia" que estava mobilizado para Moçambique. A 26 de Junho, lá vou eu em rendição individual de avião para a 2ª Companhia de Engenharia que estava em VILA CABRAL no Distrito do NIASSA. Ainda andei por lá uns dias, mas como não tinha "padrinhos" amigos....LUNHO com ele. Quando no final de Jinho aterrei num D.O. no LUNHO fiquei assim...como que paralisado, a ver o que acontecia. Só tinha visto uma coisa daquelas em livros sebentos em TANCOS, mas o que estava à frente dos olhos, era bem pior do que víamos nos filmes sobre o Vietname.
Manuel Jorge em tronco nu, no LUNHO em 1973
 O LUNHO era coisa feia, suja e desordenada....Mas enfim muita por receber mais um CHEKA. Os brancos pareciam pretos de tanto sol e esfarrapados e os pretos só lhes conseguia ver os olhos e as armas, mas muita simpatia. Foi em MIANDICA que fiquei até à reocupação do quartel. Quando lá se chegou não se contava o o quanto já ali se tinham sofrido.

Cap. António Cardoso da CCaç 4141 e o Cap. Serafim
da 1ª do CCaç 3850, junto à placa do Aeródromo de
Miandica. A foto é de 1973
Depressa escolhemos um monte mais alto para colocarmos ali uma tenda gigante aonde caberiam 2 Pelotões da CCAÇ 4141 e os homens da Engenharia que seriam tantos como as Mercedes de carga, as máquinas e eu que os comandava. à noite tinha uma vista bonita, escura mas bonita. Podíamos olhar o céu e imaginarmos tudo o que quiséssemos, podia ver o arvoredo e pensarmos que estávamos a ser vigiados pelos homens da FRELIMO. Da mata densa separava-nos uma pista de aviação, que pelas suas dimensões só poderiam aterrar pequenos aviões.
No dia seguinte recebi ordens de que era preciso alargar a picada e "esticar" a pista, para que o avião, que iria transportar Altas Patentes, que iriam fazer a inauguração da pista pudesse aterrar em segurança. Respondi que se o avião aterrasse em 700 Metros, tentaria tê-la pronta numa semana. Ao fim de três dias de trabalho o riacho que nos abastecia de água secou e a nossa vida complicou-se. Lá veio o dia que o Rancho foi melhorado (no dia anterior tínhamos comido macaco assado na fogueira) e andávamos há 15 dias a sopa de feijão, íamos ter a visita do "mandão" da Engenharia, que ao chegar reuniu comigo e prontificou-se a agraciar-me com uma medalha. Recusei de imediato e como resposta ouvi uma ameaça de prisão.
Destroços do antigo aquartelamento de Miandica. Numa das placas feitas em
 Novembro de 1967 estão os nomes do Alferes Monteiro e dos
Furrieis, Amadeu, Matos e Júlio da CCaç 1558
CCaç 1558

Em 1973 MIANDICA foi reocupada pela 2ª CEngª (Furriel Manuel Jorge) apoiados pela CCAÇ 4141, grandes amigos e camaradas a quem devo o estar ainda aqui. Após esta "reconquista" de posição militar aqui fiquei apenas algum tempo pois fui destacado para acompanhamento de obras em VILA CABRAL, talvez como prémio! Só o Sargento Ramos "O Mola Partido" saberia responder a esta questão pois a mim surpreendeu-me a minha saída daquele Monte a que chamámos "BURACO". Chamaram-me o HERÓI de MIANDICA, por ter reocupado, com barreiras de terra para nos proteger-mos, mas depois de ver este vídeo 
Os heróis fostes vós camaradas e ainda bem que neguei a medalha pois também não seria bem entregue. Hoje, depis de ver de novo o vídeo os olhos emudeceram. 
Os VENTOS DE GUERRA, amigos. De no LUNHO ter aprendido o CANCIONEIRO DO NIASSA e de ter deixado crescer o bigode para toda a vida, regressei ao quartel de VILA CABRAL por interesseira ou meritória.






segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

MIANDICA TERRA DO OUTRO MUNDO. MEMÓRIAS DE QUEM LÁ ESTEVE:


                                         

                 CLIKA PARA VERES O VÍDEO "MIANDICA TERRA DO OUTRO MUNDO

NO VÍDEO, ESTÃO TESTEMUNHOS 
DE QUEM POR LÁ PASSOU. NELE PODEM OUVIR COMO A SANTA DE MIANDICA LÁ CHEGOU

                                       Texto escrito por
Eduardo Carvalho
Furriel Milº da CENGª 1531

Enquanto decorriam os trabalhos na Picada NOVA COIMBRA-LUNHO a "minha" secção recebeu ordem para se deslocar para MIANDICA, onde iria ser construído um Aerodrómo e melhorar a segurança do acampamento ali existente, cujo residentes era um Pelotão da CCAV 1507. Os trabalhos de aterro demorou pouco tempo, visto que havia muita profissionalização entre nós a manobrar as máquinas. De repente e quando passávamos para o outro lado dum riacho, cujo leito estava seco e, onde já estavam as máquinas, apareceu o Serafim a gritar que não via os camaradas que manobravam as máquinas. De imediato corri para junto das máquinas e qual não foi o meu espanto quando me vi envolvido por um enxame de abelhas. De tal forma fui "atacado" que tive de ser evacuado para NOVA COIMBRA. Passados poucos dias regressei a MIANDICA
MIANDICA destroços duma DO 

Foi um pesadelo, para nós, a construção do aerodrómo era contrária aos interesses da Frelimo e, esta tudo fez para neutralizar a obra. . Recordo a voluntariedade do Serafim, quando na pista estávamos a ser atacados e as munições da bazuca estavam a acabar. O Serafim com coragem  correu para o acampamento, voltando com um saco cheio de munições. Com ele vieram 2 soldados da CCAV 1507 que foram rendidos em Março de 1967 por um Pelotão da CCAÇ 1559. Durante este tempo só fomos reabastecidos 2 vezes por helicóptero, visto que por terra era impossível. Podemos dizer que passámos fome durante vários dias.

As Companhias de Caçadores 1559 e 1558 em Miandica

                Texto do Livro:  Moçambique Memórias de um Combatente   
                                          de Manuel Pedro Dias
         
A CCAÇ 1559 foi a primeira Companhia do BCAÇ 1891 a enviar tropas para Miandica
 Vindos do Molumbo,no Distrito da Zambézia, a CCAÇ 1559, recebeu ordem para se deslocar para o  Distrito do Niassa.De comboio viajaram até ao Catur onde,tiveam a primeira realidade com a guerra. Em coluna auto rumaram até Meponda,que se situa nas margens do Lago Niassa.Daqui a 1559 foi transportada em lancha da Marinha (LDM)para o Cóbué destino final dCompanhia.Durante a viagem o Cap. Veiga deu ordem ao 1ºPelotão para desembarcar em NGO 

e de onde seguiriam a corta mato para MIANDICA onde iriam render o pessoal da CCAV 1505. O desembarque foi atribulado.A voz do Comandante da Lancha fazia-se ouvir:
RÁPIDO!!!RÁPIDO!!!! 
A 1559 a celebrar em Miandica (1967) o 1º Aniversário da sua Comissão
Ali, ficaram entregues ao seu destino quarenta "bravos", que iriam enfrentar uma das duras experiências das suas vidas. Como "bagagem", levaram a inseparável G3, duas catucheiras, cantil e saco de campanha com pano de tenda e e duas rações de combate,peso este já excessivo para quem tinha de enfrentar uma caminhada de dois dias através de percurso sinuoso,difícil e perigoso.
Finalmente avistámos Miandica. Era perfeitamente perceptível a vozearia que nos chegava de destacamento que, entretanto, fora alcançado. A recepcionarem-nos, não faltaram as tradicionais "camaras de TV feitas com com caixas de ração de combate,e "jornalistas" com "microfonesconstruídos com latas de conserva.
Mas nós, alheios a toda esta alegria, lançámos um olhar pelo acampamento a verificar as condições em que iríamos viver durante dois meses.
Oh!!! meu Deus o que vimos!
 da   


