Este texto é da autoria de João de Sousa e foi publicado no:
Blog:Bigslam.PT
No dia 28 de Outubro de 2015
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No dia 28 de Outubro de 2015
Já lá vão 41 anos. Era segunda-feira. Logo pela manhã, deviam ser 8 horas, caminhava de casa para o meu local de trabalho. Quando chego à esquina da Rua da Sé com a Rua da Rádio, (onde se situam as Telecomunicações de Moçambique) começo a ouvir tiros que vinham do jardim Vasco da Gama (hoje, Tunduro).
Não sabia o que fazer. De repente vejo que o local está cercado por elementos fardados que não eram da Polícia. Eram guerrilheiros das FPLM. Eram comandados por alguém que me pergunta: “para onde vais”? Eu disse para onde ía. “Então vai, sempre encostado ao muro”.
Fui. Eu e alguns colegas meus que estavam na mesma situação. Conseguimos entrar no Rádio Clube.
O comandante que dirigia aquela “tropa” era o saudoso Aurélio Manave.Esse grupo de revoltosos, que semeou luto e dor, pretendia ocupar uma vez mais (a primeira foi a 7 de Setembro) a Rádio.
Dum lado os descontentes armados. Do outro as FPLM, que naquele momento, tinham como principal preocupação guarnecer o RCM bem como os CTT, ali ao lado da rádio.Durante grande parte da manhã desse dia, foi uma verdadeira aflição ouvir todo aquele tiroteio. Por vezes, consoante a força do estrondo, dava a impressão que os tiros vinham do interior da própria Rádio.Na altura eu estava nos Serviços Redactoriais, sector onde se redigiam as notícias e se produziam os boletins noticiosos, que ficava situado no rés-do-chão do edifício. Era (foi) um martírio. Não conseguíamos a concentração necessária para escrever uma única notícia que fosse.Mas não era só na Rádio que as coisas aconteciam. No “Notícias” também, como me contou e eu transcrevo, o meu colega e amigo Yussuf Adam:
“Estava lá dentro quando começaram os tiros. Saí pelas 17 horas e tive que ir levar uma mensagem ao Quartel General. Tinha que falar com o camarada Cabo. O recado era para o camarada Mouzinho, o chefe do grupo de guerrilheiros que defendia o “Noticias”. Na carta pediam-se reforços, Das 13 às 17 horas, enquanto os tiros continuavam na rua, o Areosa Pena recolheu as pessoas para o interior do Sector de Revisão do jornal. Estavam lá dentro o Guilherme de Melo, a Maria Helena, o Carlos Alberto e mais alguns colegas. A sala estava cheia. No meio do tiroteio o Guilherme de Melo chorava. Ele sabia que aquela Sétima Companhia de Comandos,(NOTA DO BLOG: Não era a 7ªCCMDS, mas sim, a 4040 CCMDS) que se encontrava acantonada no Parque de Campismo, a aguardar embarque para Lisboa, ía provocar aquele distúrbio. Mesmo assim trabalhámos durante toda a noite, com um número muito reduzido de profissionais. A “linotype” foi manobrada pelo “rodas baixas”. Na manhã do dia seguinte saímos do jornal com a edição na mão”.
Na baixa da cidade, a arcada do Prédio “Nauticus” acabou por se transformar numa verdadeira carreira de tiro. Muitas pessoas, tal como me contou o meu antigo colega do RCM, Ricardo Branco, esconderam-se na “Poliarte 2” um estabelecimento de venda de discos que se situava naquela Arcada e onde hoje funcionam escritórios da Companhia de Seguros EMOSE.
“Provocados por um grupo descontrolado de comandos do exército Português que contaram com o apoio de agitadores brancos e pretos, esses acontecimentos acabaram por ser dominados pelas forças populares da Frelimo e por unidades militares portuguesas mas, apesar desta colaboração íntima e eficaz, a maneira criminosa como a situação surgiu e evoluiu originou a morte, a destruição e a miséria em muitos lares da capital e suas zonas suburbanas”.
Elementos da 4040 CCMDS |
Um comunicado conjunto do Alto Comissário da República Portuguesa ( Almirante Vivtor Crespo) e do Primeiro Ministro do Governo de Transição (Joaquim Chissano) publicado na terça feira dia 22 de Outubro de 1974, por sinal data do seu trigésimo sexto aniversário, detalava minuciosamente o que acontecera e acrescentava: " esses agitadores responsáveis, brancos e negros, serão severamente punidos"
Estes são recortes da nossa própria História
21 de Outubro de 1974
Quarenta e um mortos e 88 feridos graves é o trágicobalanço dos graves acontecimentos ocorridos em Lourenço Marques e subúrbios na passada 2ª feira. Provocados por um grupo descontrolado de comandos do exército Português que contaram com o apoio de agitadores brancos e pretos, esses acontecimentos acabaram por serem dominadaos pelas forças populatares da FRELIMO e por unidades militares portuguesas mas, apesar desta colaboração íntima e eficaz, a maneira criminosa como a situação surgiu e evoluiu originou a morte, a destruição e a miséria em muitos lares e da capital e sua zonas suburbanas.
Um comunicado conjunto do Alto Comissário da República Portuguesa e do Primeiro Ministro do Governo de Transiçaõ publicado na 3ª feira detalhava minuciosamente o que acontecera e acrescentava que esses agitadores responsáveis, brancos e negros, serão severamente punidos....Mais adiante....É pois contra estes agitadores - ao serviço de Joana Simeão, Simango, Murrupa, Gwengere, etec...que a população de Lourenço Marques tem que estar atenta e firme, indicando-os às autoridades à menor preocupação.
Por outro lado, é urgente que os comités de partido e militantes da FRELIMO desencadearam uma acção acelarada de politização das massas nesse sentido. Para que acontecimentos não se voltem a repetir, nunca mais. Diz um militante da FRELIMOna área do Bairro do Choupal: "Os que provocaram distúrbios e mortes são aqueles que têm ouvidos surdos, são, neste momento, as forças reaccionárias, são os maiores inimigos do povo. A FRELIMO diz: Deixem de beber. Mas eles continuam a beber e, em filas vergonhosas, compram caixas de cerveja não só para beberem mas também para vender mais caro. Mais caro do que na cantina e no bar. A FRELIMO diz: A luta não é contra os brancos. A luta é contra o sistema. Eles não querem ouvir e gritam "Vamos matar todos os brancos. Todos os brancos são reaccionários. A FRELIMO diz: "Sejam vigilantes mas não proviquem distúrbios". Mas logo que surge uma oportunidade as cantinas voltam a ser assaltadas, viram-se carros ao contrário e são queimadas pessoas dentro deles sem a mais pequena hipótese de poderem sair dos carros. (publicado na revista Tempo em 27 de Outubro de 1974). Resta dizer que todas as pessoas queimadas dentro dos automóveis eram brancos. Resta ainda dizer que a exemplar decolonização não levou em conta Joana Simeão, Uria Simango e outros dissidentes da FRELIMO, que tinham alguma força na altura do acordo de Lusaka. Não foram consultados. O acordo fez-se como se os outros não existissem. O Acordo de Lusaka fez parecer o tempo em que Oliveira Salazar dizia que quem não estivesse ao lado do governo era Comunista. O governo português da altura agiu assim, da mesma forma de um sistema que tanto foi condenado por aqueles que fizeram o acordo. A isto se chama sede de poder. Os Comandos que provocaram ou não toda a situação do 21 de Outubro, nesse mesmo dia à noite embarcaram com destino a Lisboa. A mortanda continuou, porquê? O que a FRELIMO, deixa saber por exemplo de Joana Simeão, é que foi traidora e reaccionária, a história o revelará. Joana Simeão era caso ímpar, uma mulher de fibra. asendo macua, foi dissidente da FRELIMO, provavelmente, estará nisto a traição de Joana Simeão.
Vem esta conversa a propósito do 35º Aniversário da independência de Moçambique. Joana Simeão foi um caso, deu um grande contributo para a emancipação da mulher moçambicana. A arma desta mulher foi a sabedoria. Assim sendo, só podia ter um fim: Morreu assassinada pela FRELIMO. E Mondlane?