Ao fundo o local da "caserna"
Uma espécie de casa, exígua, sem reboco, cujos buracos serviam de refúgio aos parasitas, destinava-se a abrigar o Comando, arrecadação dos géneros alimentícios e postos de Enfermagem e de Rádio.   No centro do destacamento,mais parecendo um "monumento", seu ex-libres, encontravam-se os destroços os destroços duma velha DORNIER que tempos antes ali tinha caído. A seu lado, um conjunto unido de toscos troncos servia de porta a uma escavação, que nos disseram ser o paiol das munições. Intalações sanitária eram inexistentes e os Postos de Sentinela em número de quatro, e colocados ao nível das barreiras, tinham também a cobri-los velhas e ferrugentas chapas. Os dias, vazios, decorriam vagarosamenteJá mais resignados fomo-nos adaptando à nova realidade.


Furriel Dias junto aos destroços da Dornier
Os reabastecimentos ao destacamento ra efectuado pela Força Aérea,dado que as colunas auto-auto só tinham lugar com meses de intervalo, face à grande envergadura de que se revestiam.
As DORNIER, em voo rasante, lançavam na improvisada pista, os géneros alimentícios, correio, tabaco etc....Todos os que andaram na Guerra sabem que a chegada do correio era um excelente tónico para leventar o moral da rapaziada. A nossa correspondência ía para o Cóbué e daqui era muito difícil enviá-la para Miandica.Tal facto, originou que que estivéssemos três semanas sem receber correio.
A dada altura, a alimentação do pessoal começou a deteriorar-se de dia para dia.No "depósito de géneros"apenas restava uma mísera carne de porco conservada em barricas com sal,uns bolorentos pacotes de massa e pouco mais, ou nada.Esta situação agravou-se dado que, durante oito dias, o pessoal entrou em subalimentação quase total, o que levou os mais fracos a tentarem praticar actos de verdadeira loucura, sendo impedidos de fazer pelos camaradas mais lúcidos.
Perante a nossa insistência, via Rádio, dando conta da situação, em certo final de tarde começámos a ouvir os roncares dos motors da avioneta. Foi o delírio no acampamento. A Dornier em voo rasante lançava sobre a pista a carga que nos era destinada.
Mas, com terra ou sem terra, naquela noite houve alimentos frescos. No dia seguinte tivemos que consumir o restante, dada a falta de frigoríficos.


Ida á água em Miandica uma grande preocupação
  O abastecimento de água era outra grande dor de cabeça, visto o percurso até ao rio, que corria a cerca de um KM, ser bastante perigoso e a segurança ser feita apenas com uma secção, ficando os restantes a assegurar a defesa do destacamento. Além disso, uma outra secção estava incumbida de prestar apoio à máquina de Engenharia,que laborava no prolongamento da pista., foi atacada violentamente com intenso tiroteio de armas automáticas,vindo do interior da mata. Dada a progressão dos homens ser em campo aberto, pois avançavam na pista, receou-se o pior, até porque o inimigo tinha iniciado este ataque convicto que teria granse sucesso,visto que os nossos militares serem um alvo fácil.
Mas, bravos foram os nossos homens os quais, ripostando ao fogo do inimigo, e com a ajuda daqueles que se encontravam no destacamento,entretanto também fustigado em todas as direcções, conseguiram calar as armas adversárias.
Minutos depois entravam para cá das barreiras os nossos camaradas emboscados. Foi um momento ímpar e emocionante aquele. 
Perante o que vivemos e presenciámos em Miandica, quase somos levados a crer que a carta que Mouzinho Albuquerque escreveu em Moçambique,dirigida ao Príncipe D. Luís,foi pensada em termos de futuro e que se queria referir,certamente,àquele punhada de bravos que viveram em Miandica-

O Último soldado português morto em Miandica
Texto escrito por:   
António Carvalho
1º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 1558

Fiz parte do último grupo da Companhia Caçadores 1558 que foi destacado para Miandica.
Não vale a pena descrever as más condições, a todos os níveis, que lá passámos nos 3 meses que durava o destacamento, pois isso é do conhecimento de uma grande parte dos ex-militares que compunham o Batalhão de Caçadores 1891. Desde a falta de comida, correio, por vezes munições e tabaco, que foi muitas vezes a nossa única companhia.
Mas vou descrever um episódio, o último naquele lugar longe de tudo.
No dia 25 de Fevereiro de 1968, estava para chegar o novo grupo de combate que nos ia substituir, para podermos regressar a Nova Coimbra já que o nosso tempo de comissão estava a terminar.

Antes da chegada, combinado com todos os elementos, o alferes Quintas, que substituiu o alferes Sancho por ter sido ferido em combate, resolveu pregar uma partida aos “Checas”, trocando todos os postos, tendo ele passado asoldado e cabendo a mim o galão de alferes.


Quando chegaram os chekas, depois de termos recebido as instruções para o novo desempenho de funções, dirigi-me ao graduado que comandava os “Checas” e apresentei-me como sendo o alferes Quintas.
Depois de uma curta conversa, comecei a mostrar as instalações, que eram fáceis de visitar, pois quase nada havia.
Andei por cima da barreira que nos protegia, com o já citado novo comandante, explicando-lhe quais as zonas consideradas mais perigosas e de possíveis ataques.
Passado algum tempo e conforme já previamente combinado, separei-me por uns momentos do meu interlocutor e rapidamente voltámos aos respectivos postos, coloquei os meus óculos escuros, graduados, para não ser facilmente reconhecido e então o verdadeiro alferes Quintas tomou o seu posto e foi ter com o seu homologo, contando-lhe a brincadeira a que tinha sido submetido.
Eu fui ter com o meu colega enfermeiro que me ia render e entabulei então a conversa normal de mais velho para mais novo, dizendo-lhe que a zona era perigosa, sujeita a ataques, que ainda não tínhamos tido nenhum por sorte, e que a vida ali era muito dura.
Recebi como resposta “isso é conversa de velhos para nos meterem medo, pois em Nova Coimbra disseram-nos que havia muitas minas pelo caminho e nada nos aconteceu” .
Cerca das 16.50 horas, quase mal tínhamos acabado esta conversa, sofremos sim um ataque, como penso ainda não se tinha registado por ali, a partir do mato junto à pista de aterragem, com morteiros, bazucas e canhão sem recuo.
Com a surpresa e porque os novos, segundo penso que foi essa a informação que eles me transmitiram, tinham chegado directamente da metrópole, não tendo qualquer experiencia de guerra, muitos, tiveram como reacção deitarem-se no chão não crendo no que lhes estava a acontecer.
Coube-nos a nós, velhos, rechaçar o ataque, e não me esqueço daquele acto do nosso colega, que não me lembro o nome mas a alcunha “França” que saltou para cima da barreira de protecção e a descoberto, com raiva descarregou os carregadores da G3 para a zona de onde provinha o ataque.
Mas, infelizmente a primeira granada que é disparada pelo inimigo cai dentro do acampamento e mata o meu grande amigo Fernandes, que era o padeiro e que ao sentir o ataque desloca-se á barraca que nos servia de abrigo, buscar a G3 e quando ia para a barreira foi atingido, ficando com a cabeça quase desfeita, (o Fernandes está na foto anexa a almoçar e com uma caneca na mão.