Estes são recortes da nossa própria História
21 de Outubro de 1974
Texto publicado por zeparafuso em 10 de junho de 2010, no blog:
zeparafuso-zeparafuso.blogspot
Quarenta e um mortos e 88 feridos graves é o trágicobalanço dos graves acontecimentos ocorridos em Lourenço Marques e subúrbios na passada 2ª feira. Provocados por um grupo descontrolado de comandos do exército Português que contaram com o apoio de agitadores brancos e pretos, esses acontecimentos acabaram por serem dominadaos pelas forças populatares da FRELIMO e por unidades militares portuguesas mas, apesar desta colaboração íntima e eficaz, a maneira criminosa como a situação surgiu e evoluiu originou a morte, a destruição e a miséria em muitos lares e da capital e sua zonas suburbanas.
Um comunicado conjunto do Alto Comissário da República Portuguesa e do Primeiro Ministro do Governo de Transiçaõ publicado na 3ª feira detalhava minuciosamente o que acontecera e acrescentava que esses agitadores responsáveis, brancos e negros, serão severamente punidos....Mais adiante....É pois contra estes agitadores - ao serviço de Joana Simeão, Simango, Murrupa, Gwengere, etec...que a população de Lourenço Marques tem que estar atenta e firme, indicando-os às autoridades à menor preocupação.
Por outro lado, é urgente que os comités de partido e militantes da FRELIMO desencadearam uma acção acelarada de politização das massas nesse sentido. Para que acontecimentos não se voltem a repetir, nunca mais. Diz um militante da FRELIMOna área do Bairro do Choupal: "Os que provocaram distúrbios e mortes são aqueles que têm ouvidos surdos, são, neste momento, as forças reaccionárias, são os maiores inimigos do povo. A FRELIMO diz: Deixem de beber. Mas eles continuam a beber e, em filas vergonhosas, compram caixas de cerveja não só para beberem mas também para vender mais caro. Mais caro do que na cantina e no bar. A FRELIMO diz: A luta não é contra os brancos. A luta é contra o sistema. Eles não querem ouvir e gritam "Vamos matar todos os brancos. Todos os brancos são reaccionários. A FRELIMO diz: "Sejam vigilantes mas não proviquem distúrbios". Mas logo que surge uma oportunidade as cantinas voltam a ser assaltadas, viram-se carros ao contrário e são queimadas pessoas dentro deles sem a mais pequena hipótese de poderem sair dos carros. (publicado na revista Tempo em 27 de Outubro de 1974). Resta dizer que todas as pessoas queimadas dentro dos automóveis eram brancos. Resta ainda dizer que a exemplar decolonização não levou em conta Joana Simeão, Uria Simango e outros dissidentes da FRELIMO, que tinham alguma força na altura do acordo de Lusaka. Não foram consultados. O acordo fez-se como se os outros não existissem. O Acordo de Lusaka fez parecer o tempo em que Oliveira Salazar dizia que quem não estivesse ao lado do governo era Comunista. O governo português da altura agiu assim, da mesma forma de um sistema que tanto foi condenado por aqueles que fizeram o acordo. A isto se chama sede de poder. Os Comandos que provocaram ou não toda a situação do 21 de Outubro, nesse mesmo dia à noite embarcaram com destino a Lisboa. A mortanda continuou, porquê? O que a FRELIMO, deixa saber por exemplo de Joana Simeão, é que foi traidora e reaccionária, a história o revelará. Joana Simeão era caso ímpar, uma mulher de fibra. asendo macua, foi dissidente da FRELIMO, provavelmente, estará nisto a traição de Joana Simeão.
Vem esta conversa a propósito do 35º Aniversário da independência de Moçambique. Joana Simeão foi um caso, deu um grande contributo para a emancipação da mulher moçambicana. A arma desta mulher foi a sabedoria. Assim sendo, só podia ter um fim: Morreu assassinada pela FRELIMO. E Mondlane?
Eduardo Mondlane e Uria Simango |
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