Mas o pior estava para acontecer, como o ataque tinha sido perto das 17 horas, e o inimigo também sabia, a aviação já não nos podia socorrer, embora tenha sido pedida a evacuação via rádio, ainda a 25 de Fevereiro.
No dia 26 de manhã, apareceu o helicóptero para fazer a evacuação, só que não havia feridos, mas um morto.
O alferes Quintas recebeu como resposta que não evacuavam mortos e que teríamos de o enterrar no mato em Miandica, tendo o mesmo dito que isso não faria, mas o carregaríamos mais de 40 km a corta mato, às costas, até Nova Coimbra, já que íamos regressar no dia seguinte aquele quartel para regressarmos a Portugal.
O comandante da aeronave, penso que tocado no coração, resolveu levar, contra todas as ordens, o corpo para Nova Coimbra.

O meu relato do último ataque a Miandica

Texto escrito por
José Marins
Soldado Radiotelegrafista da CCAÇ. 1558

Corria o mês de Fevereiro de 1968, um domingo antes do Carnaval, quem escreve estas linhas lia o livro, de título “ Sob o nevoeiro” enviado pelo Movimento Nacional Feminino, sentado no posto de vigia a noroeste do destacamento, quando vejo aparecer um branco de camuflado, com a G3, arrojada pela terra, e muito cansado. Grito-lhe, não dás nem mais um passo… e porquê esta minha atitude… ( nas vésperas tínhamos recebido informação dum golpe de mão perpetrado por brancos num destacamento contra nós na zona de Cabo Delgado, O sujeito bem berrou que era do pelotão que nos vinha render,,, começaram a chegar mais militares e pouco depois começou um forte de bombardeamento, por uma arma nunca usada contra nós naquela zona, o canhão sem recuo. Depois, sofremos a última baixa em combate, o soldado Fernandes.

Companhia de Caçadores   4141                                                                                       

                                         Texto de Bernardino Peixoto, 
                                              Soldado da CCAÇ 4141

Quando terminou a minha função de guarda, fui em direcção da caserna e deitei-me  na minha cama fumando mais um cigarro e escrevendo um aerograma para a minha noiva que muitas saudades já tinha,chegou ao Lunho a primeira parte do pessoal e de máquinas da 2.ª C. de Engª de Moçambique. O restante pessoal e material chegaram nos dias 29 e 30 de Junho de 1973. 
A C.cac.4141 de imediato suspendeu todas as operações para fazer a protecção à 2.ª C. Eng. 
A Operação Intervalo teve por finalidade a construção de uma picada do Lunho para Miandica e aqui reconstruir um novo aquartelamento. 
Durante a Operação Intervalo, um grupo de guerrilheiros da FRELIMO atacou com armas automáticas  e emboscaram uma viatura da nossa companhia sem consequências.
A viatura seguindo a sua marcha detectou uma mina anticarro  que de imediato foi levantada. No percurso detectámos  duas minas anticarro que de imediato foram levantadas. 
 Durante os trabalho de reconstrução do aquartelamento de Miandica os guerrilheiros da FRELIMO atacaram-nos por diversas vezes. Capturámos uma espingarda automática, uma mina anti-carro, 7 porta granadas de canhão sem recuo e não tivemos baixas.
A  FRELIMO  atacou a companhia de engenharia que se encontrava a "desatascar" uma viatura na picada do Lunho para  Miandica.
De regresso ao Lunho uma viatura berliett da C.caç.4141  na picada de Miandica para o Lunho accionou uma mina anticarro a qual ficou praticamente destruída. Nessa viatura viajava algum pessoal que felizmente só tiveram  ferimentos ligeiros. 
A picada do Lunho para Miandica começou a ficar intransitável sendo o pessoal reabastecido por  Helicóptero.
A CCAÇ 4141 foi rendida no Lunho pela CART 7260 em Março de 1974

Os Últimos Soldados Portugueses naquele inferno

                                                       Por: António Caldas
                                                     Soldado da CART 7260

A 20 de Março, o 2º Pelotão da CART 7260, comandado pelo Alferes Lourenço e acompanhados por alguns militares da CCAÇ 4141, saíram do aquartelamento do Lunho e seguiram a pé pela picada até Miandica. Por todo o caminho, viam-se buracos feitos por minas, pendurados nas árvores restos de pneus, pedaços de ferro retorcido e aros de jantes de viaturas militares destruídos pelas minas.
Paisagem do outro mundo, paisagem de guerra, paisagem do inferno, visão de meter medo a quem como nós acabados de chegar da Metrópole. Se o Lunho tinha fama de ser o inferno, nós estávamos para lá do inferno.
Depois de algumas horas de marcha, chegámos a uma nascente de água
barrenta e cansados ouvimos um camarada dizer: ainda faltam 10 Kms. Olhei na direcção que ele apontava e vi um bocado de madeira agarrado a um pau que indicava MIANDICA 10Kms. Perdemos a pouca força que tínhamos e alguns deitaram-se no chão. Era mentira!!!. Cerca de 500 metros à frente, lá estava o acampamento de Miiandica. Eram 16h do dia 20 de Março de 1974.

Abrindo caminho para esgotar a água

Depois de 6 horas de marcha pela picada, onde a cada passo se viam sinais de de uma guerra terrível. Eis MIANDICA, a mítica Miandica, nome de mulher, doce no falar, mas temida por todos, entranhou bem fundona alma e corações  dos Combatentes que por lá passaram. Mas para a grande maioria que lá viveu e a sentiu será sempre MIANDICA TERRA DO OUTRO MUNDO.
Na visita guiada dentro do acampamento, deparámos com três tendas e um muro de terra em volta. Os velhinhos (Kokuanas) informaram que para Norte, nem um passo, são as zonas libertadas. A Oeste havia um antigo acampamento que tinha sido abandonado em 1968 e com ele uma pista de aviação. Tudo estava coberto de capim. Era perigoso lá ir devido à possibilidade de minas
 Restos do acampamento,
que foi construído nos finais de 1966  
pela  CENGª  1531, e abandonado a 3 de Abril de 1968


A Sul é aonde se podia ir á lenha e lá havia uma nascente de água barrenta. Era necessário filtrá-la com dois lenços. O banho era tomado na nascente com uma lata de ração de combate. Devido ao único Unimog existente estar inoperacionais íamos a pé uma vez por semana a picar a picada para detecção de minas. Íamos ao encontro dos camaradas que estavam no Lunho e que nos levavam os géneros alimentícios e o correio. O local do reencontro era uma grande árvore que ficava a meio caminho. Dias e noites, foram passando, manhã ir à água à tardinha ver o espectáculo dos macacos, que passavam a norte de este para oeste em grandes bandos, à noite era dormir com a G3 na mão, era rara a noite que os sentinelas, não davam alarme, quase sempre do lado sul , penso que eram animais, eu nunca vi luzes à noite, era o medo que fazia os meus camaradas verem luzes, muitas foram as vezes, que a minha respiração e o meu coração quase pararam, para que eu pudesse sentir e ver com os ouvidos, era naquelas noites escuras que eu sentia, MIANDICA penetrar no mais profundo do meu ser.


A 28 de Março, o 4º Pelotão que nos ia abastecer, localizou e desactivou uma mina anti-carro com dispositivo anti-pessoal.
Sexta Feira 5 de Abril de 1974, grande ataque ao Lunho. Neste dia entregou-se à sentinela uma jovem mulher autóctone. Depois de várias peripécias, o Capitão Salaviza deu por bem enviá-la no dia seguinte de helicóptero para Vila Cabral para ser interrogada pela PIDE.
Ao anoitecer desse dia começou a cair “chuva” de granadas de morteiro 122 sobre o Lunho. Os dois obuses 14 não paravam de “vomitar” fogo. O Capitão pediu ajuda à aviação, como era de noite esta não foi enviada. Vila Cabral resolveu enviar os GES que estavam aquartelados em Nova Coimbra. Era de noite e eram 17Kms que separavam estes dois aquartelamentos. . Já havia poucas munições de obuses e de morteiro 80. No Lunho só estavam o 3ª e 4º Pelotões e face à ferocidade do ataque e à escassez de pessoal, o Capitão chegou a dar ordens para fugir para Nova Coimbra.
Os GES ainda se deslocaram para o local de onde os homens da Frelimo atacaram o aquartelamento, mas estes já tinham debandado e só encontraram vários rastos de sangue e muitas cápsulas vazias de muitas armas de fogo.
Em Miandica assistíamos ao cruzar de bombas sem nada poder fazer. 
 No dia seguinte, recebemos em Miandica, o 1º Pelotão comandado pelo Alferes Raposo que andava em patrulha na zona.
Durante toda a manhã ouvimos os helicópteros mas nunca os vimos. O Alferes Raposo com o seu Pelotão, sem qualquer apoio, resolveu ir para o Lunho, eram cerca de 24 Kms entre estes dois aquartelamentos.


Lunho. O Caldas com um guerrilheiro da Frelimo
Nesse dia não entendi a não intervenção da Força Aérea.
Sexta Feira 12 de Abril 1974, veio ordem para abandonar Miandica. A ordem dizia que só podíamos levar as G3 e objectos pessoais, o restante seria abandonado, tendas, utensílios de cozinha e o velho Unimog.
EM MIANDICA, FICou MUITO SANGUE, SUOR E LÁGRIMAS DE MUITOS SOLDADOS PORTUGUESES!!!.

Nota do Administrador do Blog. O Comando de Sector,determinou,em 3 de Abril de 1968,a extinção do destacamento de Miandica por se saber  da intenção da Frelimo atacar,com grande efectivos,a pequena força da NT.

Amadeu Silva- C. Caç. 1558

Os Pelotões que permaneceram em Miandica.

A Companhia de Cavalaria 754 (7 de Espadas) e a Companhia de Artilharia 637, andaram na região de Miandica. A 7 de Espadas levou muita pancada nesta região (havendo mortos enterrados na zona, cujas campas foram vistas por militares da CCAÇ 1559 ( ver vídeo em cima). A 637 teve acampamento em Miandica -a-Velha.


Miandica

22/9/1966 --- Pelotão da CCAV. 1507 do BCAV. 1879
15/3/1967 --- 1º Pelotão da CCAÇ 1559. --- 8 de Maio ataque aos homens da pista.
18/5/1967 --- 3º Pelotão da CCAÇ 1559 .--- A 18 e 19 de Maio sofre violentos ataques sem consequências.
17/7/1967 ---4º Pelotão da CCAÇ 1559 --- Sem incidentes, apenas a entrega de um guerrilheiro da Frelimo.
22/9/1967 --- 1º Pelotão da CCAÇ 1558. Este Pelotão participou na Operação "CARAVANA 1". Reabastecimento de Miandica. No percurso Lunho - Miandica foram accionadas duas minas anti-carro.
02/12/1967 --- 2º Pelotão da CCAÇ 1558. Em 25 de Fevereiro de 1968, dia da redenção, por um Pelotão da CART 2325, a Frelimo fez um violento ataque ao destacamento que provocou a morte ao soldado António Fernandes da CCAÇ 1558.
24/2/1968. Um Pelotão da CART 2325 que se mantém em Miandica até ao seu abandono a 3 de Abril de 1968.
Em Maio de 1973 um Pelotão da CCAÇ 4141, acompanhado por pessoal da 2ªENGª. foi para Miandica para iniciar os trabalhos do novo aquartelamento.
20/3/1974 --- 2º Pelotão da CART 7260, ali permaneceu até 12 de Abril de 1974, quando mais uma vez este aquartelamento foi abandonado.

A reocupação de Miandica em Maio de 1973 foi feita com o objectivo de controlar a região, o que não aconteceu na primeira ocupação.
Na segunda ocupação as instalações eram tendas de campanha. Foi aberto um poço para abastecimento de água. O fornecimento de pão era feito do seguinte modo: Saía um um grupo de Miandica em direcção ao Lunho e daqui outro em direcção a Miandica. Encontravam-se a meio caminho para fazer a entrega do pão que era para oito dias.